COP27: Fundação Fé e Cooperação espera que «ambição política seja correspondente à dimensão do problema» (c/vídeo)

Ana Patrícia Fonseca afirma que «está tudo em cima da mesa», pedindo «coragem»

Foto: COP27/ONU

Lisboa, 17 nov 2022 (Ecclesia) – A Fundação Fé e Cooperação (FEC), ONGD ligada à Conferência Episcopal Portuguesa, considera que “está tudo em cima da mesa” na COP27, pedindo “coragem” para implementar respostas às alterações climáticas.

“Vivemos muito inquietas com todo o diagnóstico conhecido, mas com uma grande esperança, quase uma esperança cristã, de que algum dia a ambição politica seja correspondente à dimensão do problema”, disse Ana Patrícia Fonseca, em entrevista à Agência ECCLESIA.

A Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, que decorre no Egito, está a ser apontada como a ‘COP da implementação’, e a entrevistada explicou que, na FEC, estes encontros são vividos “entre a inquietação e a esperança, e na esperança está a implementação”.

“Está tudo em cima da mesa, o problema é conhecido, a forma de o resolver também, basta só implementar, é preciso esta coragem. Só basta começar a implementar e a definir, operacionalizar, alguns mecanismos, perdas e danos, de mitigação e apoio à adaptação às alterações climáticas e os mecanismos de financiamento, como é que o dinheiro chega aos países”, desenvolveu a responsável pelos Projetos de Educação para o Desenvolvimento, da ONGD.

Ana Patrícia Fonseca recorda que um dos apelos é que os mecanismos “não sejam feitos em forma de empréstimos”, porque isso aumenta a divida externa dos países, “mas subvenções, apoios, para não tornar ainda mais crítica a situação sobretudo económica dos países”.

A FEC, organização não-governamental para o desenvolvimento, deu eco aos líderes da Igreja em África e organizações católicas presentes na COP27 que apelaram a soluções climáticas para as comunidades mais vulneráveis, após uma reunião na Paróquia da Nossa Senhora da Paz, em Sharm El Sheikh.

“Aquilo que sabemos e a ciência nos diz, é que os países que menos contribuíram são aqueles que mais sofrem as consequências das alterações climáticas, nomeadamente a nível alimentar, porque a produção agrícola não é suficiente, ou por via de cheias ou seca extrema”, desenvolveu Ana Patrícia Fonseca, lembrando também “os refugiados climáticos”, no Programa ECCLESIA, transmitido hoje na RTP2, observando que “está a ser difícil” operacionalizar o mecanismo “poluidor, pagador”.

África, em termos das emissões históricas, “contribui com cerca de 3% das emissões de gazes com efeitos de estufa”, enquanto “os Estados Unidos da América com cerca de 52%, desde há 200 anos”, por isso, o apelo é para que os países que mais poluem, que mais contribuíram para esta situação, “possam apoiar fortemente aqueles que estão em situação de maior fragilidade e quase nada contribuíram para o problema”.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu hoje um “acordo ambicioso e fiável” na Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP27) a favor dos países em desenvolvimento, admitindo “uma quebra de confiança entre Norte e Sul”.

“Estamos num momento crítico nas negociações. O programa da COP27 prevê que encerre dentro de 24 horas e as partes permanecem divididas numa série de questões importantes. Há claramente uma quebra de confiança entre o Norte e o Sul e entre as economias desenvolvidas e emergentes. Não é hora de apontar o dedo. O ‘jogo da culpa’ é uma receita para a destruição mútua garantida”, começou por dizer Guterres.

Nesse sentido, o secretário-geral lançou um apelo a “todas as partes”, para que enfrentem este momento, que classificou como o “maior desafio que a humanidade enfrenta”.

 Ana Patrícia Fonseca é também presidente da Plataforma Portuguesa das ONGD, que está representada no Egipto por José Luís Monteiro, da ‘Oikos – Cooperação e Desenvolvimento’.

A entrevistada destacou também que o Papa Francisco “tem sido uma voz muito forte em todos estes processos”, desde logo com a Encíclica ‘Laudato Si’, publicada em 2015, que “foi o ano da esperança”, com este documento, os acordos da COP de Paris e os novos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, e os contributos que os cidadãos podem dar no seu dia-a-dia mas são amplamente conhecidas – “na forma como consome alimentos, energia, na forma como se transporta, o que veste – mas têm de ser sempre acompanhadas de políticas que as suportem”.

A COP27, que decorre até esta sexta-feira, reúne decisores políticos, académicos e organizações não-governamentais, com o objetivo de travar o aquecimento global do planeta, entre outras metas.

PR/CB/OC

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