Igreja/Trabalho: Revolução digital pode agravar desigualdades, alerta responsável da OIT

Mariana Pereira participou na conferência anual da Comissão Nacional Justiça e Paz, sobre o «trabalho digno»

Foto Agência ECCLESIA/PR

Lisboa, 12 out 2024 (Ecclesia) – Mariana Pereira, do escritório da OIT- Organização Internacional do Trabalho em Portugal, disse hoje que a revolução e transição tecnológica e digital pode gerar um “agravamento das desigualdades” no mundo laboral.

“Existe o risco de agravamento das desigualdades existentes, aumentando o fosso entre os trabalhadores mais qualificados com mais competências digitais e os menos qualificados”, referiu a responsável, convidada da conferência anual da Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP), organismo da Igreja Católica em Portugal.

A iniciativa, que decorre esta manhã, no Centro Cultural Franciscano, tem como tema ‘O desafio do trabalho digno num mundo em mudança’.

Mariana Pereira sublinhou que a OIT tem chamado a atenção para a “crescente utilização de algoritmos na organização, supervisão e avaliação” do trabalho, algoritmos “muitas vezes opacos, complexos, com enviesamentos que às vezes geram resultados injustos e difíceis”.

Ainda no quadro da revolução e transição tecnológica e digital, a responsável falou do aumento do trabalho remoto, com “óbvias vantagens e oportunidades”, mas também com “riscos que, por vezes, são desvalorizados”.

Para Mariana Pereira, do escritório da OIT em Portugal, a transformação do mundo do trabalho pode gerar “mais emprego, um saldo líquido positivo”, mas importa perceber “que emprego é que está a ser criado”.

A intervenção alertou para a “fraca autonomia, riscos de invasão da privacidade com ferramentas invasivas de supervisão, elevada intensidade do trabalho e fraca proteção social” dos trabalhadores, neste novo quadro.

A conferencista saudou os presentes e destacou a “visão comum de que o ser humano deve estar no centro do desenvolvimento económico e social de qualquer país”.

A intervenção aludiu ainda às transições climática e demográfica, com forte impacto no futuro do trabalho, a nível mundial.

A mesa-redonda teve ainda como interveniente José António Vieira da Silva, antigo do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, que destacou a importância de “emprego seguro, salários justos, condições seguras, proteção social, diálogo social, liberdade de intervenção e de organização dos trabalhadores”.

Foto Agência ECCLESIA/PR

O especialista rejeitou a ideia de que “o trabalho dependente ou assalariado vai desaparecer e vai ser substituto do trabalho independente”.

“Onde é que há menor incidência de desemprego? Nos empregados por conta de outrem. Ou seja, quando se diz que o trabalho não retira da pobreza, são principalmente as outras formas de trabalho”, observou.

O antigo governante afirmou que “os trabalhadores da plataforma são uma nova escravatura”, falando do trabalho digno como “um conceito absolutamente inultrapassável”.

Vieira da Silva aludiu às dinâmicas demográficas, realçando que “a pressão para as migrações vai aumentar”, nos continentes mais envelhecidos.

Olhando para a realidade portuguesa, o conferencista saudou a “revolução” provocada pela “mudança radical” das qualificações dos trabalhadores, com cada vez mais formação académica.

A conferência anual da CNJP encerra-se com a apresentação de um manifesto, em defesa do trabalho digno, por representantes de várias organizações católicas.

OC

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