Mensagem de Natal do arcebispo de Braga

Na mensagem que preparei para uma vivência Arquidiocesana do Advento procurei sugerir a tenacidade em conciliar três atitudes que parecem querer sair do nosso perturbado quotidiano. Tratava-se de articular três valores essencialmente cristãos, como procura ou aposta duma caminhada a dar sentido à vida: a esperança, a alegria e a pobreza. No meio de situações escandalosas de pobreza, escondida ou evidente, é possível viver a alegria no presente e ter esperança no futuro?

O Natal confirma e reforça esta possibilidade para quem se alimenta da Palavra, feita carne na vida terrena dum Jesus, “o filho de Deus entre os homens”. Desta Palavra emerge esse itinerário a propor, nunca como utopia, mas como critério para se viver em felicidade.

A partir da mensagem estampada no presépio, que os homens querem ignorar ou considerar mera recordação retrógrada dum passado ignorante e que, por isso, o colocam de lado nesta quadra, quero insistir na conciliação entre estas três realidades e os compromissos subjacentes, capazes de alterar o rumo da história.

O Santo Padre recorda-nos que há uma pobreza a escolher como estilo de vida e outra a combater como certeza dum mundo de maior igualdade (Verbum Domini, 107). É este comportamento quotidiano que oferece alegria, vivendo com o essencial e partilhando o supérfluo e desnecessário, para experimentar que há mais “alegria em dar que receber”. Daqui é possível acreditar num presente que respira a esperança de quem luta e não se resigna a situações que parecem inevitáveis. O Natal pode e deve ser este envolver-se responsavelmente no emaranhado de problemas, para acreditar que é possível um amanhã melhor.

Que foram ver os pastores a Belém? Uma família possuída por um amor grande e comprometida em oferecer um recém-nascido que quer ser acolhido como Pessoa na vida dos humanos, para que estes expressem e comuniquem ao mundo uma Palavra inaudita e verdadeira solução histórica. Omnia vincit amor! (O amor vence tudo!).

Que este Natal não seja só forte no amor, mas que mostre também a força renovadora que ele encerra, desmascarando uma sociedade que, de vários modos, teima em alimentar-se de outras palavras. Só a genuína Palavra é fonte de pobreza, alegria e esperança.

Com estima por todos vós, votos de um Santo Natal!

14 de dezembro de 2011

D. Jorge Ortiga, arcebispo primaz de Braga

 

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