Dia Mundial dos Pobres: Presidente da Cáritas Portuguesa lamenta falta de vontade política para combater desigualdades

Eugénio Fonseca defende afetação de percentagem do Orçamento de Estado para erradicação da pobreza

Lisboa, 16 nov 2019 (Ecclesia) – O presidente da Cáritas Portuguesa, Eugénio Fonseca, disse à Agência ECCLESIA que falta “vontade política”, no país, para um verdadeiro projeto nacional de erradicação da pobreza.

“Tem de haver determinação, firmeza, e essa determinação tem faltado à classe política”, referiu o responsável, numa entrevista a respeito do III Dia Mundial dos Pobres, que a Igreja Católica assinala este domingo, por iniciativa do Papa Francisco.

Eugénio Fonseca lamentou o “equívoco” de agir “criticamente” sobre os pobres, estigmatizando a pobreza e culpando as pessoas pela situação em que se encontram ou acusando-os de “querer viver à custa dos outros”

“Uma sociedade, como a portuguesa, que ainda tem 2,2 milhões de pobres, não está bem”, apontou.

O presidente da Cáritas defende que, pelo menos uma vez por ano, a Assembleia da República deveria promover um Debate da Nação sobre a pobreza em Portugal.

“Há necessidade de um pacto de regime, nesta área. As ideologias não matam fome”, declarou.

O combate à pobreza, assinala Eugénio Fonseca, é um trabalho “multidisciplinar” que, no Governo, deveria ser coordenado pela Presidência do Conselho de Ministros.

Defendo que deveria ser afeta ao PIB uma percentagem para conseguirmos ir erradicando a pobreza”

O presidente da Cáritas Portuguesa alerta, em particular, para o nível de pobreza entre pessoas com emprego, os mais velhos e as famílias monoparentais, com a “feminização” deste fenómeno.

No início de uma nova Legislatura, Eugénio Fonseca pede que se aproveite “o que já existe”, em termos de propostas para a erradicação da pobreza, a partir das instituições da cidade civil

O entrevistado considera que, na Igreja Católica, o Papa tem colocado “o dedo na ferida”, com posições incómodas para muitos.

“Ele fala-nos muito na necessidade de ir às causas, de percebermos que a pobreza não se elimina só com bens materiais, que há toda uma outra dimensão”, refere o presidente da Cáritas Portuguesa.

Agência Ecclesia/MC

O Papa Francisco, recorda, insiste na ideia de que “o pobre alimenta sempre a esperança de superar a sua situação”.

“Nós, Cáritas, a Igreja no seu todo, não podemos frustrar a esperança dos pobres”, disse Eugénio Fonseca.

O responsável defende que há causas da pobreza que estão no chamado “sistema”, destacando a importância da intervenção comunitária e da intervenção “sociopolítica” para situações como as baixas reformas, que exigem “medidas globais”.

A Cáritas, observa, é um serviço da Igreja Católica “para todos e com todos”, distinguindo o trabalho de “assistência” do assistencialismo, que é apenas “permanecer nas consequências, sem ir às causas”.

A assistência, que é responder às necessidades primárias das pessoas, é uma ação muito nobre e muito necessária, porque só depois disso podemos passar para o patamar da promoção”

Na sua mensagem para o III Dia Mundial dos Pobres, o Papa denuncia “formas de novas escravidões” a que estão submetidos milhões de homens, mulheres, jovens e crianças, nos dias de hoje.

O texto divulgado pelo Vaticano alude, em particular, a “milhões de migrantes vítimas de tantos interesses ocultos”, às pessoas sem-abrigo e marginalizadas e aos pobres que procuram, no lixo, algo com que se “alimentar ou vestir”.

À imagem dos anos anteriores, o Papa vai almoçar com um grupo de 1500 pobres, no auditório Paulo VI, do Vaticano, após a Missa na Basílica de São Pedro.

A celebração vai estar em destaque na emissão deste domingo do Programa ECCLESIA, na Antena 1 da rádio pública, a partir das 06h00.

OC

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