Esperança

Octávio Carmo, Agência ECCLESIA

O Papa Francisco apresentou esta semana uma mensagem dirigida aos jornalistas de todo o mundo. O desafio é muito interessante e talvez vá para lá do que seja humanamente possível fazer neste momento: acreditar nas boas notícias. Não que elas não existam e não mereçam – até mais do que todas as outras – o seu lugar ao sol no terreiro mediático. Apenas porque já há algum tempo que as prioridades são quantificáveis – cliques, lucros, etc. – e isso traz dificuldades acrescidas a quem está no terreno, constantemente pressionado e sem tempo para tirar os olhos do lugar para onde todos os outros estão a olhar – mesmo que não se veja nada.

Em já várias intervenções, o Papa tem dito que a sua mensagem é de esperança, não de otimismo, ou seja, vai muito para além da superfície, de alguma ingenuidade na análise, para procurar no coração da humanidade e do divino a força capaz de transformar a realidade. A partir de pequenos gestos, sempre.

É por isso que a mensagem para o 51.º Dia Mundial das Comunicações Sociais é também para todos os que comunicam e não apenas para os profissionais do setor. A mudança começa em pequenos gestos, nas redes sociais, nas caixas de comentários, nas escolhas que se fazem com o comando da TV.

Em conversa com alguém que muito admiro e que, por força da exposição pública, acaba por receber muitas reações negativas/destrutivas ao que transmite, surgiu uma questão interessante: na maior parte dos casos, os elogios chegam de forma privada, mas as más críticas são publicadas de imediato. A sua tese é que elogiamos para falar ao outro e criticamos para que os outros nos ouçam, colocando-nos por isso numa posição de superioridade.

A mudança que o Papa Francisco propõe não depende das hierarquias, das empresas de comunicação, dos grandes grupos nem mesmo de uma radical transformação do cenário mediático. Depende de cada um promover uma comunicação de rosto mais humano, sincera, aberto ao que de bom se encontra, mesmo em pessoas que não partilham os mesmos valores e convicções. Não é o Google nem qualquer plataforma de stream que vão resolver o problema humano (não tecnológico) de nos relacionarmos verdadeiramente. Haja esperança.

Octávio Carmo

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