Sínodo 2023: Papa pede Igreja «diferente», mais aberta e dialogante (c/fotos)

Francisco convida a superar visões «verticalizadas» e a promover a participação de todos

Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA a Roma

Cidade do Vaticano, 09 out 2021 (Ecclesia) – O Papa inaugurou hoje no Vaticano a sessão de abertura do processo sinodal 2021-2023, pedindo uma Igreja “diferente”, que supere “visões verticalizadas, distorcidas e parciais”, com mais abertura e diálogo.

“Quando falamos duma Igreja sinodal, não podemos contentar-nos com a forma, mas temos necessidade também de substância, instrumentos e estruturas que favoreçam o diálogo e a interação no Povo de Deus, sobretudo entre sacerdotes e leigos”, disse, perante centenas de participantes reunidos na Sala do Sínodo.

Francisco defendeu a mudança estrutural para uma Igreja “sinodal”, como “um lugar aberto, onde todos se sintam em casa e possam participar”.

“O Sínodo oferece-nos a oportunidade de nos tornarmos uma Igreja da escuta: uma Igreja da proximidade, que estabeleça, não só por palavras mas com a presença, maiores laços de amizade com a sociedade e o mundo”, indicou.

O discurso destacou a diversidade de proveniência dos participantes, vindos de vários países, incluindo Portugal, e convidou a um “discernimento” sobre o tempo atual, que torne a Igreja solidária com os “cansaços e anseios da humanidade”.

Francisco apresentou três “palavras-chave” para o Sínodo 2021-2023: “comunhão, participação, missão”.

Foto: Vatican Media

“Comunhão e missão correm o risco de permanecerem termos algo abstratos, se não se cultivar uma práxis eclesial que exprima a sinodalidade no concreto de cada etapa do caminho e da atividade, promovendo o efetivo envolvimento de todos e cada um”, apontou.

Para o Papa, está em causa a necessidade de promover um modo de agir “caraterizado por verdadeira participação” de todos os batizados.

“Todos somos chamados a participar na vida da Igreja e na sua missão. Se falta uma participação real de todo o Povo de Deus, os discursos sobre a comunhão arriscam-se a não passar de pias intenções”, precisou.

Sente-se ainda uma certa dificuldade e somos obrigados a registar o mal-estar e a tribulação de muitos agentes pastorais, dos organismos de participação das dioceses e paróquias, das mulheres que muitas vezes ainda são deixadas à margem. Participarem todos: é um compromisso eclesial irrenunciável”.

O Papa falou do Sínodo como uma “grande oportunidade para a conversão pastoral em chave missionária e também ecuménica”, mas admitiu que também existem “riscos”, pedindo que este não seja um acontecimento de “fachada” ou uma espécie de “grupo de estudo”.

“Reforço que o Sínodo não é um Parlamento, um inquérito de opinião, o Sínodo é um momento eclesial, o protagonista do Sínodo é o Espírito Santo”, declarou.

A intervenção apelou ainda à superação do “imobilismo”, que levaria a aceitar “soluções velhas para problemas novos”.

“É importante que o caminho sinodal seja verdadeiramente tal, que seja um processo em desenvolvimento; envolva, em diferentes fases e a partir da base, as Igrejas locais, num trabalho apaixonado e encarnado, que imprima um estilo de comunhão e participação orientado para a missão”, apontou.

A intervenção concluiu-se com uma oração ao Espírito Santo, por uma “Igreja diferente”, aberta à “novidade que Deus lhe quer sugerir”.

Vinde, Espírito Santo! Vós que suscitais línguas novas e colocais nos lábios palavras de vida, livrai-nos de nos tornarmos uma Igreja de museu, bela mas muda, com tanto passado e pouco futuro. Vinde estar connosco, para que na experiência sinodal não nos deixemos dominar pelo desencanto, não debilitemos a profecia, não acabemos por reduzir tudo a discussões estéreis. Vinde, Espírito de amor, e abri os nossos corações para a escuta. Vinde, Espírito de santidade, e renovai o santo Povo de Deus. Vinde, Espírito Criador, e renovai a face da terra.

A 16ª assembleia geral do Sínodo dos Bispos vai decorrer até outubro de 2023, precedido por um processo inédito de consulta, e de forma descentralizada, pela primeira vez, com assembleias diocesanas e continentais.

A assembleia convocada pelo Papa Francisco tem como tema “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”.

A abertura do Sínodo 2021-2023 acontece no Vaticano, sob a presidência do Papa, entre hoje e amanhã, e em cada diocese católica, a 17 de outubro, sob a presidência do respetivo bispo.

OC

A reportagem em Roma é fruto de uma parceria estabelecida entre a Agência Ecclesia, a Família Cristã, o Diário do Minho e a Associação de Imprensa Cristã.

O Sínodo dos Bispos pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.

Em setembro de 2018, o Papa publicou a constituição apostólica ‘Episcopalis Communio’ (Comunhão Episcopal) com a qual reforçou o papel do Sínodo, sublinhando a importância de continuar dinâmica do Concílio Vaticano II (1962-1965).

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