Igreja/Portugal: Presidente da Cáritas de Coimbra alerta para risco de colapso das instituições sociais

Manuel Antunes manifesta ainda preocupação com «sobrevivência» do Serviço Nacional de Saúde

Foto: Agência ECCLESIA/HM

Coimbra, 15 out 2023 (Ecclesia) – O presidente da Cáritas de Coimbra alertou para o impacto da “alteração completa e dramática” do cenário económico sobre famílias e sobre as instituições sociais, perante o aumento dos pedidos de ajuda e a diminuição de recursos disponíveis.

“Todas as instituições deste tipo estão a ter grandes dificuldades, algumas até de sobrevivência. Não é o nosso caso ainda, mas vamos ver o que é que nos traz o futuro”, disse Manuel Antunes, convidado da entrevista semanal Ecclesia/Renascença, publicada e emitida aos domingos.

O responsável identifica um aumento de pedidos de ajuda, vindos de “pessoas que estão no fim da linha, que não conseguem cobrir as suas despesas e outras que não conseguem mesmo comprar o pão que precisam para sobreviver no dia a dia”.

“Todos os dias recebemos pedidos por causa das dificuldades das famílias, por causa das questões das rendas das casas e outro tipo de despesas que elas não podem comportar”, precisa.

As questões da habitação, particularmente dos estudantes universitários em Coimbra, são outra preocupação.

“Subsistem as dúvidas se o apoio que damos agora é suficiente, porque dar pão hoje não significa matar a fome para amanhã”, assume.

A Caritas Diocesana de Coimbra atende cerca de 15 mil pessoas por ano, enfrentando agora um aumento de pedidos de ajuda, sobretudo “apoio social ocasional”, num momento de “sobrecarga financeira” para as instituições sociais, face ao impacto da inflação e do aumento das despesas.

“O pior poderá estar para vir”, admite Manuel Antunes.

Se não houver uma intervenção mais musculada do Estado, no sentido de suportar as instituições – esta e as outras – todas correm os mesmos riscos”.

O entrevistado destaca que o aumento do salário mínimo, uma “necessidade” das pessoas, tem sido “muito superior” ao aumento das compartições, por parte da Segurança Social.

O médico e professor universitário alarga as preocupações ao Serviço Nacional de Saúde, “um bem inestimável”.

“Temo pela sobrevivência do Serviço Nacional de Saúde”, alerta.

O presidente da Cáritas de Coimbra acrescenta uma “preocupação grande”, que passa pela relação entre os serviços sociais e a saúde

“Por exemplo, nos cuidados continuados, há um programa, o chamado internamento social (…), mas ao fim de seis meses ficamos completamente fora dos apoios que estavam a ser dados e não podemos pôr as pessoas na rua, porque elas continuam a não ter o apoio familiar, a não ter residências para onde ir”, exemplifica.

Perante o atual cenário social e económico, Manuel Antunes pede um papel “mais ativo”, por parte dos responsáveis católicos.

“É altura de párocos e bispos também olharem para estas instituições e procurarem contribuir para as mesmas”, apela.

Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)

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