Sínodo: Diocese de Viseu quer «reorganizar» estruturas a partir da sinodalidade

Dificuldades de compreensão da linguagem da Igreja, envelhecimento do clero e das comunidades, marcam processo sinodal que «entusiasma quem deseja mudanças»

Viseu, 02 ago 2024 (Ecclesia) – O padre João Zuzarte, coordenador da Comissão para os Trabalhos do Sínodo dos Bispos da Diocese de Viseu, entende que o processo “não tem retrocessos” mas necessita “envolver o clero” e todos os leigos para “renovar as comunidades”.

“Nós queremos reorganizar e repensar as estruturas diocesanas e isto pode ser também uma ajuda preciosa para que se criem elos e uma reflexão mais aprofundada sobre a necessidade de trabalharmos cada vez mais unificados, mais juntos, em unidade uns com os outros”, indica o responsável à Agência ECCLESIA.

Uma renovação assente “não na falta de padres” mas numa “perspetiva de envolver o maior número de pessoas”, sejam leigos, consagrados, sacerdotes, que “possam ajudar a tornar as comunidades mais vivas” e dar lugar a uma “renovação”.

“A estrutura diocesana, os secretariados, falo mesmo da parte mais burocrática, mas estou a pensar nas próprias paróquias, na forma como são colocados os padres: na diocese temos clero envelhecido, temos uma área bastante grande, mas também as paróquias estão muito envelhecidas e há uma disparidade muito grande entre zonas”, reconhece.

“Eu vou intuindo que, de facto, ainda há muito caminho para fazer. Sentindo que há essa abertura, também há aqui um fator importante a ter em conta, que é a motivação do clero. Muitas vezes, se não tivermos os padres motivados, alinhados com todo este processo de mudança da Igreja, torna-se mais difícil na liderança de orientar as pessoas”, lamenta.

O padre João Zuzarte indica faltar “alegria, mais espontaneidade, mais espaço para o novo”, caminhos que desafiem a espiritualidade e “o encontro com Jesus”.

“Viver a igreja é fazer este encontro especial com Jesus Cristo e deve ser esse o centro e a preocupação da nossa atividade e também da nossa ação na pastoral da igreja e basicamente é isso, é preciso arriscar caminhos e não haver tanto medo como nós tantas vezes encontramos”, explica.

O responsável gostaria ainda de ver “maior unificação dos bispos”: “Sou apologista de que mesmo na projeção pastoral para a Igreja em Portugal devia ser apenas um projeto em que todas as dioceses participavam e depois era adaptado em cada diocese de acordo com a sua realidade. Eu penso que facilitava também aos padres, porque os ajudava a libertar da tensão da quantidade de compromissos e trabalhos que têm”.

Foto: Diocese de Viseu

O processo sinodal lançado pelo Papa Francisco em 2021, querendo uma escuta alargada de forma a caminhar para uma Igreja “mais missionária, em comunhão e participada”, encontrou na diocese de Viseu “entusiasmo” e “motivação”, sobretudo, indica, o padre João Zuzarte, “entre as pessoas que desejam mudanças e não se reveem em determinados modelos pastorais”.

Procurando que a escuta envolvesse todos, a equipa da diocese de Viseu sentiu necessidade de simplificar a linguagem, reconhecendo que esta é “difícil de ser lida e interpretada”.

“Até para quem participa na Igreja, nós tivemos a clara noção disso: achamos que estamos a falar para pessoas que falam a mesma língua que nós e depois percebemos que afinal não. Há um trabalho a ser feito para mitigar o analfabetismo bíblico, doutrinal, litúrgico e depois também capacitar as pessoas para estas leituras”, refere.

A barreia da linguagem afasta também as pessoas dos documentos de trabalho que servem de base de trabalho para a reflexão do Sínodo dos Bispos.

“Os documentos não são muito estudados e as pessoas, mesmo alguns padres, só se debruçam sobre o tema em algum encontro ou formação, quando o tema é explicado”, lamenta.

Reconhecendo que “o processo sinodal vai deixando marcas”, mesmo quando “não representam uma revolução visível ou esperada”, o padre João Zuzarte identifica “maior abertura e renovação na forma de desempenhar tarefas”.

“A sinodalidade é muito fácil de dizer, mas é difícil de aplicar e de viver, porque exige maior abertura, exige humildade, exige empatia e as pessoas, os leigos, os padres, o povo de Deus, têm que estar sintonizados com este processo”, finaliza.

O programa Ecclesia, na antena 1, ao sábado, procura aferir a forma como o processo sinodal decorre em cada uma das dioceses em Portugal; a conversa com o padre João Zuzarte vai estar no centro do programa emitido este sábado às 6h.

LS

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