Luto: «Percebi que tinha de deixar partir o meu marido» (c/vídeo)

Susana Costa fala sobre o sofrimento e a construção de um novo sentido para a vida

Foto: Agência ECCLESIA/HM

Lisboa, 30 out 2022 (Ecclesia) – Susana Costa perdeu o marido há dois anos, depois de muitos meses de acompanhamento em casa por causa de uma doença grave, em plena pandemia, situação que deixou marcas no processo do luto.

“Nós, familiares, queremos é segurar junto de nós quem mais gostamos, que estejam connosco o maior tempo possível, mas não nos apercebemos da sua condição de sofrimento, e da importância de os serenar e deixar partir” afirma, numa entrevista que é emitida hoje no Programa ‘70×7’ (17h30, RTP2).

A pandemia complicou o ato de cuidar, recebendo indicações dadas à janela pelos profissionais de saúde, uma presença que considera determinante para a gestão da dor neste processo de perda.

Susana Costa lembra, em particular, o conselho de uma médico, Lídia Rego que, nos momentos mais difíceis lhe fez ver a importância de deixar partir quem se ama.

“O meu marido está aqui no meu coração. O amor que ele sentia por mim é algo que guardo sempre em mim” refere Susana Costa, mostrando a aliança do casamento, pendurada ao pescoço.

A mulher e o filho do casal foram acompanhados por uma equipa de apoio ao luto, que tornou possível a gestão do sofrimento e trabalhar dimensões da vida que facilitem a superação.

“Eu não sabia da existência destas equipas” confessa a entrevistada.

A dor que sentia e a dificuldade de habitar o espaço onde durante tanto tempo tinha cuidado do marido, levou-a a pedir auxílio; já o filho trabalhou um processo de luto antecipatório.

“Recordo que um dia, no hospital ele se deitou na cama com o pai e lhe disse para não estar triste que gostava muito dele…  o pai chorava, mas aquele momento foi importante para ele e para o meu filho”, relata Susana Costa.

Foto: Agência ECCLESIA/HM

O acompanhamento levou-a a dividir os dias em etapas, “pequenos degraus que ajudam a subir para outra realidade”.

“Quando vou para casa, é para o meu filho. Estar sozinha, procuro ler um livro, pensar em algo. Percebi que o importante é o presente, o passado é para visitar com as memórias, mas sem tristeza”, acrescenta a entrevistada.

Susana Costa, que foi catequista na sua juventude, reconhece a importância de fé neste processo; marido não era praticante, mas manteve uma forte ligação a Nossa Senhora de Fátima.

“Numa das nossas idas a Fátima, disse ter rezado a Nossa Senhora não pela sua saúde, mas para que nada nos falte quando ele partisse”, recorda.

O programa ‘70×7’ aborda este domingo as várias dimensões do luto, antecipando a comemoração de todos os fiéis defuntos, no dia 2 de novembro, marcada pelas celebrações em memória dos que já partiram e a visita aos cemitérios.

Esta é uma tradição que remonta ao final do primeiro milénio: foi o Abade de cluny, Santo Odilão, quem no ano 998 determinou que em todos os mosteiros da sua Ordem se fizesse nesta data a evocação de todos os defuntos ‘desde o princípio até ao fim do mundo’.

Este costume depressa se espalhou: Roma oficializou-o no século XIV e no século XV foi concedido aos dominicanos de Valência (Espanha) o privilégio de celebrar três Missas neste dia, prática que se difundiu nos domínios espanhóis e portugueses e ainda na Polónia.

Durante a I Guerra Mundial, o Papa Bento XV generalizou esse uso em toda a Igreja (1915).

HM/OC

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