Mulher: «Se querem mudar de vida, não olhem para trás» – Rosa Alice (c/vídeo)

Colaboradora da Casa de Sant’Ana, em Sintra, recorda a época em que foi residente e «encoraja» as mães que ali chegam

Foto: Agência ECCLESIA/SN

Lisboa, 08 mar 2022 (Ecclesia) – Rosa Alice, colaboradora da Casa de Sant’Ana, em Sintra, contou à Agência ECCLESIA que já tinha precisado de ajuda, “numa situação de maus tratos”, e atualmente encorajar as mulheres é “também” o seu trabalho.

Foto: Agência ECCLESIA/SN – Diretora Técnica e a colaboradora Rosa Alice

“Falo-lhes da minha passagem como residente, de como era a casa e o funcionamento, e tento encorajá-las, esse é também o meu trabalho, digo-lhes: se querem mudar de vida não olhem para trás e sigam em frente”, conta à Agência ECCLESIA.

A entrevistada chegou à Casa de Sant’Ana, em Sintra, no ano de 1998, “numa situação de maus tratos” e sente-se muito agradecida.

“Precisei de ajuda, estava numa situação de maus tratos, e tinha duas filhas, uma com 12 e outra com 15 anos, na altura indicaram-me esta instituição e aceitei logo; estou muito agradecida às irmãs que me acolheram na altura e acabei por ficar cá a trabalhar onde dou apoio às utentes”, refere.

A Casa de Sant’Ana iniciou com as religiosas da Congregação do Bom Pastor, quando em finais da década de 70 “abandonaram a prisão de Tires” e, “juntamente com quatro ex-reclusas”, iniciaram o apoio às mulheres em vulnerabilidade familiar, social e económica.

Foto: Agência ECCLESIA/SN – Irmã Maria de Lurdes

“A relação das irmãs com as utentes é muito boa, a direção da casa é composta por irmãs e leigos, mas somos nós que permanecemos 24 horas na casa e pernoitamos junto das utentes”, conta a irmã Maria de Lurdes Pires, superiora da casa.

A religiosa recorda quando iniciaram este trabalho de apoio e acompanhamento da mulher, “com quatro ex-reclusas que não quiseram deixar as irmãs”.

 

A Casa de Sant`Ana é atualmente uma I.P.S.S., pertencente à Congregação da Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor, foi inaugurada em 1985 como centro de acolhimento e, desde dezembro de 2001, que tem a valência para Comunidade de Inserção para Mulheres em Situação de Risco.

O edifício, composto por duas alas e com capacidade para 24 mulheres, está integrado num ambiente de quinta, com horta, parque infantil, lavandaria e jardim, onde chegam várias realidades de mulheres, mães, jovens e crianças, que colaboram nas tarefas diárias da casa.

“As nossas mães quando entram precisam de trabalhar competências e é este trabalho que permite, quando saem da instituição, se mantenham nos empregos, manter as suas casas e a qualidade de vida e bem estar numa situação económica equilibrada, que dará a sustentabilidade ao projeto de vida das nossas mães”, refere a diretora técnica Ana Rosa Freitas, que ali trabalha há 20 anos..

Uma equipa feminina, “mulheres a trabalhar com mulheres”, torna-se uma ajuda na ”identificação de quem chega” e “nada como uma mulher, que também é mãe, para compreender os problemas de quem chega”.

“Quando nos falam dos seus problemas nós compreendemos, enquanto mulheres…. são mulheres com histórias de vida difíceis e com traumas pessoais então não é fácil falar dos seus problemas mas sentem que há semelhanças entre elas e tornam-se muito protetoras”.

Uma instituição que pretende “ser lar” e proporcionar um ambiente de família para as mulheres e crianças que ali chegam, por onde nos “últimos dez anos passaram 120 mulheres e mais de 150 crianças”.

Situações encaminhadas por várias entidades em que as mulheres chegam “muito fragilizadas” e com um longo caminho a percorrer “para ganhar a sua confiança”.

A par com o apoio dado às mães, a psicóloga Susana Simões refere que há necessidade de “ajudar os filhos a voltarem a ser crianças”.

“Muitas não sabem ser crianças, não tiveram essa oportunidade, têm dificuldades no comportamento, na linguagem mas também nos afetos, normalmente são crianças agressivas, e aqui aprendem, com a segurança e bem estar dados, a ser mais tranquilos”.

A sala das atividades, destinada às crianças, enche-se de cores e brinquedos, um espaço que serve de transição para as “crianças que ainda não têm lugar num estabelecimento de ensino” e faz com que as mães tenham de organizar a sua vida para as deixar ali.

Olhando esta realidade com que trabalha, “mas com a disponibilidade alargada”, Susana Simões destaca o trabalho conjunto da equipa que quer dar “estabilidade emocional a estes meninos e suas mães”.

“Estas mulheres são mulheres com M muito, muito grande porque tiveram de abdicar de tudo, deixaram tudo para trás, aceitaram o acolhimento, que nem sempre é o que querem, e aceitaram estar cá connosco”, remata.

SN

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