Refugiados: É fundamental que Portugal acolha com «solidariedade»

Diz investigadora Maria Beatriz Rocha-Trindade, que recorda a própria história migratória do país

Lisboa, 17 ago 2015 (Ecclesia) – A investigadora Maria Beatriz Rocha-Trindade diz que, perante a atual crise de refugiados na Europa, é fundamental que Portugal acolha quem chega com “solidariedade”, não esquecendo a sua própria história migratória.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, a responsável pela introdução do estudo da Sociologia das Migrações no nosso país recorda as “imagens negativas” que foram coladas aos emigrantes portugueses e que muitas vezes “não correspondiam à realidade”.

Apesar dessa “desconfiança”, as comunidades portuguesas lá fora conseguiram mostrar o seu valor e hoje, por exemplo em França, existem “mais de 100 autarcas portugueses eleitos”.

Quanto à memória do país enquanto recetor de imigrantes, Maria Beatriz Rocha-Trindade invoca os casos dos que regressaram das antigas colónias portuguesas, depois do 25 de abril de 1974.

“As pessoas diziam que eles tinham partido, que tinham abandonado completamente Portugal e que agora, em situação de dificuldade, é que se lembravam. Tudo isto acabou e quem veio mostrou bem a sua capacidade de integração e até de desenvolvimento do país”, aponta a especialista.

Segundo dados avançados pela Amnistia Internacional, existem hoje mais de 50 milhões de refugiados em todo o mundo, naquela que é considerada a maior crise do género desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Muitos refugiados, provenientes de países mais pobres ou em conflito permanente como a Líbia, a Síria e o Iraque, têm arriscado a sua vida para entrar clandestinamente na Europa através do Mar Mediterrâneo.

Para responder a esta situação, a União Europeia delineou uma estratégia que combina a maior vigilância das suas fronteiras com o apoio a estes refugiados e a sua distribuição e integração nos diversos Estados-membros, de acordo com as suas possibilidades.

Portugal deverá receber em breve cerca de 1500 refugiados de várias nacionalidades, provenientes de campos improvisados de acolhimento na Síria.

Maria Beatriz Rocha-Trindade frisa que “este não é um problema apenas de Portugal” nem o país “foi o bonzinho que inventou esta receção”.

Trata-se sim de uma “política europeia” que deve ser cumprida o melhor possível, uma vez que se tratam de pessoas em “dificuldade”.

A professora catedrática da Universidade Aberta, que no contexto dos 50 anos da Obra Católica Portuguesa das Migrações (em 2012) assinou a obra “A Igreja Face ao Fenómeno Migratório”, acredita que o país saberá enfrentar este desafio com “criatividade” e destaca a importância do envolvimento das instituições católicas.

“Muito através dos atores católicos e dos próprios líderes locais, vamos certamente passar a informação, arranjar projetos de sensibilização e receber na medida do que podermos, receber bem, quem vai chegar”, sustenta a investigadora.

JCP

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