Sem-Abrigo: Comunidade Vida e Paz alerta para estratégia nacional «muito centrada na habitação»

Horácio Félix dá conta do aumento do número de mulheres na rua com a «preocupação muito grande», que «são senhoras grávidas», no Dia Internacional da Erradicação da Pobreza

Foto: Comunidade Vida e Paz

Lisboa, 17 out 2024 (Ecclesia) – O presidente da direção da Comunidade Vida e Paz (CVP), instituição do Patriarcado de Lisboa, lamenta que a nova Estratégia Nacional para a Integração das Pessoas em Situação de Sem-Abrigo (2025-2030) esteja “muito centrada na questão da habitação”.

“Esta estratégia está muito centrada na questão da habitação, e gostava que estivesse centrada, primeiramente, na satisfação das necessidades básicas das pessoas e na sua capacitação”, disse Horácio Félix, esta quinta-feira, no Programa ECCLESIA, na RTP2.

Neste Dia Internacional da Erradicação da Pobreza 2024, o presidente da direção da Comunidade Vida e Paz, na sequência da aprovação da nova Estratégia Nacional para a Integração das Pessoas em Situação de Sem-Abrigo (2025/2023) salienta que “o desejável” era que tivessem conseguido resolver as “situações complexas”, a anterior estratégia decorreu entre 2017 e 2023.

Segundo Horácio Félix, “muitas vezes”, olham para a estratégia e veem “uma relação quase direta entre pessoas em situação de sem-abrigo e falta de habitação”, mas, a partir da experiência da CVP, indica que “existem outros problemas muito graves, nomeadamente de adições e doença mental”.

“E isso não é uma questão de falta de habitação, é muito mais complexa. Nós, além de trabalharmos a questão da habitação, temos de trabalhar a pessoa; capacitarmos para a sua autonomização. Arranjar-lhe um quarto há de resolver durante algum tempo, ou tornar a pessoa menos visível nas ruas, que às vezes nos parece que está por trás das estratégias”, desenvolveu.

Se as pessoas deixarem de ser visíveis, aparentemente o problema está solucionado, mas de facto a nossa experiência no dia-a-dia diz-nos que é precisamente o contrário”.

Segundo o serviço da Comunidade Vida e Paz, na cidade de Lisboa, “é de um aumento significativo, nos dois últimos anos, com desafios diferenciados”, relacionados com a migração, com o aumento de pessoas em situação de adição de substâncias psicoativas e do álcool, e assinala que, geralmente, “o consumo de substâncias psicoativas ou álcool acaba por desenvolver problemas ao nível da saúde mental”.

O presidente da direção da instituição solidária do Patriarcado de Lisboa alerta também que o número de mulheres na rua “tem aumentado”, acrescido de um facto que “é uma preocupação muito grande, são senhoras grávidas”.

A Comunidade Vida e Paz tem registado que “é maior” o número de pessoas com casa que vai “às carrinhas buscar essencialmente a ceia, têm um teto mas não têm capacidade financeira para as necessidades alimentares”.

“Também detetamos muitas pessoas que até estão na rua, têm emprego, mas não conseguem habitação porque os preços da habitação de um simples quarto estão a preços exorbitantes em relação àquilo que é o rendimento das pessoas”, acrescentou.

O presidente da direção da Comunidade Vida e Paz lamentou também no âmbito das políticas públicas “uma sensação de abandono” que as instituições sentem e “vão sobrevivendo”, observando que “não é uma questão financeira” porque são “poucas instituições” e “a sensação de abandono é muito grande”.

A instituição do Patriarcado de Lisboa, que está a celebrar 35 anos de existência, com as jornadas ‘Motivar para a Mudança’, presta também serviços de saúde, “através de protocolo com o Ministério da Saúde”, tem um Centro de Intervenção de Primeira Linha, Comunidades Terapêuticas e de Inserção e Unidade de Apoio à Reinserção -, e, segundo este responsável, o valor “pelo tratamento individual” só foi atualizado “uma simples vez”, desde 2008 até 2024.

‘Acabar com os maus tratos sociais e institucionais, atuar em conjunto para sociedades justas, pacíficas e inclusivas’, é o tema do Dia Internacional da Erradicação da Pobreza 2024, que se assinala hoje.

LS/CB/OC

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