Pastoral da Cultura: Debater «a Mulher na Sociedade e na Igreja» ou o papel do homem?

Jornada Nacional deixou propostas para a atuação das comunidades católicas

Fátima, 01 jun 2019 (Ecclesia) – O Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (SNPC) convidou cinco oradores, três mulheres – a reitora da Universidade Católica, uma psiquiatra e uma escritora – e dois homens – escritores – para refletirem sobre «A Mulher na Sociedade e na Igreja».

No primeiro painel do encontro, a reitora da Universidade Católica Portuguesa (UCP) referiu que a forma como as pessoas se relacionam com o “tecido cultural legitima assimetrias”.

“A alteração faz-se por desconstruir os mitos da diferença entre géneros que é necessário abolir”, explicou Isabel Capeloa Gil.

Com duas filhas “ativas, responsáveis e empenhadas na dignificação da paridade”, a responsável realçou que “nunca foi opção escolher” entre a vida profissional ou ser mãe, mas considera necessário que se criem “mecanismos profissionais” para que as mulheres “possam escolher e aceder a cargos e posições de liderança”.

A segunda reitora na história da UCP indicou alguns mitos que permanecem sobre o sexo feminino, salientou que a paridade é possível e é “fundamental lutar” para que mulheres possam “fazer escolhas em liberdade” e serem reconhecidas em paridade com os homens e não “ostracizadas”.

Isabel Capeloa Gil evocou a “dignificação da mulher no Novo Testamento, absolutamente distinta das práticas das culturas contemporâneas”, lembrando a intervenção de abertura do encontro do presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais.

A psiquiatra Margarida Neto revelou, por sua vez, que no seu consultório vê maioritariamente mulheres que, “para serem tudo, desempenham mil papéis”, realçando que as mulheres portuguesas são das que “mais trabalham na Europa”.

A convidada destacou ainda que a ideologia de género é “uma contracultura que a maior parte das pessoas não está a perceber”, considerando que a mesma “impõe subliminarmente – com imenso dinheiro derramado estrategicamente sobre programas, educação, cultura, tudo -, que a identidade sexual resulta apenas de uma programação social, homens e mulheres são basicamente iguais”.

O último interveniente da 15.ª Jornada Nacional da Pastoral da Cultura, que decorreu em Fátima, ao longo do dia, afirmou que é “o papel do homem que deve ser debatido”, uma ideia já partilhada noutras intervenções.

Para Henrique Raposo a questão “não é dar mais poder às mulheres”, mas como os homens “vão ceder esse poder” e deu como exemplo concreto o seu ambiente familiar onde “a carreira” da esposa “é o mais importante”, por isso, toma conta das duas filhas, e cede “esse poder”.

“O que está certo é ser um pai presente”, disse o escritor, que tem “dois livros empatados”, salientando que os homens católicos devem ter a “família como pilar, centro”, sem querer uma família do ano 1950.

Neste contexto, afirmou que é “triste” ver católicos apoiar “ondas populistas”, que “agridem a emancipação da mulher”, – como no Brasil, EUA, Alemanha, Filipinas – que “querem a mulher em casa”, que “o relógio ande para trás”

Henrique Raposo destacou que as suas filhas “são educadas” para estarem em campo ao mesmo nível do que os rapazes: “Não aceito outra realidade”.

A escritora Leonor Xavier observou, na sua intervenção, que a mulher como “lema, contexto, razão de ser”, tanto está na Igreja como na sociedade, embora seja “mais” para “as coisas doces” do que duras.

Apresentado diversos dados sobre as presenças desiguais entre homens e mulheres, propôs à Conferência Episcopal Portuguesa que se pronuncie “sobre a violência doméstica” e não forme só na fé.

O escritor António Carlos Cortez realçou, por sua vez, que se ganhará “em humanidade” quando “não for preciso refletir” sobre o tema do encontro.

Professor há 20 anos, no ensino superior e num colégio privado de Lisboa, alertou que “a violência no país é preocupante” e que as raparigas, hoje, “vivem perigosamente o corpo e sexualidade”.

António Carlos Cortez incentivou a Igreja Católica a “apelar e ter voz” para que o Ministério deste setor “não formate os jovens, não tenha obsessão pela educação do sucesso”.

A 15.ª Jornada Nacional da Pastoral da Cultura terminou com a entrega do Prémio Árvore da Vida – Padre Manuel Antunes ao historiador José Mattoso.

CB/OC

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