Ecumenismo: Líder da Comunhão Anglicana pede «cessar-fogo» para a Terra Santa e Ucrânia

Em visita a Portugal, Justin Welby elogia relações com o Papa Francisco, em diálogo a favor da paz e dos mais pobres

Lisboa, 17 fev 2024 (Ecclesia) – O arcebispo de Cantuária, líder espiritual da Comunhão Anglicana, apelou hoje em Lisboa a um “cessar-fogo” urgente para ajudar as populações atingidas pelas guerras na Ucrânia e na Terra Santa.

“É importante que a palavra da Igreja, a unidade, seja sinodal para o mundo. É absolutamente essencial. Há a tragédia na Terra Santa, onde as Igrejas [Anglicana e Católica] apelamos a um cessar-fogo. É muito importante que haja um cessar-fogo e ajuda humanitária. Há a tragédia da Ucrânia e da Rússia, onde dois grandes países cristãos lutam entre si”, referiu Justin Welby, primaz da Igreja da Inglaterra, em declarações à Agência ECCLESIA.

O responsável iniciou esta manhã uma visita de dois dias à Igreja Lusitana, por ocasião da abertura do 100.º Sínodo Diocesano desta comunidade pertencente à Comunhão Anglicana.

Justin Welby destacou a “relação próxima e verdadeira” que mantém com o Papa Francisco, que permite rezar e “trabalhar juntos pela paz”, num mundo marcado pela guerra.

“Procuramos mostrar que existe uma amizade genuína entre anglicanos e católicos”, acrescenta.

O arcebispo da Cantuária assinalou também que, no seio da Comunhão Anglicana, as províncias de língua portuguesa são “muito importantes”.

Justin Welby, acompanhado da sua esposa, Caroline Welby, encontrou-se hoje com líderes religiosos e ecuménicos.

Para Jorge Pina Cabral, bispo da Igreja Lusitana, esta visita representa “uma grande alegria” para a comunidade, num “marco histórico” do seu percurso, num centenário do sínodo celebrado em volta do “binómio da esperança e da santidade”.

O entrevistado assinala a importância de apresentar modelos de vida marcados pela “integridade” num mundo afetado “por muita corrupção, por muitos interesses”.

Questionado sobre a importância da dimensão sinodal na Comunhão Anglicana, Jorge Pina Cabral assume que todos devem ter “responsabilidade” na vida da Igreja, passando pelos “órgãos de decisão”.

O responsável deseja “uma igreja que se abre à colaboração com as outras”, em “missão conjunta” com todos os crentes e pronta para o “acolhimento das minorias”.

A sessão, na Catedral Lusitana, contou com a participação do padre Peter Stilwell, responsável do Departamento para a promoção da unidade dos cristãos e diálogo inter-religioso, no Patriarcado de Lisboa.

O sacerdote disse à Agência ECCLESIA que o diálogo católico-anglicano encontra no próprio Papa um protagonista, lembrando que, juntamente com Justin Welby, promoveu uma peregrinação ecuménica ao Sudão do Sul, em fevereiro de 2023, que integrou ainda Iain Greenshields, líder da Igreja da Escócia.

“Cada vez mais, esta dinâmica ecuménica centra-se naquilo que no último sínodo se chamou a partilha dos dons. Perceber que cada comunidade, cada confissão, por razões históricas, por razões da qualidade dos seus membros, tem talentos próprios e consegue fazer alguma coisa que os outros não conseguem nesta grande tarefa que é evangelizar o mundo contemporâneo”, observa o padre Peter Stilwell.

O pastor Sérgio Alves, da Igreja Lusitana, sublinhou o momento de “festa” que representa a visita do arcebispo da Cantuária, para uma comunidade “sinodal”, na qual “os leigos e os clérigos estão presentes, com direito a voz e também direito a voto”.

Brígida Arbiol, presidente do Departamento de Mulheres da Igreja Lusitana, assume que a presença feminina na comunidade tem sido “fundamental” e espera que seja cada vez mais valorizada, na “tradição sinodal”.

A celebração da Eucaristia de abertura do 100.º Sínodo, sob a presidência do bispo diocesano, Jorge Pina Cabral, decorreu na Catedral de São Paulo, incluindo a participação do presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa e Vera Jardim, presidente da Comissão da Liberdade Religiosa, além do núncio apostólico em Portugal, D. Ivo Scapolo.

Na homilia da celebração, Justin Welby elogiou “a imensa obra global do ministério” pelo Papa Francisco e os seus predecessores, apontando ao “grande desafio” de exercer ministérios de liderança, nas comunidades cristãs ou na vida política.

A intervenção evocou o “terror da guerra”, as “dificuldades da pobreza” ou a “corrupção de tudo o que há de melhor neste mundo”, promovida pelos que “procuram ser servidos”.

“O poder é procurado por líderes populistas, que apelam ao desejo humano de controlo”, advertiu o primaz anglicano.

Após a celebração há um encontro entre o arcebispo de Cantuária e o presidente da República Portuguesa, para apresentação de cumprimentos, seguindo-se a primeira sessão do Sínodo, com a presença do clero e leigos, representantes das diversas paróquias, missões e organismos da Igreja e convidados.

HM/OC

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