Jubileu: Padre José Luís Costa defende mudança na relação com os presos, sublinhando que a sua vida «não pode ficar em suspenso»

Pastoral Prisional quer propor «pórticos de esperança» nas cadeias

Foto: Agência ECCLESIA/MC

Lisboa, 04 jan 2025 (Ecclesia) – O coordenador nacional da Pastoral Penitenciária em Portugal disse que o Jubileu, convocado pelo Papa, deve promover uma mudança “cultural” na relação com os presos, assumindo a intenção de assinalar o Ano Santo com “pórticos de esperança”.

“Tivemos logo no dia 26 de dezembro a abertura de uma Porta Santa numa prisão, que é um gesto inédito”, recordou o padre José Luís Costa, em entrevista à Agência ECCLESIA.

A passagem do Papa pela prisão de Rebibbia, em Roma, é apresentada pelo sacerdote como uma “profecia radical deste pedido de transformação cultural que ele pede”.

“Avida [dos reclusos] não pode ficar em suspenso, não pode ficar em suspenso. E por isso é importantíssimo que, em termos políticos, por parte da Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais, encontrar parceiros de diálogo, parceiros na vida social”, aponta.

O coordenador sublinha a importância da reinserção, para que ninguém se “sinta um indivíduo que ainda está a ser perseguido por um mal que cometeu”.

“Seja através da educação, como um bem necessário e prioritário, seja até através da saúde e depois obviamente através de uma proximidade emocional, que também é necessária”, precisa.

O padre José Luís Costa defende a preparação de uma “rede” de acolhimento dos reclusos, que “passa também por relações de amizade, proximidade, e depois de humanização”.

Em causa, sustenta, está “a capacidade de continuar a acreditar que pode ser autónomo, pode ser novamente responsável por si mesmo, pelo seu pão de cada dia e pela capacidade novamente de reedificar e reconstruir a sua vida numa relação, obviamente, mais reconciliada com a própria sociedade”.

A Pastoral Penitenciária em Portugal, organismo da Igreja Católica, espera assinalar o Jubileu 2025 com “pórticos” inspirados no tema escolhido pelo Papa para este Ano Santo, a esperança, e uma significação “abrangente”, que possa ser “uma inspiração até para a própria comunidade prisional” e como “sinal de abertura para a liberdade”.

“Aqueles homens vão sair, um dia. Não podem ser processos adiados, situações que ninguém quer tocar. São projetos de esperança, que ali estão e deveriam ser construídos na esperança”, sustenta.

O responsável destaca o facto de Francisco ter querido assinalar o começo do Ano Santo numa cadeia e promover o Jubileu dos Reclusos já na sua reta final, a 14 de dezembro.

“Interpela-nos fortemente na nossa identidade cristã, para colocarmos a periferia no centro”, indica o padre José Luís Costa.

A opção que Jesus faz ao longo da sua vida pública é estar junto àqueles que são de periferia, não do centro, e mantém um ensinamento perfeitamente válido para aquilo que a Igreja deve ser hoje”.

Questionado sobre os apelos do Papa em favor do fim da pena de morte, o coordenador nacional da Pastoral Penitenciária destaca o “sentido prioritário da dignidade da vida”, no ensinamento católico.

“Não podemos ter um discurso sobre a interrupção voluntária da gravidez ou sobre a eutanásia e depois sermos omissos em questão à pena de morte”, acrescenta.

A conversa aborda a origem bíblica do Jubileu, a partida da cultura judaica, que propõe “o regresso à situação de reconciliação com o próprio Deus”.

Segundo a prescrição contida no capítulo 25 do Livro do Levítico, de sete em sete semanas, no quinquagésimo ano, a “trombeta de aclamação” (jobel) deveria soar para proclamar um “sábado” de 12 meses, durante o qual a terra devia descansar, as dívidas deviam ser perdoadas e os bens devolvidos à sua propriedade original.

“É uma construção social, cultural de um povo que percebe que, para se reconciliar consigo mesmo e com Deus, necessita de construir esta reconciliação a longo prazo, conseguindo relativizar aquilo que não é essencial”, indica o padre José Luís Costa, que fala num “grande sinal”.

Do ponto de vista da Pastoral Prisional, acrescenta, a reconciliação “não é só uma comunicação num canal, precisa de um segundo canal, o canal do outro, particularmente daquele que foi lesado, da vítima”.

“Penso que o conceito de justiça restaurativa nos pode ajudar a abrir alguns caminhos profundamente necessários, para não olharmos a questão do crime como algo que se resolve apenas na sua dimensão jurídica, porque ela tem uma dimensão social”, observa.

A entrevista vai ser emitida este domingo, pelas 06h00, no Programa ECCLESIA, na Antena 1 da rádio pública.

OC

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