Família: Discernimento vocacional deveria ser «obrigatório», em especial para o Matrimónio – Carlota Paupério Silva

Fisioterapeuta de profissão, optou por reduzir o horário laboral para acompanhar cada um dos filhos

Foto: Agência ECCLESIA/MC

Lisboa, 15 jun 2022 – Carlota Paupério Silva, fisioterapeuta, casada com José Silva e mãe de seis filhos, afirma que o discernimento vocacional deveria ser “obrigatório”, em especial, para a vocação matrimonial, que, explica, “não é um passo social”.

“Quando conheci o José estava em discernimento vocacional. É um tabu muito grande. A sociedade tem um calendário social. O discernimento devia ser obrigatório principalmente para quem casa, porque o matrimónio deve ser uma vocação, não um passo social. Quando o José chegou à minha vida achei que era um grande amigo, e achei ótimo, e só depois quando me percebi apaixonada, percebi que o caminho já seria outro, porque não vi um apoio mas um companheiro de caminho”, explica à Agência ECCLESIA.

A fisioterapeuta esclarece que numa relação de casal importa “caminhar unidos na mesma direção”, mas sem que nenhum deixe de ser quem é: “Sem deixar de ser quem somos e a procurar, cada vez mais, ser quem somos, ser quem eu sou e quem eu e o José somos”.

Juntos há 17 anos, e casados desde 2010, Carlota e José têm seis filhos – Agostinho, Francisco, Teresa, Graça, Tomé e Isabel, “rebeldes educados”, mas “amados como eles são”.

“Eu e o José conseguimos dizer que não os educamos da mesma maneira, mas segundo os mesmos princípios: respeito, amor-próprio e amor ao próximo, sentido de comunidade e de responsabilidade, mas não da mesma maneira porque eles não são iguais”.

Carlota fala no respeito que procuram ter para que os seus filhos “descubram quem são” e os próprios pais possam participar nessa descoberta.

Os filhos não são nossos, são-nos emprestados, confiados, e é-nos pedido para os acompanhar na sua missão, não na nossa, nós temos outra. Ainda não descobri qual a sua missão no mundo – a sua vida ainda está a acontecer – mas já descobri algumas missões deles comigo”.

A Graça, recorda, “é uma filha que está no céu e que esteve 20 semanas connosco”.

“A Graça veio dar-nos missão também. Ensinar-nos a confiar, e a pedir o dom da confiança, da entrega, de perceber que até podemos não perceber porque é que ela morreu, mas podemos transformar a pergunta num «para quê?» e perguntar à Graça e ir descobrindo esta resposta”, conta.

Carlota e José decidiram não esconder a vida de 20 semanas da Graça e a sua experiência revelou-se redentora para outros casais, ajudando a falar da “dor e do luto” do aborto.

Quando falamos da Graça não temos medo de falar do aborto, uma palavra com muita carga negativa, porque a tem, que revela uma tristeza que não faz mal. São feridas que se curam com amor, com relação, cá e lá: estamos a fazer o trabalho de curar a cicatriz do lado de fora e a Graça ajuda-nos a curar a cicatriz do lado de dentro”.

Após a Graça, o casal “abriu inscrições” para ter mais filhos e nasceram os gémeos Tomé e Isabel.

“O Tomé nasceu com uma cardiopatia grave, associada à Trissomia 21, mas que foi resolvida com meses de vida. Rezei pela vida do Tomé, pedi para ele se aguentar, mas esquecemo-nos muitas vezes de entregar. Devemos pedir mas devemos também confiar e entregar”, recorda.

Carlota assume a sua vocação na maternidade mas acrescenta que a sua vocação profissional é ser fisioterapeuta, um trabalho que afirma “amar” e que lhe permite “chegar a mundos belíssimos dentro das pessoas”.

Com o nascimento dos filhos, o casal optou pela redução da carga laboral da Carlota para poder acompanhar e ter tempo para eles.

“Não me sinto anulada. É uma escolha óbvia nesta fase da nossa vida em que os miúdos são pequenos. Sinto falta de tratar outras pessoas e há-de chegar o tempo em que vou alargar o horário de trabalho porque os filhos já não precisam tanto. Esse sonho não desaparece”, sublinha.

A conversa com Carlota Paupério Silva pode ser acompanhada esta madrugada, pouco depois da meia-noite, no programa Ecclesia na Antena 1 e escutada, posteriormente, no portal de informação ou em formato podcast.

LS

Partilhar:
Scroll to Top