D. José Cordeiro afirma que «só uma Igreja que sonha pode evangelizar» e Alexandre Palma e Joaquim Félix, da Comissão Científica do Congresso Internacional, indicam que é necessário «atender à precariedade» para projetar o futuro
Braga, 18 nov 2022 (Ecclesia) – D. José Cordeiro, arcebispo de Braga, disse hoje à Agência ECCLESIA que é necessário encontrar “caminhos novos” para a formação de novos padres, pelo que é urgente “suscitar novas perguntas”.
“Os desafios são de tal ordem que o Seminário tem de ser capaz, também, desta atitude sinodal, samaritana, que estamos a sublinhar na arquidiocese”, referiu o responsável católico.
O Auditório Vita, em Braga, acolhe desde quarta-feira um congresso internacional sobre a problemática dos seminários católicos, intitulado ‘Erguendo os olhos e vendo’, que decorre até sábado.
Para D. José Cordeiro, os trabalhos têm deixado um “enorme caderno de encargos”, que exige um “discernimento espiritual mais alargado”, assumindo uma perspetiva de “esperança”.
“Só uma Igreja que sonha pode evangelizar, mesmo uma Igreja ferida”, sustenta.
O arcebispo primaz destaca, em particular, o protagonismo dos jovens, como “lugar de renovação” para as comunidades católicas.
O responsável católico considera que o surgimento de novos ministérios vem realçar a importância do padre, nas comunidades católicas, com “uma nova compreensão, na partilha e na sinodalidade”.
“É esse salto qualitativo que é preciso dar”, conclui.
O congresso internacional, preparado por uma comissão científica em coordenação com o Centro Regional de Braga da UCP, conta com a presença de responsáveis católicos e investigadores de Portugal, França e Itália.
O padre Joaquim Félix, vice-Reitor do Seminário Conciliar de São Pedro e São Paulo, assinalou à Agência ECCLESIA que as várias intervenções apresentam “linhas que se cruzam”, numa “aglutinação de muitos fios, num tecido muito denso”.
“Ninguém pode ter a veleidade de descomplexificar a situação”, adverte.
O responsável assume a necessidade de “atender à precariedade, às dificuldades”, para poder encontrar um caminho de resposta.
O entrevistado fala numa “confluência de crises”, nos Seminários, que derivam de um “problema eclesiológico”.
“Estamos, de facto, num final de ciclo e no início de outros, com circunstâncias completamente novas”, aponta o padre Joaquim Félix, para quem os ministérios em cada comunidade, mais do que repetir o passado, devem responder a necessidades concretas, como “ir ao encontro daqueles que se afastam”.
No final dos trabalhos, acrescenta, o desejo é que todos possam “continuar a reflexão”, procurando dar uma “linha de continuidade” às várias iniciativas sobre estas temáticas.
Alexandre Palma, docente da UCP e membro da comissão científica do congresso internacional, destaca a importância de “observar, reconhecer e pensar” os desafios que se colocam, no campo da formação dos ministros ordenados.
“Esta resposta a realidades em mutação, da Igreja como um todo e dentro da Igreja, de muitas instituições, nomeadamente os Seminários, passará muito por trabalhar aspetos e, provavelmente, de uma forma experimental”, declara.
O sacerdote entende que, no futuro, se irá “intensificar” um modelo de acompanhamento, com percursos pensados para “cada pessoa em concreto”.
O congresso assinala os 450 anos do Seminário Conciliar de Braga, fundado após o Concílio de Trento (1545-1563) por São Bartolomeu dos Mártires.
“A crise que Trento enfrentou fez com que se encontrassem novos caminhos, que não foram assim tão rápidos”, observa o atual arcebispo de Braga.
Para D. José Cordeiro, este aniversário é um desafio “renovado”, que deve ser assumindo “no mesmo dinamismo do processo sinodal” 2021-2024, convocado pelo Papa Francisco.
PR/OC
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