Igreja/Portugal: Eucaristia tem de ser lugar de «encontro» com quem sofre – D. José Cordeiro

Arcebispo de Braga projeta próximo Congresso Eucarístico Nacional e assume preocupação com situação em Pemba

Porto, 16 fev 2024 (Ecclesia) – O arcebispo de Braga afirmou que a celebração da Eucaristia deve promover o “encontro” com quem sofre, gerando o compromisso das comunidades católicas.

“A Eucaristia tem de ser o lugar do encontro com Cristo, para que o encontro com os irmãos, com os diferentes, com os migrantes, com as pessoas com deficiência, com os mais pobres, seja visibilizado nas celebrações e também fora das celebrações”, disse D. José Cordeiro, convidado da entrevista Ecclesia/Renascença, emitida e publicada aos domingos.

A cidade vai receber, de 31 de maio a 2 de junho, o V Congresso Eucarístico Nacional (CEN), 100 anos depois da sua primeira edição, que também aconteceu em Braga.

Para o arcebispo primaz, o tema escolhido, ‘Partilhar o Pão, alimentar a Esperança. «Reconheceram-n’O ao partir o Pão»’, está ligado ao dinamismo da JMJ 2023 e perspetiva o Jubileu 2025.

“Que todos se sintam convidados e todos participantes à mesa com Jesus na Eucaristia”, deseja.

O entrevistado entende que, com o aumento de um secularismo, se nota uma desafeição da Eucaristia, a que se somam os efeitos da pandemia de Covid-19.

“Há muitas comunidades que já se reencontraram, mas muitas outras ainda andam à procura e muitas pessoas refugiaram-se no virtual, em detrimento daquilo que é essencial, que é o presencial”, assume.

A Igreja não vive sem a Eucaristia, a Eucaristia é que faz a Igreja e a Igreja é que faz a Eucaristia, porque é ela o seu alimento natural, o alimento próprio dos cristãos, das comunidades é Eucaristia”.

O arcebispo de Braga espera que o V CEN seja “uma celebração festiva, um olhar na totalidade do Sacramento dos Sacramentos”.

“O Congresso vai ser também um momento decisivo para que esta consciencialização da Eucaristia possa acontecer”, aponta.

D. José Cordeiro tem defendido que a aposta seja na qualidade e não na quantidade de Missas, recordando quem vive “sem a Eucaristia, ali ao lado, e tem de peregrinar para ir à busca”.

“Nós desperdiçamos muito a Eucaristia”, lamenta.

O responsável admite que a reflexão sobre “menos missas e melhor Missa” é recebida com “alguma dificuldade nas comunidades.

“A diminuição das vocações sacerdotais, a diminuição dos párocos no contexto desta velha Europa, faz repensar o modo como nos aproximamos da Eucaristia e como a celebramos. Não a instrumentalizar nem coisificá-la, mas torná-la ainda mais o bem precioso e também muito raro, já em muitas comunidades”, sustentou.

O V CEN vai ter como gestos simbólicos a dádiva de sangue, durante dos três dias de encontro, e no final da Eucaristia conclusiva vão ser plantadas quatro árvores, no Monte do Sameiro.

O arcebispo de Braga assume que a crise provocada pelos casos de abusos sexuais deixou marcas, elogiando a resposta em termos de “formação, de reparação, de acolhimento das pessoas vítimas, de tudo aquilo que está ao alcance para aliviar o sofrimento”.

A entrevista abordou ainda a situação em Cabo Delgado, à luz do acordo de cooperação da Arquidiocese de Braga com a Diocese de Pemba, indicando que o sofrimento da população “não pode cair de modo algum no esquecimento”.

O responsável entende que a comunidade internacional “tem sido indiferente, tem assobiado para o lado, não quer saber, porque há muitos interesses em jogo”.

“Vive-se este momento de um novo temor na insegurança, que parece que volta a aproximar-se por esses grupos fundamentalistas e mais radicais, que não têm nenhum sentido de humanidade”, alerta.

Henrique Cunha (Rádio Renascença) e Octávio Carmo (Agência Ecclesia)

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