Cultura: Representar Cristo na Cruz «cria uma inibição muito grande», afirma Siza Vieira (c/fotos)

Irmandade dos Clérigos inaugurou exposição com 45 quadros sobre a paixão desenhados pelo arquiteto

Porto, 06 abr 2022 (Ecclesia) – A Irmandade dos Clérigos inaugurou esta terça-feira uma exposição com 45 desenhos de Álvaro Siza Vieira sobre a Paixão de Cristo, um tema que “cria uma inibição grande” a qualquer artista, afirma o arquiteto.

Em declarações à Agência ECCLESIA, Siza Vieira afirmou que a representação da crucifixão de Jesus “é muito difícil”.

“Qualquer artista sente uma inibição grande com esse tema, porque há milhões, biliões de cruzes maravilhosas ao longo da história. É difícil e a representação é sempre a mesma: os braços abertos e um ar de sofrimento. É muito difícil! Cria uma inibição grande”, afirmou.

Com vários trabalhos de arquitetura que estão relacionados com novas igrejas e os desenhos para essas igrejas, Siza Vieira diz que o tema da Paixão de Cristo “ficou” e é um dos que utiliza nas ocasiões em que desenha “sem saber” o que vai desenhar.

“Ou é mitologia ou são temas religiosos”, afirma o arquiteto, sublinhando que religião “é um tema rico, sobretudo a vida de Cristo”, que teve “uma vida intensíssima”.

Os 45 desenhos estão patentes ao público na Torre dos Clérigos na exposição “Algumas Cenas da Paixão de Cristo”, inaugurada após o diálogo de apresentação do livro “A questão de Deus é o não saber explicar”, de Álvaro Siza e José Tolentino Mendonça.

Na obra, publicada pela “Letras & Coisas”, o arquiteto Siza Vieira responde a questões colocadas pelo cardeal D. José Tolentino Mendonça, que apresenta o livro como o “elogio a possibilidade de conversar”, na circunstância e não se estar na “era de fé homogénea e inquestionável” nem num “tempo em que o ateísmo parecia reclamar uma espécie de superioridade cultural, como no período do iluminismo e na sua longa posteridade”.

“Há por isso um mundo de relações a redescobrir, uma recomposição da cartografia espiritual sobre a qual refletir, também do ponto de vista artístico e estético”, escreve o arquivista e bibliotecário do Vaticano.

A respeito do título a obra, que resulta de uma afirmação de Siza Vieira, o cardeal Tolentino Mendonça afirma que o “não saber explicar Deus” nunca é um “ponto final”.

“O ‘não saber’ é o reservatório inesgotável da dúvida, da curiosidade e da pergunta. E enquanto formos capazes de colocar perguntas – não só aquelas pequenas e imediatas, mas também as grandes e irresolúveis – o nosso caminho sobre a terra projetar-nos-á sempre mais longe”, afirma D. José Tolentino Mendonça.

Questionado pela Agência ECCLESIA sobre a explicação da ideia de Deus, Siza Vieira reafirmou que não sabe explicar, admitindo a “ideia de alguma coisa superior”, que “tem influência”, que vem “da vida de Cristo, dos santos, da espiritualidade”

“Há essa ideia de Deus, mas eu não sei explicar”, sublinhou.

Promovida pela Irmandade dos Clérigos, a exposição dos desenhos de Siza Vieira sobre a Paixão de Cristo oferece aos turistas “um conteúdo em termos religiosos muito importante”, nomeadamente no contexto da Semana Santa e da Páscoa.

Para o presidente da Irmandade dos Clérigos, padre Manuel Fernando, a obra exposta do arquiteto Siza Vieira cria uma “forma de olhar para a paixão” e corresponde a “um processo criativo, de aproximação, de introspeção da mensagem que é importante partilhar.

“Vivendo num mundo de tanta dispersão e tendo pessoas ao nível artístico de referência, é importante perceber o que é que eles pensam e como é que eles leem as letras da paixão e interpretam o fenómeno religioso”, afirmou o padre Manuel Fernando.

A inauguração da exposição foi antecedida de um diálogo entre o arquiteto Siza Vieira e Nuno Higino, editor da obra, moderada por Samuel Silva, e encerrou com palavras de agradecimento de D. Pio Alves, bispo auxiliar do Porto.

PR

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