JOC: «Emancipação jovem é uma realidade que afeta todos», afirma a Juventude Operária Católica

Campanha nacional do movimento da Igreja Católica em Portugal com futuro «incerto» alerta que «a exploração do trabalhador continua a existir»

Foto: JOC Portugal

Aveiro, 29 out 2024 (Ecclesia) – A Juventude Operária Católica (JOC) em Portugal alerta que “a exploração do trabalhador continua a existir”, no final da campanha nacional sobre a ‘Emancipação Jovem’, que vai continuar em reflexão e análise nos grupos deste movimento.

“Veio de uma necessidade comum dos jovens do movimento todos falarem sobre a emancipação, porque a JOC fala sobre realidades e não sobre temas. A dificuldade da emancipação jovem é uma realidade que afeta todos, comum a todos os jovens”, disse o presidente da JOC Portugal, esta terça-feira, em declarações à Agência ECCLESIA.

Pedro Esteves explicou que “uma realidade” a que todos chegaram, “as principais dificuldades que são as mais transversais”, são “os salários baixos, os créditos de habitação ou preços altos de arrendamento, as rendas altas, a dificuldade de compra de casa”.

“Algumas conclusões, chegadas no ‘agir’, que os militantes e os restos dos jovens tiveram, foi, por exemplo, decidir mudar de emprego, ou procurarem melhores formas de créditos à habitação. No fundo passa sempre por essas ações mais concretas, uma avaliação das ações”, acrescentou o jovem de 23 anos de idade, natural de Aveiro.

Através do método de Revisão de Vida dos grupos da ação católica, um grupo de trabalho fez o guião e foram lançando, ao longo de um ano e meio, o ‘ver, julgar, agir’, que os grupos refletiam e apresentavam as conclusões de cada etapa.

“E fomos descobrindo, por exemplo, várias vertentes de emancipação. Ou seja, não há só a emancipação sair da casa dos pais, por exemplo, é todo o âmbito de uma questão de emancipação social, uma emancipação, talvez, política. Nós temos que ter a capacidade de ter a nossa própria vida, as nossas próprias decisões, não só a capacidade financeira”, desenvolveu o entrevistado.

Foto: JOC Portugal

A campanha nacional da Juventude Operária Católica Portugal, que refletiu sobre a ‘Emancipação Jovem’, se é uma “realidade ou ilusão”, começou há cerca de um ano e meio, e terminou este sábado, dia 26 de outubro, com um encontro em Aveiro, onde os jocistas fizeram um peddy-paper e interpelaram as pessoas na rua.

“Foi interessante, as pessoas iam-nos respondendo, ou seja, olhavam-nos sempre com um cara estranha, mas isso é normal, as pessoas aproveitaram o seu sábado de manhã e aparecem grupos de jovens à frente, mas respondiam-nos e comentavam as suas dificuldades e as suas ideias também de emancipação. Portanto, foi bastante enriquecedor”, recordou Pedro Esteves.

Com sede em Lisboa, a Juventude Operária Católica está presente em quatro dioceses portuguesas – Aveiro, Leiria-Fátima, Porto e Santarém –, os grupos vão começar a refletir sobre “uma nova realidade”, até à Assembleia Nacional Ordinária, quando será anunciado o tema da próxima campanha nacional.

“À partida será até ao próximo setembro, será esse o tempo de reflexão para chegar a uma nova realidade, para dar tempo para assimilar e deixar para os grupos de trabalho poderem trabalhar. Ao longo do ano vão sendo lançados algumas reflexões para os grupos chegarem a uma conclusão”, explicou o responsável nacional da JOC.

No dia 12 de outubro, oito organizações católicas, onde se inclui a Juventude Operária Católica, lançaram o manifesto  ‘O Desafio do Trabalho Digno num mundo em mudança’, um documento que Pedro Esteves considera  “bem estruturado, tem os temas todos em dia e atualizados”, e, ao longo do ano, também vai ser promovido e “utilizado como material para reflexão”.

CB/PR

A Juventude Operária Católica nasceu na Bélgica, em 1925, por iniciativa do padre Joseph Cardijn e de um grupo de jovens trabalhadores; chegou a Portugal 10 anos mais tarde, em 1935, e, segundo o atual dirigente nacional, “o futuro é bastante incerto, o movimento não atravessa as melhores condições financeiras”, como se verifica pela ausência de “dirigentes livres, ou seja, pessoas que trabalham a tempo inteiro para o movimento”.

“O futuro é incerto e um pouco complicado, mas já dizia que Cardjin quando tiver dois ou três jovens enamorados pelo ideal, o movimento continua. Mesmo havendo, neste momento, poucos militantes, há bastantes ex-militantes dispostos a ajudar. É incerto e complicado, mas há futuro”, explicou Pedro Esteves.

Para o presidente da JOC Portugal, estudante de mestrado integrado em Engenharia Civil e “operário esporadicamente”, o movimento continua a ter futuro por causa “das dificuldades do mundo do trabalho que cada jovem sente”.

“As condições de vida melhoraram de modo geral, podia-se dizer que a exploração do trabalhador é algo que já começa a deixar de existir, porque também há mais leis laborais, mas a verdade é que a exploração do trabalhador continua a existir. Portanto, a realidade da JOC é sempre pertinente e atual, esperemos que essa mensagem vá chegando às pessoas e aos jovens, em particular”, concluiu o coordenador nacional.

 

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