Lisboa: Pedidos de ajuda alimentar triplicaram no Refeitório Social das Vicentinas (c/fotos e vídeo)

Irmãs de S. Vicente de Paulo fornecem 150 refeições diárias

Lisboa, 13 nov 2022 (Ecclesia) – O refeitório Beata Rosália Rendu das Irmãs de S. Vicente de Paulo, junto à 2ª Circular, em Lisboa, ajuda diariamente dezenas de pessoas que ali acorrem por causa da fome, baixos rendimentos ou falta de abrigo, situação que se tem vindo a agravar.

“Antes da pandemia entregávamos 40 refeições por dia, neste momento estamos a distribuir 150 refeições. Significa que as condições sociais se têm vindo a agravar”, refere à Agência ECCLESIA Isabel Antunes, que coordena as equipas de voluntários.

A iniciativa solidária já leva 17 anos e representa um termómetro social sensível a qualquer oscilação económica em território nacional.

O Refeitório Social, no Campo Grande, surgiu de um acordo com o Serviço dos Jesuítas aos Refugiados – Portugal (JRS) e o então ACIME (Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas) para dar uma resposta com perspetivas de futuro.

Foto: Agência ECCLESIA/HM

Júlio César foi um dos utentes deste gesto solidário e hoje contribui para que outros dele beneficiem; zela pelas hortaliças e legumes que cultiva no espaço contíguo ao refeitório social.

“A vida está difícil e eu estava sem trabalho e perguntei se precisavam de alguém para cuidar da horta. Então, estou aqui a cultivar legumes para alimentar que mais precisa”, relata.

Isabel Antunes reconhece que a horta não produz apenas legumes, mas também é fértil em gerar esperança para a vida de alguns.

As pessoas precisam de alimentação, mas precisam de muitas outras coisas também e aqui nesta horta alguns dos nossos utentes trabalham a autoestima e descobrem a sua utilidade para os outros. Se os produtos são importantes para a nossa cozinha, o espaço é ainda mais importante para quem o trabalha”.

Mãe de um aluno que frequentava o colégio das Irmãs Vicentinas, Isabel Antunes foi desafiada para este projeto e a ele está ligada há mais de dez anos.

Da sua experiência, sabe que a saúde económica do país se mede pelo comprimento da fila dos que pedem auxílio e, nos últimos anos, ela está sempre a crescer.

A realidade social que bate à porta das Irmãs de S. Vicente de Paulo não provém apenas da rua ou da condição de sem-abrigo.

“Temos famílias carenciadas, famílias com três e quatro filhos e mesmo situações familiares em que ambos trabalham, mas com ordenados mínimos não se consegue pagar a renda e mais cinco passes sociais ou despesas escolares”, afirma Isabel Antunes.

Para as Filhas da Caridade de S. Vicente de Paulo, este gesto social cumpre a intuição do fundador desta família religiosa.

Foto: Agência ECCLESIA/HM

“É servindo os pobres que encontramos a Deus, S. Vicente encontrou nos pobres o caminho para chegar até Deus e é o que queremos fazer também” refere a irmã Maria de Lourdes que todos os dias auxilia neste refeitório social da sua congregação.

Pelo meio-dia, abrem-se as portas e o primeiro gesto é a oração do Pai-Nosso; um convite que respeita as convicções de cada um, participando quem assim o desejar.

Cada utente está identificado para facilitar a previsibilidade de refeições, quem chega pela primeira vez também se regista para que possa receber um auxílio que não é apenas alimentar, mas que procura identificar outras fragilidades.

Maria Goreti Matias é uma presença regular: destaca-se pela boa disposição e por transformar uma fila de distribuição de alimentos, também em convívio e partilha.

“Eu como sou sozinha e a vida está muito cara agora, venho cá. Também ajudo um filho e duas netas e é muito importante este auxílio”, explica.

A reportagem esteve em destaque na emissão deste domingo do Programa ‘70×7’, na RTP 2, assinalando o Dia Mundial dos Pobres, com referências ainda ao trabalho da Cáritas na Ucrânia e à rede de religiosas que luta contra o tráfico de pessoas.

HM/OC

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