Sínodo 2024: Especialista convida a superar «visão minimalista da consulta»

Primeiras sessões dos fóruns teológico-pastorais abordaram papel dos bispos e dos vários membros das comunidades católicas

Foto: ©synod.va/Lagarica

Roma, 10 out 2024 (Ecclesia) – Os membros da XVI Assembleia Geral do Sínodo participaram, esta quarta-feira, nas duas primeiras sessões dos fóruns teológico-pastorais, uma novidade do programa deste ano, ouvindo um apelo a superar a “visão minimalista da consulta” na Igreja.

“A atual disciplina dos institutos sinodais e dos órgãos de participação revela uma visão minimalista da consulta”, disse Donata Horak, professora de Direito Canónico no Estudo Teológico Alberoni de Piacenza (Itália), uma das conferencistas convidadas.

Para a especialista, “há uma resistência à participação do povo de Deus, que ultrapassa mesmo os limites do direito.

“Se o Código [de Direito Canónico] fosse, pelo menos, executado em todas as suas possibilidades, teríamos uma Igreja muito mais viva e participativa; por exemplo, os concílios particulares (plenários e provinciais), que têm poder deliberativo, ficaram quase sem uso”, indicou a responsável do Conselho de Presidência da Coordenação dos Teólogos Italianos (CTI) e secretária da Coordenação das Associações Teológicas Italianas (CATI).

A assembleia sinodal, com o tema ‘Por uma Igreja sinodal: participação, comunhão, missão’, começou com a auscultação de milhões de pessoas, pelas comunidades católicas, em 2021; a primeira sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo decorreu em outubro de 2023.

A Cúria Geral dos Jesuítas acolheu o fórum dedicado ao tema ‘O Povo de Deus como sujeito da missão’, que também contou com a presença de Thomas Söding, docente na Faculdade de Teologia Católica da Ruhr-Universität Bochum (Alemanha), antigo membro da Comissão Teológica Internacional (Santa Sé).

O responsável, vice-presidente do Comité Central dos Católicos Alemães (ZdK), destacou que, nos últimos anos, aumentaram as expectativas dos leigos que desejam contribuir de forma ativa e madura para a vida da Igreja: “Esperam ser ouvidos e exigem mais transparência”.

O padre Ormond Rush, professor associado na Universidade Católica Australiana, campus de Brisbane, falou num “duplo risco”, quando se fala de sinodalidade: ver nela um processo “meramente democrático” ou um processo “meramente consultivo”, refere o portal de notícias do Vaticano.D. Lúcio Andrice Muandula, bispo da Diocese de Xai-Xai (Moçambique), sublinhou na sua reflexão que a Igreja deve superar uma atitude autorreferencial.

“Não se trata apenas de realizar um serviço de manutenção da comunidade cristã, mas de entrar em diálogo com o mundo”, apontou.

No outro encontro teológico-pastoral do dia, o Instituto Pontifício ‘Augustinianum’ acolheu uma sessão sobre “O papel e a autoridade do bispo numa Igreja sinodal”

O professor Carlos Maria Galli, catedrático da Faculdade de Teologia da Universidade Católica da Argentina, falou dos bispos como “irmãos” e “amigos”, sublinhando a novidade conciliar que vê “no episcopado, no ‘nós do povo de Deus’, a realização da Igreja na sua peregrinação no mundo”.

Já o cardeal eleito Roberto Repole, arcebispo de Turim (Itália), recordou que os documentos do Concílio Vaticano II enquadram “o ministério ordenado em termos precisos” e como “serviço à Igreja”.

A irmã Liliana Franco, presidente da Confederação Latino-Americana de Religiosos e Religiosas – CLAR, fez referência aos casos de abusos sexuais, pedindo que os bispos “não encubram, não enterrem nada”,

O padr Matteo Visioli, da Diocese de Parma (Itália), considerou necessário “pensar o ministério como um governo partilhado”, pelo que cada bispo “pode e deve” delegar “tarefas de responsabilidade no governo da Igreja”, seguindo também “uma lógica de transparência”.

Estes encontros encerram-se a 16 de outubro, com duas sessões, dedicadas aos temas “A relação mútua entre a Igreja local e a Igreja universal” e “O exercício do primado e o Sínodo dos Bispos”.

OC

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