Setúbal: festas e romarias

Nossa Senhora do Cabo Espichel

A devoção mariana atravessa três das romarias de verão mais marcantes na Diocese de Setúbal: Nossa Senhora do Cabo Espichel, Nossa Senhora da Atalaia e Nossa Senhora do Rosário de Tróia.
Como manifestação religiosa, os Círios de Nossa Senhora do Cabo Espichel são das mais antigas do país e a mais antiga ao Sul do Tejo, havendo já referência a peregrinações estabelecidas no reinado do rei D. Pedro I, em meados do século XIV.

Os grandes e mais ricos Círios do Cabo Espichel – as peregrinações coletivas que são a resposta a um voto feito em tempos de peste e calamidade – são os da Margem Norte do Tejo, mas a Margem Sul conta com o segundo em antiguidade: o da Caparica, hoje infelizmente quase extinto, que congregava todas as gentes da zona rural e marítima do concelho de Almada.

Além desse, o de Palmela – que ainda hoje se realiza a 15 de agosto todos os anos – o de Sesimbra (agora transformado nas Festas do Cabo Espichel em fim de setembro) e os de Azeitão, Arrentela/Seixal, Almada/Cacilhas, Coina, Setúbal e Ribatejo (zona entre o Barreiro e Alcochete) marcam as páginas da história religiosa nacional e regional.

 

Nossa Senhora da Atalaia

O Santuário de Nossa Senhora da Atalaia, no Montijo, situa-se num promontório e deve a sua existência à aparição de uma pequena imagem no interior de uma aroeira. Fenómeno semelhante a tantos outros, pede a Senhora que lhe construam uma capelinha no alto da colina, ficando ali no lugar da aroeira, uma fonte como memorial da aparição.

Desde cedo esta aparição captou a atenção de muitos romeiros, sendo a invocação da Senhora da Atalaia, dada como padroeira às Alfândegas de Lisboa. A imagem deste Círio ainda hoje preside a um altar da igreja de Nossa Senhora da Conceição Velha, na capital portuguesa. Este chegou a ser talvez o maior círio da Senhora da Atalaia, cumprindo-se já 500 anos do seu voto. Por outro lado, peregrinam à Atalaia o Círio da Aldegalega (Montijo) na quinta-feira da Ascenção e, na segunda-feira de Páscoa, o Círio dos Marítimos (Alcochete). Ao longo do ano, concorriam ao Santuário muitos outros Círios de lugares de ambas as margens do Tejo, a maior parte hoje sem atividade.

No fim de agosto, montavam arraial a maior parte dos Círios, chamando-se a esta romagem a “Festa Grande”, que ainda hoje se enche de alegria, luz, música e cor. Os Círios chegam à Atalaia saudando o Cruzeiro-Mor, onde se ergue a cruz de Jesus. Vão, também, até à fonte da Senhora, banhar-se na água santa e integram o programa oficial do Santuário, de forma particular a Santa Missa e a Procissão, levando cada um o andor da imagem de Nossa senhora da Atalaia que preside ao seu Círio. Todos precedem a Imagem maior do Santuário que só nestes dias sai do trono do altar-mor, onde é venerada todos os dias do ano.

Nossa Senhora de Tróia

A Capelinha de Nossa Senhora de Tróia é de fundação incerta sabendo-se, contudo, que em 1480 possuía capelão e recebeu uma Visita da Ordem de Santiago em 1510. Assim, sabemos que, pelo menos desde o séc. XV, este lugar recebe peregrinos para venerar Nossa Senhora com o título do lugar onde a ermida foi edificava: a península de Tróia.

É uma romagem feita essencialmente das gentes do mar de Setúbal, dos bairros das Fontainhas, São Domingos e Santos Nicolau. Contudo, de toda a cidade chegam devotos que prestam, durante a maré viva de agosto, a sua homenagem à Virgem. É uma festa que depende do calendário das marés, pois só as marés altas permitem aos grandes barcos transpor as areias que delimitam a Caldeira de Tróia.

A missa e a procissão na praia dão a esta romagem um cunho muito particular, bem como a procissão fluvial onde são abençoados os barcos, os pescadores, o hospital da barra do Sado (Outão) a cidade e o seu povo.

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Este artigo faz parte da Edição especial da Agência ECCLESIA “Festas da nossa Terra” publicada em agosto 2022

 

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