Mensagem para a Quaresma 2024 do Bispo de Vila Real

Quaresma: caminho de conversão, caminho para a liberdade

Foto: António Carvalho

O tempo da Quaresma é um tempo de graça para o cristão e um tempo favorável para a humanidade. Logo no primeiro dia, em quarta-feira de cinzas, escutamos, no texto do profeta Joel, o apelo de Deus: «Convertei-vos a Mim de todo o coração». Estas palavras ecoam hoje como um convite a fazer um caminho de mudança de vida, de autêntica libertação.

A decisão pessoal de mudança parte da consciência de que há tantas coisas no nosso quotidiano que não nos deixam ser plenamente nós próprios e realizar o bem que está ao nosso alcance. Este primeiro passo permite-nos reconhecer aquilo a que estamos presos, o que nos condiciona ou domina. Para iniciar um caminho novo é preciso aceitar que se pode estar demasiado preso a coisas como o dinheiro, o écran, o jogo, o álcool ou outras dependências. Iniciar um caminho novo supõe reconhecer que há ídolos que alimentam ilusões mas comprometem a nossa liberdade e obscurecem o futuro.

Como sugere o Papa Francisco, este tempo é convidativo para repensar estilos de vida no sentido de «tomar pequenas e grandes opções contracorrente, capazes de modificar a vida quotidiana das pessoas e a vida de toda uma coletividade: os hábitos nas compras, o cuidado com a criação, a inclusão de quem não é visto ou desprezado».

Nestes quarenta dias caminhamos com toda a Igreja e somos guiados pela Palavra de Deus que nos recorda, em cada domingo, as grandes etapas da história da Aliança. Dessa forma entenderemos melhor que, apesar das nossas fragilidades e infidelidades, somos o Povo da Nova Aliança que precisa de reforçar os laços que o unem a Deus, de um compromisso mais efetivo com a fraternidade para com todos os seres humanos e de uma redobrada atenção e respeito para com a criação.

O período quaresmal coincide com uma nova fase do percurso sinodal que tem mobilizado toda a Igreja. A próxima Assembleia Sinodal Diocesana de 25 de fevereiro contribuirá para aprofundar o estilo sinodal que deve crescer na Igreja. A adoção deste estilo exige uma conversão de pessoas e de estruturas: de uma Igreja fechada, autossuficiente, cansada e rotineira para uma Igreja mais acolhedora, aberta a todos, solidária e dialogante. Foi este o propósito do Concílio Vaticano II e continua a ser este o sonho que o Papa Francisco nos desafia a concretizar.

Neste período terão lugar as eleições, momento importante de escolha coletiva que determinará, em grande medida, o futuro do nosso país. Apelo a que todos vão votar. Além de um direito, essa é a primeira forma de participar na vida democrática de um país. Mas esse ato não esgota o compromisso de todos na  construção de um país livre, justo e solidário. Após 50 anos de democracia não podemos desistir de sonhar com um pais melhor mas também não podemos ficar indiferentes a alguns sinais erosão na vida coletiva. Precisamos de uma conversão cívica, de um renovado compromisso ético por parte de eleitos e de uma maior participação e exigência por parte dos cidadãos eleitores.

O caminho de conversão quaresmal, proposto a cristãos e a todos os homens e mulheres de boa vontade, encontra sempre uma inspiração nas práticas tradicionais da Igreja: oração, jejum e esmola. A sabedoria de muitas gerações de crentes ensina-nos que, nas circunstâncias concretas de cada pessoa e de cada época, estas práticas podem constituir auxílios preciosos para um caminho espiritual mais rico e frutuoso. Em termos pessoais, familiares e comunitários, reflitamos e tomemos uma decisão sobre: ter um tempo especial de oração; uma forma concreta de jejuar; uma pessoa, causa ou instituição a quem fazer chegar ajuda material.

Este tempo da quaresma é ainda momento especial para cada um se abeirar do Sacramento da Reconciliação. A experiência da confissão dos pecados com a receção da graça do perdão divino, constitui uma profunda e autêntica forma de libertação. A reconciliação com Deus e com os irmãos é uma experiência incomparável que nenhuma outra forma pode substituir.

Todos os anos o Contributo Penitencial que resulta das ofertas das comunidades, das esmolas e renúncias quaresmais dos fiéis, destina-se a uma causa social e solidária. Este ano terá como destino a Cáritas Diocesana de Vila Real, para ser utilizado na ajuda aos imigrantes, tendo em conta que os seus pedidos de ajuda têm vindo a aumentar.

Que o Espírito Santo nos conduza e ilumine para que todos tenham uma quaresma de verdadeira conversão e libertação. Caminhemos juntos porque dessa forma se pode renovar a esperança.

Vila Real, 7 de fevereiro de 2024

D. António Augusto de Oliveira Azevedo

Bispo de Vila Real

Partilhar:
Scroll to Top