Diretor-adjunto do núcleo do Porto da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa considera que «ainda não se fez uma reflexão séria sobre o estudo da Teologia em Portugal»
Porto, 13 dez 2024 (Ecclesia) – O diretor-adjunto do núcleo do Porto da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa defendeu hoje, em declarações à Agência ECCLESIA, que a Teologia é cada vez mais relevante no diálogo entre os saberes.
“A Teologia faz-se a partir da realidade, e tem de ser uma resposta cristã à realidade que nós vivemos”, afirmou o professor Abel Canavarro, no âmbito do Dia Nacional da Faculdade de Teologia 2024, celebrado no Centro Regional do Porto.
Segundo o docente, a novidade de Jesus e a enculturação do Evangelho são fundamentais para que haja comunhão e para, como diz o Papa, “construir a casa comum” e desenvolver “a fraternidade universal”.
O responsável considera que “ainda não se fez uma reflexão séria sobre o estudo da Teologia em Portugal”.
“Ainda pensamos muito a partir da nossa realidade e do imediato, e não tentamos ver, às vezes, um bocadinho mais longe. E penso que esta questão da reflexão teológica é fundamental, porque tem a ver também com os padres que nós queremos para o futuro”, destacou.
O diretor-adjunto do núcleo do Porto da Faculdade de Teologia fala na importância de sair dos contextos em que cada um está inserido e de se deixar interpelar por outras realidades.
“Esta reflexão tem que ser na Igreja, a Igreja no seu todo, enquanto Conferência Episcopal, e depois também, claro, nas várias dioceses, nas suas identidades, porque não se trata de criar uniformidade, mas trata-se de construirmos esta riqueza na diversidade”, referiu.
O professor Abel Canavarro salientou ainda a capacidade de cada um olhar um pouco à realidade e às necessidades que se colocam “desde a formação de professores”, “o empenhamento das comunidades cristais”, resultando “numa interligação maior”.
“Isto penso que é possível e é um desafio que temos pelo futuro”, assinalou.
Sobre a iniciativa de reunir os estudantes de Teologia em Portugal, que este ano o Porto acolheu, o docente referiu que o objetivo, tendo também em conta a nova dinâmica da Faculdade de Teologia a nível nacional, é que todos possam “também constituir e ganhar mais consciência de corpo, de Igreja”.
“E, sobretudo, de percebermos que, para além do espaço onde nós estamos, há também mais mundo, mais reflexão teológica que é preciso fazer e também recebermos interpelações para depois podermos dar respostas”, desenvolveu.
O programa do Dia Nacional da Faculdade de Teologia inclui uma sessão sobre “Os desafios da economia à reflexão teológica”, conduzida pelo professor Alberto de Castro, da Católica Porto Business School, e a entrega de cartas de curso de licenciatura e mestrado.
A tarde é dedicada à visita à Fundação de Serralves, que começa às 14h20, e às 17h realiza-se a Eucaristia na Igreja Paroquial de São João da Foz, presidida pelo bispo do Porto.
Quanto aos desafios que se colocam à reflexão teológica, o diretor adjunto do núcleo do Porto da Faculdade de Teologia defende que são necessários consensos na área do debate e da reflexão, “mas há realidades” das quais não se podem “abdicar”.
O docente destaca o “saber escutar” como uma das grandes dificuldades da Igreja, incluindo entre formadores, defendendo a abertura de pensamento e de coração para poder ouvir.
“Só assim é que nós, então, também nos podemos levantar questões e ultrapassar tantas vezes o eu e aquilo que eu penso, que eu acho e o que eu quero, para chegar àquilo que nós queremos e aquilo que é melhor para a comunidade, que nem sempre é, também, o melhor ou mais conveniente para mim”, assinalou.
Rui Soares terminou este ano o mestrado em Teologia e frequenta uma formação avançada de Teologia prática no centro do Porto. “Nós vamos daqui com bagagem cheia da teoria que temos também de saber aplicar depois no terreno e na pastoral”, afirmou o aluno, da Diocese do Porto. Rui Soares destaca um “percurso muito bom” na universidade, com “altos e baixos, como faz parte da vida de qualquer estudante universitário”. “Aqui no Porto é muito interessante perceber que a Teologia não é posta de parte”, salientou, realçando ainda o acolhimento dos estudantes. Flávio Gouveia, da Diocese de Vila Real, está no 1ºano de mestrado, e refere que o facto de o ensino da Teologia “estar numa universidade” e não fechado “na formação de seminários” possibilita a abertura a leigos ou outras congregações que possam ingressar neste tipo de cursos. “O facto desta remodelação do curso de divisão entre licenciatura e mestrado causou uma condensação na licenciatura das matérias, que causa alguma dificuldade, porém não é impossível e exige muito esforço da nossa parte em conciliar os tempos para haver um grande ritmo de estudo”, indicou. O aluno considera que em Portugal o “curso é um pouco esquecido, talvez pelas ideias mais liberais da laicização do Estado”. |
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