Migrações: Há 63 muros no mundo, quatro vezes mais do que quando caiu o de Berlim

Responsável da Cáritas Internacional diz que o medo «é o cimento que os mantêm de pé»

Alfragide, 13 jan 2018 (Ecclesia) – A diretora de Advocacy da Cáritas International afirmou no Encontro de Agentes Sociopastorais das Migrações que atualmente existem 63 muros “finalizados ou projetados”, fundamentados no medo, e apresentou a campanha “Partilhar a Viagem”.

“Em 1989, ano da queda do muro de Berlim, havia apenas 16 muros em todo o mundo, enquanto atualmente existem 63 finalizados ou projetados”, disse Martina Liebsch na conferência de abertura do encontro.

“Partilhar a Viagem: acolher, proteger, promover e integrar migrantes e refugiados” é o tema do Encontro da Agentes Sociopastorais das Migrações” que decorre no Seminário de Alfragide, em Lisboa, entre os dias 12 e 14 de janeiro.

“Um terço dos países no mundo conta agora com um muro”, referiu diretora de Advocacy da Cáritas International, acrescentando que o medo “é o cimento que os mantem de pé”.

“Gostaríamos de trabalhar para garantir que a migração seja vista como um desafio cheio de oportunidades e não como uma crise que já vivemos há mais de 200 000 anos”, acrescentou.

Natural da Alemanha, Martina Liebsch recordou a “separação de comunidades e famílias” no seu país e disse que as divisões são provocadas pela afirmação do “pequeno eu”.

“Parece-me inconcebível que voltemos a construir muros físicos (e nas nossas cabeças) quando sabemos que apenas nos trazem sofrimento e que não vão travar a realidade que já é cosmopolita pelos meios de comunicação e redes sociais”, sublinhou.

A diretora de Advocacy da Cáritas International alertou para o erro de culpar os migrantes e os refugiados por realidades sociais geradas por “causas estruturais”, como “a violência, o desemprego, a falta de paz e de oportunidades, as desigualdades e a falta de políticas migratórias”.

“Para que as gerações futuras tenham melhores meios para resolver conflitos, a cultura do diálogo tem de ser ensinada para poder, no futuro, resolver os conflitos de maneira diferente à que estamos acostumados”, afirmou.

A campanha da Cáritas, em todo o mundo, “Partilhar a Viagem” é uma proposta de diálogo e quer “fazer frente ao medo e à cultura da indiferença”.

“O apelo da campanha é o de encontrar os migrantes, acolhê-los e também reconhecer os seus direitos e dignidade e a nossa humanidade comum”, afirmou.

“Ver a migração como uma oportunidade para reconhecermos as nossas diferenças e semelhanças e compreender que estamos todos ligados”, acrescentou Martina Liebsch.

O Encontro de Agentes Sociopastorais das Migrações termina este domingo com a celebração do Dia Internacional do Migrante e refugiado.

PR

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