Solidariedade: Campanha de Natal da AIS quer ajudar crianças da Síria com blusões «para poderem resistir neste inverno»

Iniciativa solidária pretende apoiar mais de 27 mil crianças carenciadas

Foto: Fundação AIS

Lisboa, 20 dez 2023 (Ecclesia) – A Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) tem este ano uma campanha de Natal dedicada a ajudar as crianças da Síria, território em guerra há 12 anos, através da compra de blusões para enfrentarem o inverno rigoroso no país.

“São 27.590 crianças. Nós não vamos dar nem brinquedos, nem telemóveis, nem smartphones, nem nada disso, até porque não teria grande utilidade na Síria, mas vamos dar camisolas, camisolas que são para crianças, para poderem sobreviver, para poderem resistir neste inverno. Estamos a este ponto, digamos, do grau quase zero da humanidade”, afirmou Paulo Aido, jornalista e elemento do secretariado português da Fundação AIS, em entrevista à Agência ECCLESIA.

Com o lema “Um Natal mais quente”, a iniciativa tem como figura a irmã Annie Demerjian, que apoia diariamente as famílias cristãs da Síria e que é parceira de projetos da AIS, nomeadamente em Alepo, Homs e Damasco, apelando este ano por um gesto solidário.

“Treze euros, uma camisola, é uma criança que não vai ter frio no inverno. É uma equação muito simples, mas que faz toda a diferença neste Natal de 2023”, assinalou Paulo Aido.

A Diretora da Fundação AIS, Catarina Martins de Bettencourt, descreve, após uma viagem de trabalho à Síria para acompanhar o andamento no terreno dos projetos de apoio à comunidade cristã, que “a vida das pessoas está praticamente suspensa”.

“A miséria é tão grande, os salários que recebem são tão baixos, a inflação é tão alta que as pessoas deixaram ter acesso aos bens essenciais para poderem sobreviver. Portanto, a maioria das pessoas vive em casas sem qualquer condição, não têm possibilidades de comprar os bens essenciais para o dia a dia”, denuncia a entrevistada, que acrescenta que são os elementos da Igreja no local que apoiam a comunidade.

“O que nós sentimos é que existem verdadeiros anjos, digamos assim, que são, de facto, as pessoas que fazem a diferença na vida das famílias: os padres, as irmãs, com muitos voluntários jovens”, que tentam “suprimir as faltas do dia-a-dia, nomeadamente a parte da medicação, a parte da alimentação e continuar a apoiar os filhos”, destaca a dirigente da AIS.

O jornalista Paulo Aido revela que os relatos que “chegam da Síria são dramáticos” e lamenta o facto de esta ser “uma guerra que está esquecida para o mundo”: “Infelizmente os prazos de validade das guerras são uma coisa muito estranha, porque as guerras continuam, mas deixamos de ouvir falar delas”.

“As pessoas pedem-nos ajuda para sobreviverem no dia-a-dia, porque para além da guerra em si, das consequências dramáticas do que aconteceu na Síria, há também as sanções económicas que têm sido impostas ao regime de Bashar al-Assad, por parte dos EUA e da União Europeia, que estão a sufocar a economia da Síria, ou seja, para além de tudo aquilo que aconteceu, neste momento mesmo que os sírios queiram, digamos, reabilitar a sua economia, não conseguem fazer”, explica.

Catarina Martins de Bettencourt defende que “a Igreja é o ponto central na vida desta comunidade”, uma vez que é a partir dela que “conseguem encontrar o essencial para manter os seus filhos menores vivos, para continuar a manter a família viva”.

A AIS dá conta que a vida da Síria está nas mãos das mulheres “sobreviventes, lutadoras, valentes, fiéis, dedicadas”, uma vez que “os homens são obrigados a ir para a guerra” e os “filhos são obrigados a ir para o exército”, esclarece Catarina Martins de Bettencourt.

“Estas mulheres acabam por lutar contra tudo e contra todos”, salienta.

A Fundação pontifícia mantém-se este ano focada no Médio Oriente, nomeadamente na Síria, Líbano e Terra Santa e que nas regiões se encontram elementos da Igreja “para tentar levar até eles os bens essenciais para poderem sobreviver nesta altura”.

Sobre o relatório que publicam com regularidade sobre perseguições religiosas, Paulo Aido refere que “a Fundação AIS lida diariamente com pedidos de ajuda de milhares de pessoas que são refugiadas ou estão deslocadas, estão a viver em campos de refugiados ou deslocados, porque foram perseguidas e obrigadas a fugir por motivos religiosos”.

“Há pessoas que ficam na pobreza mais absoluta, que perdem tudo o que tinham, porque foram perseguidas. E depois é preciso ajudar essas pessoas, é preciso libertar o mundo para esta realidade”, apela.

“Todos eles precisam de paz, todos eles precisam de paz para um novo começo e esse é o nosso pedido”, conclui a presidente da AIS.

A entrevista a Paulo Aido e Catarina Bettencourt foi transmitida esta quarta-feira, no Programa ECCLESIA, na RTP2.

PR/LJ

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