Idosos: «Instituições estão de rastos», alerta provedor da Misericórdia do Porto

António Tavares defende investimento para novas respostas no acompanhamento dos idosos

Foto: SCMP

Porto, 01 out 2022 (Ecclesia) – António Tavares, provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto (SCMP), alertou para o impacto das sucessivas crises sobre as Instituições Sociais, em Portugal, e pediu investimento no setor para criar respostas de acompanhamento aos idosos.

“As Instituições, neste momento, estão de rastos. As Instituições estão a passar uma crise brutal, do ponto de vista financeiro”, advertiu o responsável, em entrevista à Renascença e Agência ECCLESIA, emitida e publicada hoje.

António Tavares observa que os resultados destas organizações “são sistematicamente deficitários”, lamentando que o Estado pague “abaixo do preço de custo”.

“A situação é muito complicada, muito difícil. Espero que se consiga ultrapassar, a curto prazo, porque têm sido 10 anos de dificuldades – troika, pandemia e agora a guerra”, precisoa.

Numa entrevista a respeito do Dia Internacional do Idoso, o provedor da SCMP sustenta que “a institucionalização não é a resposta” para os mais velhos.

“A resposta é poder ficar em casa até ao mais tarde possível”, assinala, desejando que todos possam “ficar em casa a viver o máximo possível no seu ambiente, naquilo que as pessoas gostam e conhecem bem e ao mesmo tempo também permitir que as pessoas possam ter alternativas a essa institucionalização”.

O entrevistado destaca que “uma das alternativas à institucionalização é o chamado co-housing – isto é, a habitação partilhada”.

O Dia Internacional do Idoso, comemorado anualmente a 1 de outubro, foi criado em 1991 pela Organização das Nações Unidas (ONU), com o objetivo de sensibilizar a sociedade mundial para as questões do envelhecimento.

O lema deste ano é “Resiliência das pessoas idosas num mundo em mudança” (OMS,2022).

António Tavares mostrou-se preocupado com o impacto da crise económica e social que o país enfrentar, considerando que “os idosos inevitavelmente serão as maiores vítimas deste problema”.

“São os mais indefesos, são aqueles que precisam de mais cuidados de saúde, são aqueles que têm as suas pensões extremamente reduzidas, as suas reformas com valores perfeitamente irrisórios e estão, portanto, desarmados”, advertiu.

António Tavares espera que o novo CEO do Serviço Nacional de Saúde (SNS), Fernando Araújo, promova “a cooperação entre as instituições, a cooperação entre os vários sectores da economia social e do Estado”.

O provedor da SCMP defende “mecanismos de prevenção e mecanismos de auditoria permanente”, lamentando que o Estado não seja “generoso com as instituições”, embora registe maior sensibilidade para apoiar despesas ligadas a “apoio médico e de enfermagem”.

“Precisamos de uma nova geração de equipamentos sociais, precisamos de ter dinheiro para remodelar”; indica.

O entrevistado entende que o PRR “não foi simpático” para as Instituições, porque “apenas apostou em novos equipamentos, esquecendo a necessidade de remodelar os equipamentos que existem”.

Num olhar sobre os últimos anos, o entrevistado realça que a Covid-19 vai “deixar uma cicatriz, a cicatriza da solidão, do medo, do isolamento”.

Quanto ao futuro, António Tavares considera que “o sistema social está preparado para enfrentar esta nova fase e o Estado não se tem demitido das suas funções”.

“Quero acreditar que Instituições, famílias, idosos, todos juntos vamos conseguir ultrapassar esta crise”, acrescenta.

O responsável da SCMP fala das vítimas de maus-tratos, na velhice, e considera que “o principal crime será o abandono”.

“Quando se junta o abandono à violência, estamos num domínio que atenta contra a dignidade humana, da pessoa concreta que é idoso”, alerta.

António Tavares afirma que a prevenção só é possível se “as equipas que estão no terreno tiverem capacidade técnica para apoiar”.

“Gostaria de deixar um elogio à PSP e à GNR, que têm trabalhado muito nesse domínio e são hoje, indiscutivelmente, os primeiros a defender os idosos, a sinalizar situações menos boas, para que depois as Instituições possam responder”, conclui.

Octávio Carmo (Ecclesia) e Henrique Cunha (Renascença)

 

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