Ecologia e defesa da vida colocadas lado-a-lado pelo Papa

Encíclica considera contradição pedir às novas gerações o respeito do ambiente «quando a educação e as leis não as ajudam a respeitar-se a si mesmas» Bento XVI considera que um "dos aspectos mais evidentes do desenvolvimento actual" é a questão do respeito pela vida, condenando mentalidades anti-natalistas e a promoção do aborto e da eutanásia.

O documento indica que "a fecundação in vitro, a pesquisa sobre os embriões, a possibilidade da clonagem e hibridação humana nascem e promovem-se na actual cultura do desencanto total, que pensa ter desvendado todos os mistérios porque já se chegou à raiz da vida".

"À difusa e trágica chaga do aborto poder-se-ia juntar no futuro – embora subrepticiamente já esteja presente in nuce – uma sistemática planificação eugenética dos nascimentos. No extremo oposto, vai abrindo caminho uma mens eutanasica, manifestação não menos abusiva de domínio sobre a vida", adverte.

Segundo Bento XVI, se "não é respeitado o direito à vida e à morte natural, se se torna artificial a concepção, a gestação e o nascimento do homem, se são sacrificados embriões humanos na pesquisa, a consciência comum acaba por perder o conceito de ecologia humana e, com ele, o de ecologia ambiental".

"É uma contradição pedir às novas gerações o respeito do ambiente natural, quando a educação e as leis não as ajudam a respeitar-se a si mesmas", diz o Papa.

A encíclica diz que os projectos para um desenvolvimento humano integral "não podem ignorar os vindouros, mas devem ser animados pela solidariedade e a justiça entre as gerações, tendo em conta os diversos âmbitos: ecológico, jurídico, económico, político, cultural".

Em particular, Bento XVI desenvolve as questões relacionadas com "as problemáticas energéticas", condenando "o açambarcamento dos recursos energéticos não renováveis por parte de alguns Estados, grupos de poder e empresas".

"A protecção do ambiente, dos recursos e do clima requer que todos os responsáveis internacionais actuem conjuntamente e se demonstrem prontos a agir de boa fé, no respeito da lei e da solidariedade para com as regiões mais débeis da terra", indica o documento.

O Papa observa que "a monopolização dos recursos naturais, que em muitos casos se encontram precisamente nos países pobres, gera exploração e frequentes conflitos entre as nações e dentro das mesmas".

Nesse sentido, prossegue, "a comunidade internacional tem o imperioso dever de encontrar as vias institucionais para regular a exploração dos recursos não renováveis, com a participação também dos países pobres, de modo a planificar em conjunto o futuro".

Por isso, Bento XVI frisa que também neste campo "há urgente necessidade moral de uma renovada solidariedade, especialmente nas relações entre os países em vias de desenvolvimento e os países altamente industrializados".

"As sociedades tecnicamente avançadas podem e devem diminuir o consumo energético seja porque as actividades manufactureiras evoluem, seja porque entre os seus cidadãos reina maior sensibilidade ecológica. Além disso há que acrescentar que, actualmente, é possível melhorar a eficiência energética e fazer avançar a pesquisa de energias alternativas", pode ler-se.

"O açambarcamento dos recursos, especialmente da água, pode provocar graves conflitos entre as populações envolvidas", alerta ainda a "Caritas in veritate".

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