Vaticano: «A posse de armas atómicas é imoral», afirmou o Papa no discurso ao Corpo Diplomático

Francisco alertou para a III guerra mundial em curso e renovou o apelo ao fim do «conflito insensato» na Ucrânia

Foto Vatican Media

Cidade do Vaticano, 09 jan 2023 (Ecclesia) – O Papa recebeu hoje o Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé e alertou para a III guerra mundial em curso, apelou ao fim do “conflito insensato” na Ucrânia e disse que “a posse de armas atómicas é imoral.

“Ainda hoje, infelizmente, se evoca a ameaça nuclear, fazendo precipitar o mundo no medo e na angústia”, disse Francisco no discurso ao Corpo Diplomático no encontro de Ano Novo.

“Sob a ameaça de armas nucleares, todos somos sempre perdedores! Todos!”, afirmou.

O Papa disse que é “particularmente preocupante o impasse nas negociações sobre o reinício do Plano de Ação Integral Conjunto, mais conhecido como Acordo Nuclear do Irão”, desejando “que se possa chegar, o mais rápido possível, a uma solução concreta para garantir um futuro mais seguro”.

Na audiência ao representantes dos Estados, o Papa disse que o “exemplo mais próximo e recente” da III guerra mundial que está em curso é o conflito na Ucrânia e “o seu rasto de morte e destruição” com “ataques a infraestruturas civis, as pessoas acabam por perder a vida devido não só às bombas e violências, mas também à fome e ao frio”.

“Não posso hoje deixar de renovar o meu apelo para que se faça cessar imediatamente este conflito insensato, cujos efeitos afetam regiões inteiras, mesmo fora da Europa pelas repercussões que tem no campo energético e no domínio da produção alimentar, sobretudo na África e no Médio Oriente”.

Francisco lembrou que “a guerra atinge particularmente os seres humanos mais frágeis – crianças, idosos, pessoas deficientes – e dilacera indelevelmente as famílias”.

O Papa alertou que a III guerra mundial, num mundo globalizado, não afeta apenas as regiões da terra envolvidas em confrontos, mas envolve todas as pessoas, e referiu as várias geografias onde perduram “cenários de tensões e conflitos”.

Francisco referiu-se com “amargura para a Síria como “uma terra martirizada”, disse que a Santa Sé “acompanha também com preocupação o aumento da violência entre palestinianos e israelitas com o resultado dramático de muitas vítimas”, afetando sobretudo a Cidade da Paz, Jerusalém, e apelou à “coexistência pacífica” e à “liberdade de culto nos Lugares Santos”.

Espero que as autoridades quer do Estado de Israel quer do Estado da Palestina possam reencontrar a coragem e a determinação de dialogar diretamente, a fim de implementarem a solução dos dois Estados em todos os seus aspetos, de acordo com o direito internacional e as várias resoluções atinentes das Nações Unidas”.

O Papa referiu-se à viagem que vai realizar como “peregrino da paz” à República Democrática do Congo, no fim do mês deste janeiro, “com a esperança de que cessem as violências no leste do país”, assim como ao Sudão do Sul, onde vai estar com o arcebispo de Cantuária e o moderador geral da Igreja Presbiteriana da Escócia.

“Juntos, desejamos unir-nos ao grito de paz da população e contribuir para o processo de reconciliação nacional”, afirmou.

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Francisco lembrou “outras situações onde continuam a pesar as consequências de conflitos ainda não resolvidos”, nomeadamente na situação meridional do Cáucaso, no Iémen, na Etiópia e na África Ocidental, “cada vez mais assolada pelas violências do terrorismo”.

“Penso, especialmente, nas tragédias vividas pelas populações do Burkina Faso, do Mali e da Nigéria e faço votos de que os processos de transição em curso no Sudão, Mali, Chade, Guiné e Burkina Faso decorram no respeito das legítimas aspirações das populações envolvidas”, acrescentou o Papa, lembrando também a situação do Myanmar e na península coreana.

Ao concluir o seu discurso, o Papa disse que “todos os conflitos põem em evidência as consequências letais dum contínuo recurso à produção de novas armas cada vez mais sofisticada”, acrescentando que “é preciso erradicar esta lógica e avançar pelo caminho dum desarmamento integral, porque nenhuma paz é possível onde alastram instrumentos de morte”.

A Santa Sé tem atualmente relações diplomáticas com 183 estados, desde a União Europeia à Soberana Ordem Militar de Malta; no ano de 2022, em agosto, a Santa Sé afirmou acordos bilaterais com a República Democrática de São Tomé e Príncipe e com a República do Cazaquistão.

No discurso ao Corpo Diplomático, o Papa quis recordar também “o facto de a Santa Sé e a República Popular da China, no quadro dum diálogo respeitoso e construtivo, terem concordado em prorrogar por mais dois anos a validade do Acordo Provisório sobre a nomeação dos Bispos, estipulado em Pequim no ano de 2018”.

PR

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