Covid-19: Vírus separou, temporariamente, três irmãos e a mãe que é enfermeira

Diogo, Inês e Miguel Correia estão a «preparar algumas ideias», para tornar o Dia de Mãe «mais agradável»

Lisboa, 02 mai 2020 (Ecclesia) – Diogo, Inês e Miguel Correia são três irmãos do Porto que agora vivem em casas diferentes e longe da mãe, Alexandra Pinheiro, que é enfermeira e continua a trabalhar na ‘linha da frente’, mas não diretamente com doentes Covid-19.

“Estamos os três divididos, em casa separadas, longe da nossa mãe. Acabamos por ir viver para a casa dos irmãos da minha mãe”, contextualizou Inês Correia, em entrevista à Agência ECCLESIA.

A jovem Inês Correia, de 20 anos, explicou que a decisão dos três irmãos irem viver para casa dos tios foi tomada com a mãe porque Alexandra Pinheiro “continua a trabalhar no hospital” e iam “estar mais expostos ao vírus” se continuassem todos juntos, mas “foram reações bastante diferentes”.

“Na altura, e se calhar não tive consciência suficiente, fiquei muito triste e achei ‘não é necessário nada disto, não vale a pena’. Depois tirei o meu tempo para pensar e percebi que era o mais razoável para a situação”, desenvolveu.

Miguel Correia, com 18 anos de idade, conta que “não foi fácil para nenhum” dos irmãos mas, “apesar de ter ficado um pouco abalado” quem ficou “mais sozinho” foi a mãe, por isso, é “muito mais difícil” para a matriarca que não está com os filhos e vai “todos os dias para o trabalho”.

“A distância neste momento é uma coisa relativa porque estamos todos à distância de um computador mas ainda assim é desconfortável”, acrescentou o jovem que está a viver com uns tios em Lisboa e é o que está mais longe de casa.

Por sua vez, Diogo Correia “já tinha pensado” nesta possibilidade de afastamento para proteção porque “sabia que a mãe não ia parar de trabalhar e mesmo “não estando na linha da frente a trabalhar diretamente com pessoas infetadas com Covid” existe risco de exposição ao novo coronavírus.

“No fundo é ela que está a sofrer mais, chegar a casa depois do trabalho, cansada, arrumar a casa, fazer o jantar e só ter o cão para fazer companhia, sabia que não ia ser fácil”, desenvolveu o irmão mais velho, que tem 21 anos.

Atualmente, as novas tecnologias ajudam a atenuar as saudades da mãe e uns dos outros, através de chamadas e videochamadas, por exemplo, pelo Zoom e pela aplicação WhatsApp.

“Com a família toda. Continuamos a estar presentes apesar de estar mais longe”, assinalou Diogo Correia, dando como exemplo que a mãe “também gosta de mandar fotos” do cão em cima da cama deles.

Já Inês destaca a troca de mensagens e sente que, agora, fazem “mais perguntas durante o dia”, “sempre que a mãe manda uma mensagem a dizer que chegou a casa” perguntam “como é que correu, e o que é que fez”.

“Tentamos colmatar a falha da nossa presença com essas pequenas coisas que acabam por ser não pequenas mas muito grandes e muito importantes. Não é que não me preocupasse com a resposta da minha mãe mas agora preocupo-me ainda mais”, desenvolveu.

“Com algum carinho extra sabendo que temos de estar mais presentes, não estando presentes”, acrescentou Miguel Correia.

O Dia da Mãe, este domingo, vai ser vivido à distância, “bastante diferente” para todos, mas para o irmão mais velho “é capaz de ser mais pesado emocionalmente” para a mãe, por isso, estão “a preparar algumas ideias” para tornar o dia de Alexandra Pinheiro “mais agradável”.

Os três jovens são estudantes universitários – Diogo está a realizar o estágio na área de Marketing Digital; Inês estuda Direito e Miguel está em Ciências da Comunicação – e consideram que o ensino online “exige muito mais” concentração e preferem o sistema presencial.

“Sinto que temos os três muita sorte por conseguirmos continuar a estudar numa situação destas porque há muita gente que não consegue. E nós temos felizmente acesso aos meios necessários. Acima de tudo muito grata por isso”, referiu Inês Correia que, com o irmão Miguel, pertencem ao CREU, o Centro de Reflexão e Encontro Universitário dos Jesuítas no Porto.

SN/CB/OC

 

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