Saúde: Cuidados paliativos são um direito das pessoas que «não as deixam em sofrimento» (c/vídeo)

Livro «Da ciência, do amor e do valor da vida», de Isabel Galriça Neto, conta histórias de vida e partilha ensinamentos de quem vive e cuida nesta área especializada da Medicina

Lisboa, 05 dez 2022 (Ecclesia) – Isabel Galriça Neto, médica especialista em Cuidados Paliativos e autora do livro «Da ciência, do amor e do valor da vida», disse que capacitar as pessoas dos direitos que têm ajuda-as pedir “maior empenho a quem é responsável”.

“As pessoas têm de ter consciência dos seus direitos. Perante o diagnóstico que ameaça a vida – que não é só o cancro – que pode ser de anos ou meses, têm de ter direito a aceder a cuidados paliativos. São cuidados de saúde que são transformadores do seu sofrimento, não as deixam em sofrimento. Com esta consciência, pode-se ajudar quem é responsável a ter maior empenho, daquele que tem havido”, lamenta a médica em entrevista ao programa ECCLESIA.

A especialista sublinha a necessidade de dar “visibilidade a tantas pessoas que não têm voz”, “aos milhares de portugueses que não têm direito e acesso aos cuidados paliativos”.

“Está nas mãos de todos fazer a nossa parte para que a acessibilidade aos cuidados paliativos seja uma realidade”, admite.

A médica lamenta que “muitos dos doentes que não se curam” tenham sido “deixados para trás, uma vez que a medicina elegeu os doentes que curava”, acrescentando que “há muitos doentes ignorados, que sofrem muito porque não têm acesso a estes cuidados”.

O livro «Da ciência, do amor e do valor da vida», editado recentemente, dirige-se “a todas as pessoas, profissionais e não profissionais” e aborda “dimensões intensas da vida, algumas duras”, contadas a partir de diferentes histórias, em torno dos cuidados paliativos.

Isabel Galriça Neto assume atualmente a direção de uma Unidade de Cuidados Paliativos, na cidade de Lisboa, e dos vários anos como especialista nesta área, aponta a humanidade do seu trabalho diário, que sugere no livro – “ensina-nos a viver melhor”.

“As pessoas arrependem-se de não ter estado mais tempo com a família, arrependem-se de ter trabalhado tanto. As pessoas, expostas a uma situação real de finitude, e a inevitabilidade da morte, reveem a sua vida de outra forma e são capazes de dizer o que é essencial e acessório”, indica.

Isabel Galriça Neto afirma que todos os dias se operam “pequenos milagres”: “Investe-se ativamente no conforto porque deixar a pessoa no sofrimento não é opção e promove-se a dignidade. Há uma busca de sentido e qualidade de vida com bom controlo sintomático”, sublinha.

A especialista acompanhou os últimos meses de vida do bispo auxiliar de Lisboa, D. Daniel Henriques, que seguiu a publicação da obra «Da ciência, do amor e do valor da vida», e que tinha a preocupação de “fazer mais pelos cuidados paliativos”.

“D. Daniel estava ciente da doença que tinha há quatro anos, da sua evolução e da sua irreversibilidade. Não foi no momento de morte que procurou os cuidados paliativos, foi meses antes, no momento em que, em discernimento, considerou necessário”, recorda.

A médica sublinha que “as boas práticas, a ética, as diretivas religiosas, de moral e de direito”, perante uma doença, indicam que os médicos “são obrigados a fazer tudo para a colocar o doente confortável, não a prolongar a sua vida desnecessária, nem a executar a sua morte, encurtando a sua vida.

Isabel Galriça Neto sugere ainda a necessidade de se fazer mais em âmbito comunitário pois diz ser “criminoso” deixar os cuidadores “à deriva”.

“Temos medo de nos abeirar do sofrimento, mas quem assume a vulnerabilidade, assume também a alegria de viver. O desejável é não atravessar o sofrimento sozinho. Os que aceitam o desafio de cuidar, tornam-se melhores pessoas – não é desejar viver o sofrimento, mas este é ocasião de muita grandeza”, sublinha.

PR/LS

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