Mensagem para a Quaresma 2022 do Bispo de Viana do Castelo

«Não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, a fim de conhecerdes a vontade de Deus, o que é bom, o que Lhe é agradável e o que é perfeito» (Rom.12, 2)

A comunidade diocesana e cada comunidade cristã vão iniciar um itinerário de renovação, conversão e fortalecimento da comunhão com Deus e com os irmãos com o objetivo de viver autenticamente a Páscoa de Jesus de Nazaré que envolve cada batizado, cada comunidade e a sociedade no seu todo.

A este itinerário denominamos de quaresma que se desenrola ao longo de quarenta dias, culminando na celebração do mistério da entrega, da morte e da ressurreição de Jesus de Nazaré. Neste mistério que se revela como dom salvífico para a pessoa humana, todos somos chamados a viver, a saborear e a partilhar a beleza do amor terno e misericordioso de Deus revelado no Seu Filho e a fortalecer-nos para renovar a humanidade do nosso tempo.

Este é o tempo favorável para a escuta da Palavra de Deus e nela reconhecermos a vontade divina acerca do ser humano e descobrirmos a comunhão de vida que Deus quer estabelecer com os Seus filhos; para usufruirmos da vida de Jesus Cristo que continua a realizar os gestos salvadores através dos sacramentos na comunidade cristã; para intensificarmos a oração, a contemplação e a meditação dos mistérios da vida de Jesus de Nazaré que refletem o Seu amor infinito para com todos nós e nos ajudam a descobrirmo-nos da realidade sublime e dramática de que nos revestimos; para exercitarmos gestos de renúncia e ascese que fortalecem a vontade própria para se dirigir para o bem e renunciar a todo o mal; para nos dispormos a servir os nossos irmãos sobretudo os mais pobres e marginalizados.

Enfim, para nos consciencializarmos mais profundamente da nossa condição de discípulos de Jesus Cristo e tornarmo-nos verdadeiros arautos da Boa Noticia, o Evangelho, oferecendo-a aos nossos contemporâneos.

A celebração litúrgica, ao longo das cinco semanas da quaresma, deve proporcionar uma vivência mais profunda, consciente e viva da comunidade cristã. A Palavra de Deus, percorrendo o apelo de Deus feito ao primeiro Povo da Aliança, centrados na escuta do Evangelho, Palavra Viva de Jesus Cristo e confrontando-nos com as primeiras comunidades cristãs, oferece-nos um itinerário, feito de etapas, enriquecidas pelos sinais de renovação batismal que nos ajudam a prosseguir numa verdadeira iniciação cristã.

Apelo aos sacerdotes que juntamente com os agentes pastorais mais responsáveis da comunidade elaborem um verdadeiro itinerário de iniciação cristã, ao longo da quaresma, assente no dinamismo da liturgia da Palavra de cada domingo.

Este mesmo desafio lanço aos catequistas, aos diversos movimentos, às famílias e aos jovens.

Vamos viver com entusiasmo, com profundidade e com criatividade este tempo de conversão e renovação pessoal e comunitária.

Numa sociedade que anda angustiada e na sua deriva acaba por realizar tantos gestos que ficam no vazio porque são descentrados da sua Fonte que é Deus, vamos centrar-nos no Pai e n’Ele reconhecer como todos os gestos de penitência, de ascese, de conversão, são gestos de amor e de comunhão e, por isso, nos conduzem à verdadeira liberdade e à renovação plena.

Irmanados com toda a humanidade que anseia por edificar um futuro mais humano, num planeta mais habitável, na promoção duma autêntica fraternidade, privilegiando a dignidade humana e o bem comum, estimulada pelo desejo de realização plena, todos os batizados são convidados a oferecer o homem novo presente em Jesus de Nazaré, em cuja ressurreição nos oferece a certeza de alcançar o que os nossos sonhos projetam.

Neste sentido, o itinerário quaresmal é uma proposta de renovação dirigida a todos os homens e mulheres do tempo atual, em qualquer circunstância em que se encontrem.

Interpelo os sacerdotes para que dediquem tempo a acolher, a escutar e atender as pessoas, favoreçam e incentivem a celebração do sacramento da reconciliação, organizem tempos comunitários de oração e lectio divina, renovem com criatividade os atos de piedade popular tão próprios da quaresma e promovam a visita e a partilha para com quem sofre.

O Santo Padre, como habitualmente todos os anos, oferece-nos uma belíssima e interpelante mensagem quaresmal com o tema: «Não nos cansemos de fazer o bem; porque, a seu tempo colheremos, se não tivermos esmorecido. Portanto, enquanto temos tempo, pratiquemos o bem para com todos» (Gal 6, 9-10a).

A partir desta exortação do Apostolo S. Paulo, o Papa Francisco convida a comunidade cristã a viver a quaresma como tempo propicio à conversão e a mudar de mentalidade, «de tal modo que a vida encontre a sua verdade e beleza menos no possuir do que no doar, menos no acumular do que no semear o bem e partilhá-lo» (nº1).

A partir da parábola da sementeira, na referida mensagem, o Papa afirma que «semear o bem para os outros liberta-nos das lógicas mesquinhas do lucro pessoal e confere à nossa atividade a respiração ampla da gratuidade, inserindo-nos no horizonte maravilhoso dos desígnios benfazejos de Deus» (nº1).

Como tempo de partilha, a quaresma, diz o Papa Francisco, «é tempo propício para procurar, e não evitar, quem passa necessidade; para chamar, e não ignorar, quem deseja atenção e uma boa palavra; para visitar, e não abandonar, quem sofre a solidão» (nº 2). Daí o desafio a que «acolhamos o apelo a praticar o bem para com todos, reservando tempo para amar os mais pequenos e indefesos, os abandonados e desprezados, os discriminados e  marginalizados»(nº2).

Reconhecemos, tal como afirma o Santo Padre, que «neste tempo de conversão, buscando apoio na graça divina e na comunhão da Igreja, não nos cansemos de semear o bem» (nº 3). Aliás, «o jejum prepara o terreno, a oração rega, a caridade fecunda-o» (nº 3).

Verdadeiramente, «na fé, temos a certeza de que “a seu tempo colheremos, se não tivermos esmorecido”, e obteremos, com o dom da perseverança, os bens prometidos (cf. Heb 10, 36) para salvação nossa e do próximo (cf. 1 Tm 4, 16)». De facto, «praticando o amor fraterno para com todos, estamos unidos a Cristo, que deu a sua vida por nós (cf. 2 Cor 5, 14-15), e saboreamos desde já a alegria do Reino dos Céus, quando Deus for “tudo em todos” (1 Cor 15, 28)» (nº 3).

Como comunidade diocesana, vamos encaminhar o fruto da nossa renúncia, jejum, ascese e partilha para necessidades urgentes da pastoral da Igreja. Após consulta ao Conselho Episcopal diocesano, este ano, o contributo reverterá para a formação de agentes de pastoral nas Dioceses de S. Tomé e Príncipe e na nossa de Viana do Castelo.

Coloco esta caminhada quaresmal junto de Nossa Senhora, Santa Maria Maior, S. Bartolomeu, S. Paulo VI e S. Teotónio para obtermos as suas bênçãos e sob a sua proteção caminharmos decididamente pelas sendas da renovação da humanidade.

Viana do Castelo, 23 de Fevereiro de 2022

+João Lavrador, Bispo de Viana do Castelo

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