Homilia de D. António Francisco Santos na Eucaristia da Bênção dos Finalistas

“Firma os teus passos. Afirma a tua Fé”

Caros Finalistas
1.Este é o dia feliz e sonhado da Bênção dos Finalistas.

À vossa alegria de estudantes, juntam-se a felicidade das famílias e a consciência do dever cumprido das escolas. As vossas famílias, que hoje aqui acorrem em tão grande número, e as nossas escolas, que hoje vos exprimem um singular carinho, ajudaram-vos a crescer em humanidade e em sabedoria e a percorrer com sucesso o caminho do saber que aqui vos conduz.

Aveiro, cidade e diocese, que sempre vos ofereceu o seu afeto e vos abriu as portas da vida e da fé, envolve-vos neste abraço de alegria e está convosco nesta celebração de bênção.

A Universidade será sempre um farol de luz a iluminar o horizonte dos vossos caminhos na observação do mundo, no encontro com o desígnio do amanhã e nos compromissos profissionais que ides assumir. Ela moldou-vos a inteligência e o coração e marcará para sempre o rumo do vosso futuro.

Estamos aqui para vos dizer que permanecereis connosco na recordação das horas vividas, da amizade partilhada, do trabalho realizado e da fé celebrada. Estamos convosco para, unidos, olharmos o futuro com esperança. Viemos aqui, caríssimos estudantes, para convosco nos revigorarmos, em esperança e em entusiasmo.

A Bênção dos Finalistas tem certamente maior significado nestes tempos difíceis que vivemos e encontra particular sentido no contexto do nosso Plano Diocesano de Pastoral, para que sejamos “Igreja orante, lugar de esperança para o mundo”.

Torna-se urgente o apelo para “firmarmos os nossos passos” no rumo certo do amanhã e para “afirmarmos a nossa fé”, que nos leva a olhar em frente e a ver mais longe: para lá do tempo que passa, das coisas efémeras que perdem valor, das preocupações que nos inquietam e dos medos que nos assaltam.

O Santo Padre Bento XVI lembrava ontem, em Roma, à Academia da Universidade Católica Italiana que, perante os desafios dos tempos que vivemos, cheios de incertezas sem precedentes, os estudantes devem ter uma orientação consistente para a verdade e devem ser capazes duma procura exigente, humilde e corajosa da justiça e do bem.

Deus, revelado em Jesus Cristo e celebrado em Igreja, está aqui, na origem e no coração de quem começa com alegria e com entusiasmo e no horizonte e na meta de quem se abre ao futuro com coragem e com esperança.

Jesus Cristo precede-vos no caminho, como outrora fez com os seus discípulos, depois da páscoa, e acompanha-vos neste jeito terno e discreto de quem está próximo de vós. Ele é cúmplice do bem que realizais e está solidário convosco em tantos gestos e através de tantas pessoas, que vos ajudaram no decurso do tempo a “firmar os vossos passos e a afirmar a vossa fé”, o vosso valor, o vosso talento e a vossa esperança.

Convido-vos, caros Finalistas, a viverdes este momento de Bênção com alegria, com fé e com esperança. Este momento, que é essencialmente vosso, constitui para nós um sinal belo e um gesto significativo a dizer-nos a todos que convosco é necessário construir um mundo novo e é possível acreditar num futuro melhor.

2. S. Pedro, na segunda leitura, dizia-nos: «Caríssimos: aproximai-vos do Senhor Jesus, que é a pedra viva, rejeitada pelos homens, mas escolhida e preciosa aos olhos de Deus» ( 1 Ped 2, 4-9).

Ele falava do seu conhecimento e da sua experiência de vida. Foi do Senhor Jesus que se aproximaram os Apóstolos e através deles, a partir do Pentecostes, se aproximaram os cristãos ao longo da história da Igreja. É nesta proximidade de Jesus e na força da Palavra de Deus, que se ia divulgando cada vez mais, como nos diz a leitura dos Atos dos Apóstolos, que o número dos discípulos aumentava consideravelmente na cidade de Jerusalém. Que seja assim também na nossa cidade de Aveiro, com a presença de todos vós, caríssimos finalistas, que procurais e pedis a Bênção de Deus, para dar graças pelo tempo que agora se cumpre e completa e pela vida que hoje nasce e daqui parte.

No Evangelho, aqui e agora proclamado, Jesus aconselhava os discípulos a que não se perturbasse o seu coração. Estranho e paradoxal conselho este de Jesus! Quero, também eu, aconselhar-vos, caríssimos finalistas, a que não se perturbe o vosso coração, mesmo que o espetro de tempos difíceis se apodere de nós e sobretudo de vós jovens.

Também para vós, a vida é uma caminhada e Jesus é o caminho. É Jesus Cristo que no caminho da vida nos ajuda a ir em frente, a alimentar a força da esperança e a acreditar que a vida tem sentido diferente e valor maior. As coisas têm preço mas só a vida tem valor sagrado. “Escolhe a vida e viverás”, é o tema da Semana da Vida, que hoje celebramos.

Por outro lado sabemos que o caminho tem de se fazer na verdade. É a verdade que vós, jovens, tanto procurais e corajosamente defendeis.

Vós jovens, sois exigentes connosco adultos para que sejamos verdadeiros. Na vossa idade, a verdade tem valor singular e é dom precioso. A mentira não tem lugar no vosso coração nem cabe nos paradigmas do vosso viver.

É normal, porém, que vos interrogueis, que tenhais dúvidas, sobre a Vida, sobre o Caminho e sobre a Verdade.

As dúvidas, aparentemente ingénuas, de Tomé expressas no Evangelho são as dúvidas dos jovens de hoje. São as dúvidas legítimas e honestas de tantos dos nossos contemporâneos. E a Igreja deve dar tempo e espaço a este questionamento sério e é chamada a dialogar convosco sobre as vossas interrogações.

O desejo de Filipe, que pedia no Evangelho a Jesus: «Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta», é também o nosso desejo.

Jesus é a nossa referência fundamental, a verdade procurada, o caminho a percorrer, a vida a sonhar e a construir.

Os dons do Espírito Santo recebidos pelos Apóstolos no Pentecostes deram início à Igreja e fizeram dos discípulos mensageiros do Ressuscitado e iniciadores de comunidades cristãs.

Os dons por vós recebidos ao longo do tempo de estudantes, e que este momento de Bênção confirma e consagra, são dados para a mesma missão: anunciar o Ressuscitado, fortalecer a fé e abrir as portas do saber adquirido e das competências alcançadas ao mundo que é o nosso e que só terá futuro se souber contar convosco.

Convido-vos, na perspetiva das Jornadas Mundiais da Juventude, a realizar em Madrid com o Papa Bento XVI, em agosto próximo, a viverdes «enraizados e edificados em Cristo e firmes na fé». Não se perturbe o vosso coração. Não temais. Cristo vai ao leme.

No seu mais recente livro, Tesouro escondido, o padre José Tolentino Mendonça, biblista e poeta, pergunta: «Sabes o que é uma árvore grande?» E ele próprio adianta a resposta: «Uma árvore grande é uma semente que cresce em silêncio». Sede assim vós, também, sempre e em toda a parte, árvores grandes que nunca esquecem a semente pequenina que daqui levais e que em vós cresce em silêncio.

Que Nossa Senhora, Mãe de Deus e nossa Mãe a todos proteja e abençoe.

D. António Francisco dos Santos, Bispo de Aveiro
Campus da Universidade de Aveiro, 22 de maio de 2011

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