«Dilexit nos»: «Quando se fala do coração de Jesus fala-se de um projeto de vida», afirmou presidente da CEP

D. José Ornelas disse que em causa está «a verdade de cada pessoa e o ser de cada pessoa»

Foto: Secretaria-Geral do Sínodo da Santa Se (Synod.va)

Cidade do Vaticano, 25 out 2024 (Ecclesia) – O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) disse que “o coração é aquele que move, que resume, que sintetiza, que exprime a verdade de cada pessoa e o ser de cada pessoa”, num comentário à nova encíclica “Dilexit nos” (“Amou-nos”).

“A ideia do coração, daquilo que a gente vê na cultura e também na Bíblia, é precisamente a ideia de que nós não somos simplesmente um conjunto de impulsos biológicos e de inputs sociais que recebemos, mas, temos uma capacidade de seleção, de encontrar em nós próprios um núcleo central, de síntese, que seja a verdade de mim próprio”, disse D. José Ornelas, a partir do mais recente documento do Papa Francisco, em declarações à Agência ECCLESIA, em Roma.

O Vaticano divulgou, esta quinta-feira, dia 24 de outubro, a nova encíclica do Papa ‘Dilexit nos’ (amou-nos), onde Francisco sublinha a importância e a atualidade da devoção ao Coração de Jesus; o nome da encíclica vem de uma passagem da carta de São Paulo aos Romanos (Rm 8, 37), sobre o amor de Cristo.

“A gente põe o coração como símbolo do amor, isso é mais as entranhas da Bíblia. É o amor, mas o amor relacional e racional. É a sede do verdadeiro pensamento, não o pensamento simplesmente como ideias, mas como aquilo que me fica e que me serve para construir a minha maneira de ser e de atuar na sociedade”, realçou o presidente da CEP.

“É isso que é importante nesta ideia de coração, não é simplesmente uma piedadezinha fechada e docinha. Não, o coração é aquele que move, que resume, que sintetiza, que exprime a verdade de cada pessoa e o ser de cada pessoa. E, portanto, quando se fala do coração de Jesus, fala-se de um projeto de vida”, acrescentou.

Neste contexto, D. José Ornelas explicou que “é um projeto que leva até o dom total da vida”, porque é um projeto baseado no amor, que é aquilo que leva a olhar o outro não como um concorrente, mas “como alguém de diálogo e com o qual se buscam um caminho novo”.

“Isto foi o que Jesus veio fazer, veio de fora, entrando no nosso mundo, fazendo-se próximo de cada um de nós. E este é o coração que se apresenta e que diz ‘aprendei de mim que sou mais humilde do coração’”, acrescentou o bispo português, ordenado presbítero na Congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus (Dehonianos).

A quarta encíclica do pontificado, escrita originalmente em espanhol, foi publicada na reta final da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, no Vaticano, onde D. José Ornelas, que ainda só tinha lido “a introdução, que é a ideia do coração”, participa por ser o presidente da CEP.

Ao longo de 220 pontos, divididos em cinco capítulos, uma introdução e uma conclusão, Francisco, na 300ª encíclica da história da Igreja, passa em revista reflexões dos seus antecessores, do magistério católico e propostas de espiritualidade que remontam aos textos bíblicos.

“Já houve, há uns anos, uma tentativa de fazer uma suma teológica a partir da ideia de coração, precisamente neste sentido de coração. Não se trata de repetir simplesmente devoções porque foi tantas vezes isso, foi uma possibilidade de chegar à alma do povo, ao coração do povo, para perceber que o coração de Jesus é um coração que ama, que é bom, que vem ao encontro e levar-me também, primeiro, a sentir-me objeto desse amor, e depois a ser gente que é capaz de amar, e isso é aquilo que pode transformar”, desenvolveu D. José Ornelas.

Dilexit nos’ surge depois das encíclicas ‘Lumen fidei’ (2013), que recolhe reflexões sobre a fé iniciadas por Bento XVI; ‘Laudato si’ (2015), documento que propõe uma ecologia integral, abordando questões sociais e ligadas ao meio ambiente; e ‘Fratelli tutti’ (2020), que recolher as reflexões de Francisco sobre a fraternidade e a amizade social.

OC/CB/PR

A palavra ‘encíclica’ vem do grego e significa ‘circular’, carta que o Papa enviava às Igrejas em comunhão com Roma, com um âmbito universal, onde empenha a sua autoridade primeiro responsável pela Igreja Católica.

O Papa mais prolífico neste tipo de cartas é Leão XIII, com 86 encíclicas – embora muitos desses textos fossem, nos nossos dias, classificados como cartas apostólicas ou mensagens; São João Paulo II escreveu 14 encíclicas e Bento XVI três.

A encíclica é uma forma muito antiga de correspondência eclesiástica, dado que na Igreja os bispos enviavam frequentemente cartas a outros bispos, para assegurar a unidade entre a doutrina e a vida eclesial.

Bento XIV (1740-1758) reavivou o costume, enviando “cartas circulares” a outros bispos, abordando temas de doutrina, moral ou disciplina que diziam respeito a toda a Igreja; com Gregório XVI (1831-1846), o termo encíclica tornou-se de uso geral.

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