Sínodo 2024: Processo lançado pelo Papa «soltou» a palavra de quem espera novo modelo de Igreja – Rui Saraiva

Coordenador do projeto Rede Sinodal em Portugal diz que experiência da XVI Assembleia Geral pode inspirar resto da sociedade, com mais espaço para o diálogo e a escuta

Rui Saraiva

Porto, 25 out 2024 (Ecclesia) – O jornalista Rui Saraiva, coordenador do projeto Rede Sinodal em Portugal, disse à Agência ECCLESIA que o processo sinodal, lançado pelo Papa, permitiu alargar a participação das “bases” das comunidades católicas e definir um novo “modelo” de Igreja.

“A partir das bases, a partir das paróquias, dos grupos, foi solta a palavra e agora vai ser difícil calar essa mesma palavra das bases e de todas as expectativas que foram sendo geradas”, refere o correspondente da Rádio Vaticano.

A assembleia sinodal, que decorre até 27 de outubro, com o tema ‘Por uma Igreja sinodal: participação, comunhão, missão’, começou com a auscultação de milhões de pessoas, pelas comunidades católicas, em 2021; a primeira sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo decorreu em outubro de 2023.

“Quando se lança um processo em que se ouve as bases e se procura abrir o mais possível o discurso, numa primeira fase, é perfeitamente natural que haja dissonâncias e, sobretudo, expectativas que se criam”, indica Rui Saraiva.

O entrevistado considera “evidente” que este “não era um Sínodo para pensar a doutrina, mas sim para perceber como se pode trazer mais pessoas à participação”.

O coordenador da Rede Sinodal em Portugal aponta a um “novo modelo que, desde logo seja mais simples, menos hierárquico, que seja mais próximo”, contando com todos os católicos para “um trabalho mais horizontal e em processo concertado”.

O jornalista cita a reflexão surgida na rede sobre uma ideia de “sinodalidade civil”, fazendo extravasar esta metodologia para outros âmbitos.

“Pode perfeitamente ser uma forma de trabalho noutro tipo de organizações não confessionais, porque creio que o grande o segredo, digamos assim, está no querer caminhar em conjunto”, precisa.

A ideia de “sinodalidade civil” partiu do jornalista e investigador em Ciência das Religiões, Joaquim Franco, para quem “a dinâmica proposta pelo Papa para este Sínodo é de uma tão ambiciosa e desafiante ousadia que vai muito para lá do contexto eclesial”.

“A escuta e o diálogo com o propósito do bem comum é também um desígnio, permitam-me a expressão, de uma sinodalidade civil, uma nova forma de desencadear o discernimento”, declara o membro da Rede Sinodal em Portugal, citado pelo portal de notícias do Vaticano.

Admitindo resistência aos processos sinodais nas dioceses, como foi assumido por membros do clero, Rui Saraiva considera que esse modelo ainda tem de ver construído.

“Se as bases querem ter maior participação, se as queremos chamar à participação, não será, com certeza, para lhes dar ordens”, aponta.

Relativamente ao futuro, após a conclusão da segunda sessão, o entrevistado dizer ser “fundamental que surja algo que permita a aplicação da dinâmica sinodal, no concreto”.

Quanto aos projetos da Rede Sinodal em Portugal, Rui Saraiva sublinha que o objetivo principal é “envolver pessoas” e promover a participação, para promover e divulgar todas as dinâmicas sinodais, criando “sinergias”.

“Trazer pessoas para participar, mesmo que tenham tantíssimas dúvidas sobre a Igreja, sobre Jesus Cristo, mas que se sintam tocados por esta possibilidade”, aponta.

Outro objetivo passar por “estimular as comunidades com momentos de formação e de relação”.

A entrevista vai estar em destaque na próxima emissão do Programa ECCLESIA, na Antena 1 da rádio pública, pelas 06h00, ficando depois disponível online.

OC

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