Fátima: D. José Ornelas condena lógica «infernal» da guerra

Primeira celebração enquanto bispo diocesano, na Cova da Iria, traçou paralelos entre a situação atual e as Aparições de 1917

Foto: Lusa/EPA

Fátima, 20 mar 2022 (Ecclesia) – O bispo da Diocese de Leiria-Fátima condenou hoje na Cova da Iria a lógica “infernal” da guerra, apelando ao fim do conflito na Ucrânia.

“A guerra a que assistimos no leste Europeu é bem o exemplo desse jogo infernal do recurso à violência para submeter, escravizar, destruir, baseado numa visão de estratégia pessoal, de grupo ou de nação, que se arroga o direito de anular a liberdade dos outros e de os levar à sujeição”, referiu D. José Ornelas, na Basílica da Santíssima Trindade, durante a homilia da Missa a que presidiu esta manhã.

Na primeira celebração a que presidiu no Santuário de Fátima, enquanto responsável pela diocese local, o também presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) convidou todos a um “novo modo de pensar”.

“Não podemos deixar de condenar estes modos de pensar e de agir. Por outro lado também não podemos entrar na lógica da resposta igual, mesmo quando se trata do dever de deter a mão dos tiranos”, observou, numa celebração com transmissão online.

Os povos da Ucrânia e da Rússia são filhos e filhas de Deus e o mundo tem necessidade deles dois. É urgente a conversão de mentes e, mais urgente ainda, cuidar das vítimas da maior loucura humana, que é a guerra”.

D. José Ornelas sustentou que “nunca haverá vitória nestes conflitos”.

“As vitórias militares contam-se em mortes, ódio e sofrimento que semeiam, sobretudo dos mais fracos. A única vitória é a paz e a reconciliação”, destacou o novo bispo de Leiria-Fátima.

Foro: Santuário de Fátima

O presidente da CEP traçou paralelos entre a situação atual da humanidade e o cenário das Aparições aos três pastorinhos, entre maio e outubro de 1917, “durante a sangrenta I Guerra Mundial, a revolução russa e uma pandemia”.

“Perante a loucura dramática da guerra, a Mãe Maria, dedica a sua atenção e carinho a estas crianças simples e iletradas. Não lhes esconde o horror da guerra, mas infunde-lhes uma coragem tal, muito superior à sua idade, para vencerem o medo, com a confiança na força e no carinho de Deus, cujo Coração, diz Ela, está ferido pelo horror e a perversão da humanidade”, declarou.

A intervenção evocou as mães que saem da Ucrânia, com as suas crianças, e que as procuram ajudar a entender “o drama que as atinge”.

“Estas mães são dignas de toda a nossa estima, de todo o nosso apoio e acolhimento”, prosseguiu.

Maria, Mãe e modelo da Igreja, pode ser vista nos milhares de mães que estão a sair da Ucrânia com as suas crianças e os seus idosos. Ela sabe o que é fugir da fúria dos tiranos, ser refugiada, depender da boa vontade de gente desconhecida, para proteger o seu Menino, o seu tesouro, a esperança de um futuro melhor”.

O presidente da CEP elogiou a resposta solidária a esta “tragédia humana”, no acolhimento e na ajuda.

“São sementes positivas de bem que, paradoxalmente, vão caindo nos escombros de milhões de vidas causados pela violência e a morte”, indicou.

A intervenção apelou a uma “Igreja que cuida”, junto da morte e da destruição, deixando votos de que Fátima seja “O Santuário da misericórdia, do acolhimento, aberto a todos, como ele está”.

“Estamos ao serviço do projeto misericordioso de Deus”, apontou D. José Ornelas.

O bispo da Diocese de Leiria-Fátima desejou que a Igreja Católica esteja “unida pelo Espírito de comunhão e partilha entre os irmãos e irmãs”, sendo “generosa no acolhimento e no apoio fraterno a quem precisa”.

No início da Missa, D. José Ornelas apresentou-se aos peregrinos, convidando todos a “uma verdadeira conversão de mente, coração e atitudes para entender e aderir ao projeto libertador e salvador de Deus”.

“Tendo em conta também a dramática situação que se vive na Ucrânia, acolhamos este convite à conversão, que nos vem do Evangelho e que ecoa em toda a Mensagem de Fátima, e reconheçamos as nossa culpas”, afirmou.

D. José Ornelas tomou posse como bispo de Leiria-Fátima, a 13 de março, sucedendo no cargo ao cardeal D. António Marto.

Falando aos jornalistas, após a Missa, o novo bispo diocesano falou da consagração da Rússia e da Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria, a que o Papa vai presidir esta sexta-feira, no Vaticano, em ligação com Fátima.

“Ambos os países têm de ser objeto de uma cura, não só pelas vítimas, mas também por quem causa dano a estas vítimas possa repensar e encontrar caminhos para o futuro”, indicou D. José Ornelas.

OC

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