Responsáveis de instituições católicas debatem mensagem do Papa para o Dia Mundial da Paz 2025
Lisboa, 01 jan 2025 (Ecclesia) – O presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz defendeu que os países ricos têm uma “dívida ecológica” para com as nações mais pobres e que o perdão da dívida externa pode ser uma forma de compensá-los.
“[Os países ricos foram] os principais responsáveis pelo estado a que o mundo chegou do ponto de vista ecológico, das alterações climáticas, e são os países pobres os que mais sofrem com isso”, afirmou Pedro Vaz Patto, no Programa Ecclesia, transmitido hoje na RTP2, no âmbito do Dia Mundial da Paz.
Segundo o responsável, isto cria uma “dívida dos países ricos para com os países pobres”, destacando que o perdão da dívida externa às nações mais desfavorecidas “pode ser uma forma de compensar, de pagar esta dívida ecológica”.
Na mensagem para o Dia Mundial da Paz 2025, que hoje se celebra, o Papa apela ao perdão da dívida dos países mais pobres, sublinhando o impacto da crise ecológica nas populações mais desprotegidas.
Pedro Vaz Patto salienta que a dívida acaba por ser “um travão ao desenvolvimento” das populações mais pobres e também “contraproducente”, uma vez que os empréstimos que deveriam facilitar, “acabam por ser um obstáculo”, devido aos juros “muito elevados” ou à exigência de o pagamento ser “contrária à dignidade da pessoa”.
Citando um dado do Banco Mundial, Ana Patrícia Fonseca, diretora-executiva da Fundação Fé e Cooperação (FEC), refere que 3,3 mil milhões de pessoas, quase metade da população mundial, vive em países cujo Orçamento de Estado para pagar a dívida pública é maior do que o valor destinado à educação e saúde, evidenciando que assim o desenvolvimento “é impossível”.
De forma a acompanhar a proposta do Papa na mensagem dedicada ao tema ‘Perdoa-nos as nossas ofensas: concede-nos a tua paz’, a FEC vai participar na campanha ‘Transformar a dívida em esperança”, da Cáritas Internacional, e na 4ºConferência Internacional para o Financiamento do Desenvolvimento, que acontece em Espanha, de 30 de julho a 3 de julho.
Por seu lado, a Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), da qual Catarina Martins Bettencourt é diretora, trabalha com as comunidades que estão em dificuldade, em articulação com a Igreja, acompanhando um cenário em que cada vez menos animador.
“Infelizmente, os testemunhos que vamos recebendo cada vez são de maior necessidade, cada vez há uma Igreja que é mais pobre, que é mais necessitada. Há também, como é óbvio, estes casos de perseguição, de discriminação que a Igreja tem e que é preciso e que necessita de ajuda para poder sair desta sua pobreza, desta sua necessidade”, explica a responsável.
Catarina Martins Bettencourt realça a capacidade que o Papa tem de “desinquietar”, de “provocar”, e de “levar a querer fazer muito”.
“Temos a esperança, e é com esse objetivo que nós trabalhamos, de que todos estes pequenos passos que vamos dando diariamente vão ajudar a que haja, de facto, uma mudança estrutural, que haja uma mudança na sociedade e que isso venha a trazer um benefício evidente para estas populações que estão em maior dificuldade”, referiu.
Um dos países que a AIS acompanha é a Síria, que no final de 2024 assistiu à queda do regime de Bashar al-Assad, enfrentando atualmente um contexto de incerteza.
“Não sabermos o que é que vai acontecer amanhã. Há uma grande expectativa, um grande desejo, uma grande esperança de que haja de facto uma mudança estrutural no país. Não nos podemos esquecer que o país tem continuado em guerra já há 12 anos”, salienta.
Catarina Martins Bettencourt fala que este é um país “que tem sofrido muito nos últimos anos”, que “está destruído”, “não houve reconstrução de absolutamente nada”, relatando que os sírios estão “desejosos e esperançosos de que haja de facto uma mudança”.
“Mas ao mesmo tempo algum receio, porque não nos podemos esquecer que quem está neste momento no poder na Síria é um grupo jihadista e que esteve a tomar conta de uma parte que o governo de Assad não controlava na Síria, na zona de Idlib, e o que nós sabemos, o que se passava naquela zona de Idlib não traz grandes expectativas”, alerta.
O Papa Francisco desafia, na mensagem para o Dia Mundial da Paz 2025, à utilização de uma percentagem fixa do dinheiro gasto em armamento para a criação de um fundo mundial que elimine definitivamente a fome, algo que, a diretora do secretariado português da FAIS sublinha que “nunca aconteceu” na Síria.
“Infelizmente, nós temos pessoas a passar fome na Síria. Nós temos as pessoas que estão a ganhar entre 7 a 22 euros na Síria por mês. As coisas duplicaram de preço, a inflação é enorme. As necessidades são tantas que as pessoas só sobrevivem se tiverem ajudas de instituições. Não há outra forma de sobreviver com as coisas mais básicas”, lamenta.
Catarina Martins Bettencourt considera que seria “extraordinário e teria um impacto muito positivo” se os Governos pudessem colocar em prática este apelo do Papa.
“Precisamos de mobilizar quem está na cúpula do poder, mas precisamos de mobilizar também os cidadãos, para que com mais vozes reunidas as vozes possam, de facto, ser ouvidas”, disse Ana Patrícia Fonseca.
Pedro Vaz Patto considera que este apelo é talvez o aspeto mais ousado e contra a corrente desta mensagem, referindo que “não é a primeira vez que o Papa faz esta proposta”.
“A proposta do Papa é de facto esta: evitar que se vá avante neste sentido de um cada vez maior risco de guerra”, enfatiza, desenvolvendo que o desarmamento tem de ser “multilateral e para isso de facto o papel da sociedade civil é da maior importância, porque precisamente todos os governantes têm de ser sensibilizados”.
O Dia Mundial da Paz foi instituído em 1968 por São Paulo VI (1897-1978) e é celebrado no primeiro dia de cada ano, com uma mensagem papal.
PR/LJ/OC