Sínodo: Participação das mulheres deve partir «da consciência da Igreja» e não de «um tema jornalístico» – Abade da Ordem Cisterciense

«Inclusão» no Sínodo dos Bispos tem contrariado «paternalismo e assistencialismo» que pessoas com deficiência sentem na Igreja; caminho conjunto «entre pares» tem permitido «aprender e desaprender» no percurso «belo para toda a Igreja»

Foto: Ricardo Perna

Cidade do Vaticano, 14 out 2023 (Ecclesia) – O padre Mauro Giuseppe Lepori, abade da Ordem Cistercience, que participa no Sínodo dos Bispos, pediu que a participação das mulheres na Igreja seja considerada a partir da “consciência da Igreja” e não “como um tema jornalístico”.

“O importante que está a ser considerado é a participação das mulheres na vida da Igreja, reconhecendo a sua dignidade batismal. Começa-se a falar do diaconado, creio que do sacerdócio das mulheres ainda não. Mas o importante não é enfrentar este tema jornalístico, mas a partir da consciência da Igreja, da vocação do homem e da mulher na Igreja, do que significa o sacramento da ordem. Isso implica uma abordagem profunda e pacífica”, referiu o responsável, presente na primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que decorre no Vaticano.

O abade da Ordem Cisterciense foi convidado a integrar a assembleia como representante da vida monástica e, na conferência de imprensa de hoje, na deu conta de mudanças “metodológicas” desde o sínodo de 2018.

“O sínodo de 2018 tinha outra metodologia, não havia o sentido de caminho comunitário. E os círculos pequenos à volta de uma mesa ajudam à participação, de diálogo e continua a ativar a escuta e a palavra dita. Implica relação, conhecer as pessoas”, referiu.

O padre Mauro Giuseppe Lepori deu conta que na Ordem cisterciense “monges e monjas integram a mesma ordem e no governo, abades e abadessas fazem parte do capítulo geral, sem distinção”.

“Achei que podia contribuir com a minha experiência”, indicou.

“Como monge estou a aprender muito deste sínodo. Sou chamado a uma conversão, tal como vocês. Vim preocupado com o que devia dizer, mas ao contrário, percebo que o mais importante é aquilo que o Espírito dirá. Estou a converter-me a uma escuta em que percebo que a escuta do outro diz-me a verdade, leva-me a escutar a verdade, mesmo que seja algo com que não concordo. Mas leva-nos a uma unidade mais profunda. E isso torna-me mais responsável no que acredito e digo. Está a criar-se uma comunhão de fundo, que nos enche de esperança. Estamos a rumar a algo belo para toda a Igreja. É importante dar tempo, silêncio e espaço para que haja uma conversão ao que Deus quer e não ao que está nos nossos projetos”, acrescentou.

A Irmã Dolores Palencia Gomez, da Ordem de são José de Leon, foi presidente delegada nos trabalhos desta manhã e falou da experiência de se sentir em comunhão.

“Fiquei sentada ao lado do Papa, na mesma mesa, e dei-me conta que este é o modo vivente para sempre, uma corresponsabilidade forte que emerge deste Sínodo, que sai do nosso batismo. É um convite a estar atenta”, sublinhou.

Religiosa há mais de 50 anos, a trabalhar com migrantes na América central e do sul, referiu as jornalistas que o temas das migrações nunca será abordado de forma “suficiente”, reconhecendo ser muito diferente viver na pele ou ser testemunha.

“Espero que o silêncio nunca chegue. Que o clamor dos migrantes seja ouvido para que os membros da Igreja se tornem responsáveis para que se consiga chegar às autoridades. É uma responsabilidade do ser humano”, sublinhou.

Sobre o percurso sinodal que está a ser realizado, que a religiosa integra desde o sue início, referiu ser um caminho de “escuta muito atenta, de aprender e desaprender”.

“É um símbolo de abertura e do desejo da Igreja, que nos vê peregrinos no mesmo percurso, que nos coloca a todos o mesmo nível: o papel da mulher, o carisma que oferecemos – são pontes deste percurso sinodal que hoje ecoa com mais força”, reconhece.

Na conferência de imprensa que faz o briefing diário dos trabalhos na XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, Enrique Garcia, presidente da Frater, em Espanha, uma fraternidade que congrega pessoas com deficiência, disse que inclusão “não foi um gesto de ternura, mas uma forma de tornar acreditável o processo da sinodalidade”.

“(O Papa) perguntou-nos como nos sentíamos, o que achávamos da Igreja. Quais as nossas dificuldades? Foi um momento de maravilha, porque antes nunca nos tinham perguntado. Aqui em Roma é evidente, não conseguimos entrar nas igrejas por causa das barreiras arquitetónicas, isso é algo comum para nós. Quando vimos «inclusão» entre as palavras-chave da Igreja sentimos «será possível?» porque estamos acostumados a ser marginalizados, ao paternalismo, ouvimos dizer que Deus gosta tanto de nós que nos deu uma cadeira de rodas para a vida inteira. O assistencialismo vai além do processo sinodal”, indicou.

O responsável da fraternidade disse que, no regresso, os participantes no Sínodo não mais vão olhar para as pessoas com deficiência da mesma forma.

“Aqui no sínodo, em nenhum momento encontrei gestos de paternalismo. Na sala sinodal estamos todos ao mesmo nível, cardeais, padres, leigos, pessoas com deficiência – isso mostra que com a sinodalidade a Igreja deseja ir em frente, onde todos vão ter espaço, chamados a uma obra evangelizadora”, concluiu.

A primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos decorre até 29 de outubro, com o tema ‘Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão’; Francisco decidiu que a mesma terá uma segunda etapa, em 2024.

A assembleia sinodal tem 365 votantes – 54 mulheres – a quem se somam, sem direito a voto, 12 representantes de outras igrejas e comunidades cristãs (delegados fraternos), oito convidados especiais e colaboradores da Secretaria-Geral do Sínodo.

Outras 57 pessoas, entre elas 20 mulheres, vão participar como peritos, à imagem do que acontecia no passado, ou “facilitadores”, ou seja, “pessoas especializadas cuja missão é facilitar os trabalhos nas diferentes fases”, sem direito a voto.

A Conferência Episcopal Portuguesa está representada no Sínodo pelo seu presidente e vice-presidente, D. José Ornelas e D. Virgílio Antunes, respetivamente.

LS

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