Igreja/Portugal: «A dimensão do servir é o que deve caracterizar a vida do sacerdote», disse antigo colaborado do Papa ao clero das dioceses do sul

D. José Rodríguez Carballo alertou que a solidão é uma das «doenças mais graves da Igreja»

Foto Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Albufeira, 16 jan 2024 (Ecclesia) – O arcebispo coadjutor de Mérida-Badajoz (Espanha) disse que “a dimensão do servir é o que deve caracterizar a vida do sacerdote”, na apresentação do tema ‘O panorama das Vocações Sacerdotais na Igreja Católica. Mudanças e Desafios’, ao clero das quatro dioceses do sul de Portugal.

“Ser servos e não senhores trata-se da nossa identidade porque é a identidade de Jesus. Não nos fizemos sacerdotes para nós. Fizemo-nos sacerdotes para os outros. Aqueles que têm a missão de dirigir na Igreja — papas, bispos, sacerdotes — são chamados a assumir não a mentalidade de líder, mas a de servo à imitação de Jesus”, explicou D. José Rodriguez Carballo, esta segunda-feira, na primeira conferência das jornadas de atualização do clero das Dioceses do Algarve, de Beja, de Évora e de Setúbal.

O antigo secretário do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica (Santa Sé) salientou que a ordenação presbiteral “exige de quem a recebe uma entrega total para servir o povo de Deus à imagem de Cristo esposo”, divulga o jornal algarvio ‘Folha do Domingo’.

“Unindo-se com Cristo e com os seus sentimentos de misericórdia, amor e compaixão, o sacerdote pode ser verdadeiramente um servo que colabora na alegria das pessoas que lhe foram confiadas, partilha a sua história”, acrescentou, na apresentação da reflexão ‘O panorama das Vocações Sacerdotais na Igreja Católica. Mudanças e Desafios’.

‘Presbíteros, «à imagem e semelhança» do Bom Pastor’ é o tema da jornada de atualização do clero das quatro dioceses do sul de Portugal continental, que conta com 77 elementos – 22 do Algarve, 10 de Beja, 27 de Évora e 18 de Setúbal, mais nove formadores -, e decorre até sexta-feira, em Albufeira.

“Se não amamos, não somos misericordiosos, compassivos e não temos a ternura do coração de Cristo seremos tudo menos sacerdotes à imagem de Cristo bom pastor; a dimensão do servir é o que deve caracterizar a vida do sacerdote”, realçou o antigo colaborado do Papa.

O arcebispo coadjutor de Mérida-Badajoz (Espanha) afirmou que “conhecer as ovelhas, caminhar com elas é fundamental no sacerdote”, senão serão funcionários, por isso, “proximidade entre o pastor e as ovelhas” também exige-se aos sacerdotes.

“Não é suficiente ouvir, é preciso escutar, deixar-se interrogar pelo que ouvimos para entrar na vida dos outros”, salientou D. José Rodriguez Carballo, convidando a não serem “profetas da desgraça”, porque “um padre não pode ser padre se não for profeta da esperança”.

O arcebispo, que pertence à Ordem dos Frades Menores, assinalou também a necessidade de “fomentar a fraternidade sacerdotal”, que é da “fraternidade religiosa”, porque “uma das doenças mais graves da Igreja hoje é a solidão”.

“Os religiosos que vivam em fraternidade religiosa e vós, diocesanos, em fraternidade diocesana”, referiu, pedindo aos sacerdotes que não se convertam em “prisioneiros do lamento e da resignação”, D. José Rodriguez Carballo alertou ainda para “o risco de apagar a paixão pelo ministério, um sacerdote tem de ser apaixonado”.

Na jornada de formação das dioceses do sul para além dos bispos das quatro dioceses, padres, diáconos e alguns dos seminaristas em final de formação, participam também o novo bispo eleito de São Tomé e Príncipe, D. João de Ceita Nazaré, nomeado pelo Papa Francisco no dia 9 de janeiro, e o bispo emérito do país lusófono, D. Manuel António dos Santos, que colabora nas paróquias de Tavira.

CB/PR

 

Foto Samuel Mendonça/Folha do Domingo

A formação, que decorre até sexta-feira, dia 19 de janeiro, é organizada pelo Instituto Superior de Teologia de Évora (ISTE).

“O mundo desafia-nos à renovação que deve acontecer sem deixar de ser o que somos e a Igreja necessita de pastores que estejam à altura desta evangélica missão: homens apaixonados por Cristo, modelo dos modelos, encarnados neste mundo, peritos em humanidade, servidores dos homens e das grandes causas do nosso tempo”, disse o diretor do ISTE, na sessão de abertura do encontro.

O padre Manuel António Rosário salientou que são necessários “pastores felizes, realizados, maduros, humildes, testemunhas credíveis” que reflitam na sua vida Cristo, e que “conduzam ao Mestre divino tantas vidas incompletas e insatisfeitas que anseiam por mais razões e sentido”.

“Não podemos desistir neste ingente trabalho de procurar encontrar, salientar e aprofundar as características mais adequadas aos pastores deste terceiro milénio da era cristã, marcada por mutações profundas que nos desafiam e colocam em causa paradigmas e posturas do passado”, acrescentou o diretor do ISTE, sobre o tema desta jornada de formação ‘Presbíteros, «à imagem e semelhança» do Bom Pastor’, informa o jornal ‘Folha do Domingo’.

Segundo o programa, esta terça-feira, o bispo franciscano, apresenta o tema ’Perfil do Presbítero para o Século XXI, que a Igreja e o Mundo esperam’, seguindo-se as intervenções de Francisco Machado, professor do ISTE, sobre ‘As qualidades humanas do pastor’, e do padre Juan Cuesta, reitor do Seminário de Segóvia (Espanha), que apresenta ‘O pastor: homem de fé enraizado em Deus’.

Na quarta-feira, terceiro dia de jornadas de formação, vão refletir sobre a ‘Importância da Liturgia na vida do pastor’ e sobre ‘Sagrada Escritura: identidade e missão do pastor’, respetivamente com o cónego Carlos de Aquino, professor do ISTE e sacerdote da Diocese do Algarve, e com o padre Álvaro Pereira Delgado, professor da Faculdade de Teologia de Santo Isidoro de Sevilha.

Ainda no dia 17 de janeiro, participam também o padre Francisco García, da Diocese de Zamora e professor da Universidade Pontifícia de Salamanca (Espanha), com ‘A formação teológica/intelectual do pastor”, e D. José Alves, arcebispo emérito de Évora, apresenta ‘A vida pastoral: pastor ou gestor? Servidor ou senhor?’.

Para os dois últimos dias de formação, 18 e 19 de janeiro, quinta e sexta-feira, foram convidados o padre Joaquim Teixeira, da Ordem dos Carmelitas Descalços, que vai refletir sobre ‘conselhos evangélicos’ da ‘Pobreza, castidade e obediência na vida do pastor’, e o bispo de Coimbra, D. Virgílio Antunes, com o tema ‘A espiritualidade mariana na vida do Presbítero’.

CB

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