Media: «Há muitos portugueses que não têm acesso à informação» – Paulo Ribeiro

Presidente da Associação de Imprensa de Inspiração Cristã alerta para impacto da crise no setor sobre capacidade de «escrutínio» do poder político

Foto: Agência ECCLESIA/OC

Lisboa, 14 jan 2024 (Ecclesia) – O presidente da Associação de Imprensa de Inspiração Cristã (AIIC) manifestou a sua preocupação com a crise no setor dos media e o impacto sobre a capacidade de “escrutínio” do poder político, em Portugal.

“O acesso à informação está condicionado. Há muitos portugueses que não têm o acesso à informação”, disse Paulo Ribeiro, convidado da entrevista semanal conjunta Ecclesia/Renascença, publicada e emitida aos domingos.

O responsável considera que é “fundamental” o combate à iliteracia, neste campo, e que a população perceba “a importância que um órgão jornalístico tem no seu território”.

“Nada substitui o contacto pessoal, nada substitui o jornalista no terreno, junto da sua comunidade, junto do seu território. Não há inteligência artificial que substitua este trabalho de proximidade”, aponta.

O presidente da AIIC cita um estudo da Universidade da Beira Interior sobre “o deserto de notícias”, realçando que 25% do território português não tem um órgão de informação jornalístico, algo que considera “grave”.

“Não temos jornalistas naqueles territórios, para fazer uma avaliação do trabalho que é feito de uma forma isenta, parcial”, precisa.

Paulo Ribeiro comenta a crise que afeta o Global Media Group, que considera a “ponta do icebergue”, admitindo que com um eventual desaparecimento de órgãos de comunicação social “Portugal fica muito mais pobre, do ponto de vista do escrutínio democrático”.

O responsável entende que o atual ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, “não fez nada em prol da comunicação social” e “deixou que as coisas rolassem”.

Não tem havido ousadia, não tem havido responsabilidade, porque tem de haver responsabilidade de quem nos governa nesta área também. Deve haver um conjunto de ferramentas que possam permitir que estes territórios, todo o território nacional, tenha jornalistas e jornalismo”.

Para o entrevistado, o Estado tem um “papel importante” no esforço de assegurar “uma comunicação social plural e generalista em todo o território nacional”.

“Há formas de o Estado como acontece noutras democracias mais avançadas ou mais consolidadas que a nossa, na Europa, poder inverter a situação sem ser a intervir diretamente”, sustenta.

Paulo Ribeiro qualifica a situação atual como “preocupante”, afirmando que “com tanta informação, as pessoas nunca souberam tão pouco”.

“Não é por acaso que os populismos estão a surgir”, acrescenta.

Quanto aos desafios da AIIC, o presidente da instituição assinala que os associados têm procurado “fazer a transição para o digital”, com “produtos muito competitivos”, apesar de as receitas ainda estarem concentradas na “publicidade em papel”.

“A questão aqui é, de facto, a sustentabilidade. O digital ainda não representa uma fonte de receita como o produto em papel”, indica.

Paulo Ribeiro fala ainda da comunicação da Igreja Católica em Portugal, na qual identifica “várias vozes”.

“Por um lado, é bom, mas por outro lado não há, por vezes, aqui uma certa coerência comunicativa”, admite, assumindo que a AIIC está pronta para “colaborar mais com a Igreja, construir a Igreja”.

OC

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