Iraque: Papa justifica decisão de viajar, apesar de todos os riscos

Francisco diz que foi inspirado pela história de Nadia Murad, Nobel da Paz, antiga escrava do Estado Islâmico

Foto: Lusa/EPA

Cidade do Vaticano, 08 mar 2021 (Ecclesia) – O Papa disse hoje que decidiu visitar o Iraque com “consciência dos riscos” da pandemia, confiando em Deus, e revelou que foi inspirado pela história de Nadia Murad, Nobel da Paz, que foi escrava do Estado Islâmico.

“Pensei muito, rezei muito sobre isto e no fim tomei a decisão, que vinha verdadeiramente de dentro. E disse que Aquele [Deus] que me deixa decidir assim, trate das pessoas. Mas depois da oração e com consciência dos riscos”, referiu aos jornalistas, no voo de regresso a Roma, após a primeira visita ao país do Médio Oriente, iniciada na sexta-feira.

Francisco relatou que a ideia de uma visita ao Iraque nasceu por insistência de vários representantes diplomáticos do país, no Vaticano e na Itália, bem como pelo confronto com o relato dos abusos sofridos por Nadia Murad, com quem se encontrou pessoalmente em 2017.

“Quando ouvi a Nadia, que veio contar-me coisas terríveis … Todas essas coisas juntas fizeram a decisão, pensando em todos os problemas, muitos. No final a decisão veio e eu assumia-a”, indicou.

Recordando a sua viagem ao Iraque, Francisco sublinhou que “a vida dos cristãos é conturbada, mas não só dos cristãos, falamos dos yazidi”.

“Isso, não sei porque, deu-se uma força muito grande”, confessou.

Esta foi também a primeira visita desde o início da pandemia, em março de 2020, e o Papa assinalou que, durante estes meses de confinamento, se sentiu “na prisão”.

“Esta viagem, para mim, foi reviver. Reviver porque é tocar a Igreja, é tocar o povo santo de Deus, é tocar todos os povos. Um padre torna-se padre para servir, ao serviço do povo de Deus, não por carreirismo, não por dinheiro”, indicou.

Francisco admitiu que gostaria de retomar as audiências públicas semanais “assim que possível”, mas sublinha que segue “as regras das autoridades”, nesta matéria.

“Comecei de novo com o ângelus na praça, isso pode ser feito, com distanciamento”, acrescentou.

Sobre futuras viagens, Francisco admitiu que se cansou “muito mais” nesta visita ao Iraque e que os 84 anos de idade começam a cansar, mas confirmou que vai, ainda este ano, a Budapeste, para a Missa de encerramento do Congresso Eucarístico Internacional, admitindo uma passagem pela Eslováquia, país vizinho.

O Papa foi também questionado sobre uma possível visita à Argentina, indicando que a mesma esteve planeada para novembro de 2017 e acabou por não acontecer, rejeitando qualquer acusação de “patriafobia”.

“Quando surgir a oportunidade pode ser feito, porque há a Argentina, Uruguai e sul do Brasil”, indicou, falando em locais que ainda não visitou.

O Papa fez até hoje 33 viagens internacionais, nas quais visitou 50 países, passando pelo Brasil, Jordânia, Israel, Palestina, Coreia do Sul, Turquia, Sri Lanka, Filipinas, Equador, Bolívia, Paraguai, Cuba, Estados Unidos da América, Quénia, Uganda, República Centro-Africana, México, Arménia, Polónia, Geórgia, Azerbaijão, Suécia, Egito, Portugal, Colômbia, Mianmar, Bangladesh, Chile, Perú, Bélgica, Irlanda, Lituânia, Estónia, Letónia, Panamá, Emirados Árabes Unidos, Marrocos, Bulgária, Macedónia do Norte, Roménia, Moçambique, Madagáscar, Maurícia, Tailândia, Japão e Iraque; as cidades de Estrasburgo (França), onde esteve no Parlamento Europeu e o Conselho da Europa; Tirana (Albânia), Sarajevo (Bósnia-Herzegovina) e Lesbos (Grécia).

OC

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