Évora: Comissão Justiça e Paz vai estar atenta à «desertificação do interior»

«O silêncio da Igreja, dos cristãos, pode ser grave, pode ser uma abstenção ou mesmo omissão» – D. Francisco Senra Coelho

Évora, 06 jul  2019 (Ecclesia) – O arcebispo de Évora afirmou que o “desinvestimento do interior é muito grave”, porque não se deve “cuidar apenas daquilo que dá lucro”, e é um dos temas que vai ser analisado pela nova Comissão Justiça e Paz.

“Temos o investimento social de populações que serviram, durante décadas, a comunidade e, agora, no seu envelhecimento têm de ser cuidadas e o interior do país vive uma situação preocupante”, disse D. Francisco Senra Coelho em declarações à Agência ECCLESIA.

O arcebispo alerta que “tudo convida as pessoas a sair do interior”, como o “desinvestimento” nas escolas, nos postos de saúde, nos postos de diversos atendimentos públicos, sem referir os casos “dos CTT e dos bancos”, e, “agora, até parece, na conservação das próprias estradas”.

O responsável da Arquidiocese de Évora, desde setembro de 2018, observa que o interior vai ficar sem população uma vez que “a mais jovem sai” e “a problemática do desinvestimento do interior é muito grave”: “Fica o património sem ninguém que o cuide – arquitetónico, cultural, imaterial mas também o cinegético e o património florestal”.

“Chegamos um ponto em que os idosos começam a estar em circunstâncias tais que, às vezes, já não temos pessoas para tratar dos idosos, ou seja, a emigração vai ter que ser um facto porque há instituições que não têm capacidade de recrutar funcionários. IPSS, incluindo centros sociais e paroquiais, e até Santas Casas da Misericórdia, começa a faltar mão-de-obra, ou seja, aldeias inteiras de idosos”, desenvolveu.

Nas mais recentes nomeações pastorais, o arcebispo de Évora anunciou a nova Comissão Justiça e Paz e a “dimensão da desertificação do interior tem de ser um tema” desta equipa, como as “novas formas de exploração, a escravatura”, entre outros, uma vez que não se deve “cuidar apenas daquilo que dá lucro”.

O presidente é Luís Miguel Sebastião, o vice-presidente Maria Ferreira, os vogais Hélder Perdigão e Luís Serra com a assistência espiritual do cónego Silvestre Marques que são “pessoas atentas, estão situadas no local” e vão fazer “propostas com o relevo próprio da competência” porque não se pode ter “afirmações irrelevantes ou genéricas”.

D. Francisco Senra Coelho Foto AE/MC

“Vão selecionar temas que nos parecem de maior premência, vão refleti-los e fazer declarações segundo a Doutrina Social da Igreja e o parecer evangélico com o pensamento cristão e leitura do mundo e da realidade com olhar cristão; Sugerindo caminhos e também propostas para que se encare de maneira diferente e não fiquemos alheados ou indiferentes a problemas”, explicou D. Francisco Senra Coelho.

Neste âmbito, adianta que a comissão “também põe muita esperança” na sua “visão de pastor, que saiba ler o momento” que se vive e “fazer luz profética” para problemáticas “muito graves e atuais” e que “passam à margem do que, muitas vezes, é a superficialidade de uma análise apenas com critérios imediatistas sobretudo centrados no populismo e aquisição de votos”.

O arcebispo de Évora destaca que “o silêncio da Igreja, dos cristãos pode ser grave, pode ser uma abstenção, ou mesmo omissão” e a Comissão Justiça e Paz, “que reflete com base e critério científico de averiguação com preocupação hermenêutica, contextual, axiológica”, vai apoiar o bispo na sua mensagem e análise para ter “atenção daqueles que querem resolver os problemas de uma região e de um povo”.

A arquidiocese do interior alentejano e alto-alentejo tem também territórios que pertencem ao Ribatejo, como Samora Correia, Benavente, Porto Alto e Coruche, e do Distrito de Setúbal, como Alcácer do Sal.

CB

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