Seminários: «Toca-se a paternidade» quando se ajuda «jovens a amadurecer na fé» – padre José Miguel Barata Pereira

Reitor do Seminário dos Olivais, no Patriarcado de Lisboa, está há mais de 25 anos ligado à formação e acompanhamento espiritual de jovens

Foto: Agência ECCLESIA/MC

Lisboa, 08 nov 2023 (Ecclesia) – O padre José Miguel Pereira, reitor do Seminários dos Olivais, está há mais de 25 anos ligado à formação dos padres no patriarcado de Lisboa, e destaca a “paternidade que toca” ajudando “jovens a amadurecer na fé”.

“Ajudar a formar, inserido numa comunidade, é uma experiência muito rica. O Seminário é uma comunidade que se altera: vemos jovens a chegar com capacidades, qualidades e virtudes. É gente muito rica, com vulnerabilidades, inconstâncias, medos, mas Deus permite-nos tocar estas vidas. Há uma paternidade que tocamos. Não tenho filhos meus, mas tenho pessoas que ajudo a amadurecer na fé e humanamente”, conta à Agência ECCLESIA.

“A fé permite-nos ser companheiros de viagem de pessoas que peregrinam em busca de um sentido, com muitas perguntas e algumas respostas, e nós colocamo-las em contacto com Aquele que quer ser a plenitude dessa resposta”, acrescenta.

Reitor do Seminário dos Olivais desde 2011, o padre José Miguel está ligado aos espaços formativos vocacionais que o patriarcado de Lisboa dispõe, desde a data da sua ordenação, em 1996, tendo passado pelo pré-Seminário, em Penafirme, pelas propostas vocacionais dirigidas a rapazes e raparigas da diocese.

O contacto com os jovens, o acompanhamento vocacional a pessoas singulares de diferentes gerações mas também a casais dos grupos que acompanha, dão ao sacerdote a possibilidade de “tocar a fé” e de ajudar as pessoas a fazer esse caminho.

“Qualquer vocação, estádio de vida ou existência – mesmo a de um não crente – é uma realidade que não se iniciou a si própria, encontra-se na vida por iniciativa de um outro e não se cumpre em si mesma, mas caminha para a plenitude que é Deus. As pessoas podem não ter fé mas isso não altera a realidade. Ajudar as pessoas a tocar isto, a descobrir que a vida é o usar as nossas mãos como resposta a quem tem iniciativa, com um plano e um sonho, mas que não tem tudo fechado e que quer construir com o próprio, é muito bom”, explica.

Olhando a sua história pessoal, o padre José Miguel Pereira recorda que a frequência nos encontros de pré-seminário aconteceram por desafio do padre Lereno, seu antigo pároco em São João de Brito, e por um amigo que também participava.

“Marcou-me muito porque a dada altura, fui convidado por um amigo, com quem tocava piano na escola, a entrar no grupo dos acólitos. Eu já gostava de os ver no altar, mas sem me passar pela cabeça vir a ser acólito. O convite trouxe-me mais proximidade com o padre Lereno, e o serviço do altar marcou as minhas interrogações. Para mim, em determinada altura, era como estar aos pés da cruz, na hora em que Nosso senhor se oferecia por nós”, recorda.

O acolitar, os convites de um amigo para participar nas atividades no pré-seminário que recusava porque achava “eram atividades para quem queria ser padre”, começaram a inquietar o futuro padre: “Rezava para poder escutar aquilo a que Deus me chamava, mas por outro lado recusava participar nos encontros. Acabei por aceder e comecei a participar; assim foi durante dois anos”.

O padre José Miguel recorda um “tempo muito rico” no Seminário e, em Almada, de forma especial, quando passou dois anos naquele espaço que na altura pertencia ao patriarcado de Lisboa, lembra-se de rezar a olhar a diocese.

“Lembro-me que o olhar a diocese a partir daquele miradouro, que se estendia à nossa frente, me marcava. Olhava a cidade e imaginava, à noite, nas luzes nas janelas, as famílias que ali estavam – pessoas, almas, perguntas, angústias e alegrias, e eu era enviado a cuidar destas pessoas. Isso foi marcante para a minha decisão de avançar para o Seminário dos Olivais”, recorda.

Hoje o reitor do Seminário dos Olivais entende que a “pedagogia de Deus” ajuda o homem a encontrar em diferentes caminhos os sinais que o colocam em contacto com o sentido da vida.

“Deus não nos fala apenas nas coisas «beatas» e religiosas, mas na realidade humana e terrena. Quando aprendemos a perscrutar e a ouvir para lá do imediato, começamos a ver como noutras linguagens Deus também se mostra”, reconhece.

A conversa com o padre José Miguel Barata Pereira pode ser acompanhada esta noite no programa ECCLESIA na Antena 1, pouco depois da meia-noite, e escutada posteriormente no portal de informação e no podcast «Alarga a tua tenda».

LS

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