Especial: O Sínodo onde «todas as vozes contam»

Participantes apontam à criação de novas estruturas sinodais, com maior participação dos leigos, e pedem Igreja cada vez mais aberta ao diálogo

Foto: Vatican Media

Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA a Roma

Cidade do Vaticano, 10 out 2021 (Ecclesia) – A irmã Nathalie Becquart, subsecretária do Sínodo e coordenadora da Comissão de Metodologia, disse que o processo sinodal que decorre até 2023 quer contar com a participação de todos, dentro ou à margem da Igreja Católica.

“Todas as vozes contam. A Igreja precisa de todos, hoje, para discernir – porque é esse o verdadeiro repto do Sínodo – como ser Igreja ao serviço de todos, colocando-se à escuta do Espírito Santo”, disse à Agência ECCLESIA.

A religiosa francesa, primeira mulher com direito a voto numa assembleia sinodal, destaca que “uma Igreja sinodal é uma Igreja inclusiva, onde todos e todas são atores”.

“A verdade é que a experiência mostra que os jovens e as mulheres são, de forma particular, motores de sinodalidade”, acrescenta.

D. Luis Marín de San Martín (Espanha), subsecretário do Sínodo e coordenador da Comissão Teológica, defende, por sua vez, a necessidade de “desenvolver estruturas de participação”, com novas manifestações de sinodalidade, para que esta “não se identifique apenas com o Sínodo dos Bispos”.

“Podemos criar outras estruturas para desenvolver a sinodalidade, que é muito mais ampla”, precisa.

O responsável da Santa Sé diz que este Sínodo é um momento central de reflexão sobre o futuro da Igreja.

“Temos de enxertar-nos no mundo, não viver como casta, como grupo isolado, levando até o amor de Deus aos lugares de miséria, de pobreza, de dor”, apela.

Presente no Vaticano, o teólogo venezuelano Rafael Luciani, assessor da Comissão Teológica, reforça a ideia de que este “é um Sínodo sobre a Igreja”.

“O Sínodo é uma estrutura, a ideia é que a partir de agora existam mais estruturas, que não sejam episcopais, mas sinodais. O caso da América Latina, com a Assembleia Eclesial, é já o nascimento de uma nova estrutura, de uma nova instituição que supõe este modelo sinodal”, precisa.

O especialista sustenta que “as relações de participação, que antes eram à imagem de uma pirâmide, onde o laicado ajudava mas não era realmente um sujeito, hoje mudam, têm de mudar, com a sinodalidade”.

Do Brasil, a irmã Lúcia Pereira Manso, da Conferência Eclesial da Amazónia, diz que a experiência das comunidades católicas na região pode inspirar todos.

“Podemos ajudar neste Sínodo a intuir caminhos que estamos a fazer, de uma Igreja em saída, de uma Igreja samaritana, de uma Igreja serva, mas de uma Igreja sobretudo Madalena, onde resgatamos esse papel da mulher da na Igreja, porque na Amazónia a Igreja é dinamizada por mulheres”, observa.

A religiosa aponta como prioridade “escutar aquelas vozes que ninguém escuta, chegar aos lugares onde ninguém chega”.

“Não é fácil, mas é possível trilhar esse caminho, e só assim a gente pode dizer que estamos a trilhar o caminho da sinodalidade”, acrescenta.

Cristina Inogés Sanz, teóloga espanhola e membro da Comissão de Metodologia, foi uma das pessoas escolhidas para a reflexão inicial da sessão de abertura do Sínodo, este sábado, e falou de uma Igreja que se esquece, muitas vezes, dos seus.

“Há pessoas que são Povo de Deus e de que não sentimos a falta, quando se vão embora. Essa realidade tem de mudar”, aponta, em entrevista.

Para a responsável, é necessário aproximar-se e “incluir essas pessoas”, saber quem são e “integrá-las de forma positiva”, sem que se sintam “marcadas”.

A teóloga espanhola considera ainda que dioceses menos empenhadas ou desinteressadas em relação a este processo sinodal devem entender que se vive “um momento crucial”.

“O primeiro passo para resolver um problema é reconhecer que o problema existe. Temos um problema de uma estrutura rígida, vertical, clericalizada ao máximo”, precisa.

Carmen Peña García, professora de Direito Canónico na Espanha e membro da Comissão Teológica, realça que “a Igreja é sinodal desde o seu começo” e que “todos estão implicados na missão da Igreja”.

“O papel, a missão da hierarquia, que é específica, deve fazer-se em escuta, com todo o Povo de Deus”, indica.

A especialista considera que é preciso “normalizar” a presença de mulheres ou de leigos em determinados cargos.

“O dia em que não for notícia o facto de uma mulher ter sido nomeada para um cargo, teremos conseguido voltar ao que nos une a todos, o Batismo”, explica.

A 16ª assembleia geral do Sínodo dos Bispos tem como tema “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”.

O percurso sinodal, inaugurado oficialmente esta manhã com a Missa presidida pelo Papa Francisco, inclui um processo alargado de consulta às comunidades católicas, decorrendo de forma descentralizada, pela primeira vez, com assembleias diocesanas e continentais.

OC

Agatha Lydia Natania.
Foto: Ricardo Perna/Família Cristã

Agatha Lydia Natania, membro do Conselho dos Jovens, organismo consultivo da Santa Sé criado após o Sínodo de 2018, chegou a Roma vinda da Indonésia com a missão de partilhar o entusiasmo das novas gerações.

“Eu sei que os jovens às vezes parece que têm energia a mais, mas isto é o Espírito Santo a descer sobre nós e é esse espírito que queremos trazer. Por isso é que a participação das mulheres e dos jovens é tão importante, para tornar a Igreja mais aberta a todos”, assinala.

A reportagem em Roma é fruto de uma parceria estabelecida entre a Agência Ecclesia, a Família Cristã, o Diário do Minho e a Associação de Imprensa Cristã

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