Igreja/Política: Presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz defende reflexão sobre «voto de protesto»

Pedro Vaz Patto alerta para perigo de «ostracizar» eleitores, apelando ao diálogo

Foto: Agência ECCLESIA/OC

Lisboa, 17 mar 2024 (Eclesia) – O presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) apelou a uma reflexão sobre o “voto de protesto” nas legislativas do último dia 10, sem “ostracizar” eleitores pela sua escolha política.

“Podemos dialogar mesmo com pessoas que têm visões extremistas e que não deixam de ter o seu lugar nos debates públicos”, indica Pedro Vaz Patto, convidado da entrevista Ecclesia/Renascença, emitida e publicada semanalmente aos domingos.

A taxa de abstenção nas eleições legislativas situou-se nos 33,77%, a mais baixa desde 1999, quando ficou nos 38,91%; os números deixam de fora os eleitores residentes no estrangeiro, dado que estes valores vão ser conhecidos a 20 de março.

Para o presidente da CNJP, é necessário dialogar sobre os resultados, “sem pura e simplesmente ostracizar as pessoas”, “sabendo que a verdade vem sempre ao de cima”.

“Temos a possibilidade de argumentar no sentido de demonstrar que não têm fundamento as propostas contrárias aos direitos humanos”, acrescenta.

Para o jurista, é importante ainda debater e até “rejeitar” propostas políticas, analisando-as “à luz da Doutrina Social da Igreja” sem descartar automaticamente qualquer partido.

“Não devemos fugir ao debate, ao diálogo também em relação a essas propostas, porque me parece contraproducente simplesmente fechar, nem sequer discutir estas questões e marginalizar as pessoas que as defendem”, insiste.

Pedro Vaz Patto admite o risco de “ingovernabilidade”, desejando que os responsáveis políticos venham a “fazer tudo para o evitar”.

“Não se pode pensar em aumentos salariais sem haver crescimento económico e a instabilidade pode-se refletir nesse campo da economia”, adverte.

Da parte de organismos da Igreja tem havido vários apelos, também no sentido de promover o diálogo entre católicos, no sentido de refletir sobre aquilo que se espera dos novos deputados e do novo governo. Também a Comissão Nacional de Justiça e Paz faz este apelo a colocar o bem comum acima de tudo, acima destas divergências”.

O responsável sustenta que a democracia “também é feita das negociações, dos compromissos”, que devem existir, por exemplo, na questão do “acesso à habitação”, que não se resolve com “soluções mágicas”.

Foto: Agência ECCLESIA/OC

“O mercado também tem aqui algum papel e é importante ter em conta aquilo que são as regras do mercado, sem esperar dele a solução para tudo, mas também sem o ignorar e sem pensar que o Estado também resolve tudo”, indica.

Num novo cenário político, e após a provedora de Justiça ter requerido a inconstitucionalidade da lei de eutanásia, Pedro Vaz Patto espera que o tema seja retomado.

“Não reagimos com a mesma indignação como reagimos quando há outro tipo de violações dos direitos humanos, que são propostas por correntes extremistas, mas em meu entender também esta é uma forma de extremismo, contrário à vida humana, quer na fase inicial, quer na fase final”, declara.

Para o presidente da CNJP, “deve haver uma coerência no sentido da proteção da vida desde o seu início até ao fim”, em todas as suas fases, “também quando é posta em causa a vida das pessoas inocentes que são vítimas de guerra, quando se pretende salvar a vida dos imigrantes que atravessam o Mediterrâneo”.

Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)

 

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