Migrantes: Encontro e diálogo entre culturas e religiões são formas de combater «medo do desconhecido» – Diretora da OCPM

Eugénia Quaresma abordou «drama de quem foge» na procura de «uma vida melhor»

Lisboa, 18 mar 2024 (Ecclesia) – A diretora da Obra Católica Portuguesa de Migrações (OCPM) defendeu que o diálogo e o encontro são a forma de combater o “medo do desconhecido”, em relação aos migrantes e a quem professa outras religiões.

“Há medos a combater, o medo do desconhecido, e este medo do desconhecido só se combate se eu conhecer, se houver aqui equipas e projetos que se proponham a conhecer o outro e a dialogar e também a dar a conhecer a cultura de acolhimento”, afirmou Eugénia Quaresma, em entrevista à Agência ECCLESIA.

A responsável destaca a importância da proximidade face ao “medo muito grande em relação a pessoas que são de uma outra fé, nomeadamente o Islão”.

“Se estas pessoas vivem de uma forma fechada isto provoca medo, mas se nós nos conhecermos é diferente, vivemos num Estado laico e acreditamos na liberdade religiosa, no diálogo inter-religioso e, portanto, tem que haver projetos que promovam este encontro e nos ajudem a desmistificar alguns medos”, salientou.

Qualquer tipo de fundamentalismo religioso traz violência e, portanto, é o fundamentalismo religioso também que temos que ter cuidado”

Em entrevista emitida hoje no Programa ECCLESIA (RTP2), Eugénia Quaresma abordou uma visita que realizou a Odemira, em Beja, na qual teve a oportunidade de conversar com pessoas que professam a fé islâmica e hindu.

Foto: Lusa

“Estão disponíveis para este diálogo, para este encontro, para darem-se a conhecer à comunidade local e esperam também das autoridades locais que promovam este encontro e que ajudem as comunidades a se conhecerem”, adiantou.

A diretora da OCPM fala nas orientações pastorais publicadas pela Santa Sé, em março de 2023, e apresentadas pela Obra Católica das Migrações aos secretariados diocesanos, que incluem a “promoção do encontro e do diálogo inter-religioso e ecuménico”.

“É um trabalho que é lento, tem de haver sensibilidade por parte dos agentes pastorais e tem que haver essa disponibilidade interior, porque também encontro dentro da nossa igreja pessoas que não têm essa disponibilidade para o diálogo e para o encontro, e, portanto, é um trabalho que tem que ser feito, a começar pelos nossos agentes pastorais e daí esta preocupação em dar a conhecer as orientações pastorais para o secretariado diocesano”, adverte.

A diretora da OCPM ressalta a importância de “não esquecer a dimensão das migrações” nos projetos pastorais.

“À medida que vamos avançando neste encontro, podemos ir mais longe para além de assinalar as data, a paz, o diálogo ecuménico para a paz, a oração pela paz, a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, se calhar só determinados setores estão despertos para isso, se calhar podemos fazer mais e despertar mais, para que alguma descrença e alguma hostilidade também vá diminuindo”, observou.

De acordo com a Organização Internacional das Migrações (OIM), 8565 pessoas morreram em rotas migratórias em todo o mundo, em 2023, sendo este o ano mais mortal já registado.

“[Este é] o drama de quem foge, o drama de quem procura uma vida melhor, o drama de quem investe num futuro, de quem é vítima de máfias, de redes que exploram também”, lamenta a diretora da OCPM.

Segundo Eugénia Quaresma, o necessário “não é só olhar para o desejo destas pessoas, mas olhar também para estes países de origem e para aquilo que está a acontecer politicamente”.

“Vemos que há pessoas que não têm outra solução se não sair, e são muitas vezes os países vizinhos que procuram dar resposta de acolhimento. Outras vezes as pessoas ousam ir um bocadinho mais longe, e esse direito é reconhecido”, indica, acrescentando que esta é uma situação que obriga os Estados a “sentarem-se à mesa”.

“Os Estados têm o dever de gerir, é reconhecido, e esta gestão passa não só pelo primeiro acolhimento, mas pelas leis do país, que devem ser humanistas, e pela capacidade de promover e incluir estas pessoas”, referiu.

A responsável considera que o problema não é o número de pessoas que chegam, porque este é “facilmente diluído e facilmente combatido”, mas sim os serviços destinados ao acolhimento.

“Quando não há estas estruturas, aquilo que eu acredito é que melhorando as estruturas para as pessoas que já residem, melhoramos também para quem possa chegar. E este diálogo tem que ser feito permanentemente, não adianta hostilizar as pessoas que chegam. Eles denunciam, sim, a falta de estruturas, a falta de condições, e temos que trabalhar para melhorá-las, e temos, simultaneamente, que trabalhar também a questão nos países de origem, nos países de trânsito”, sustentou.

PR/LJ/OC

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