Cinema/Cultura: Igreja Católica distinguiu curta-metragem «Russa» no festival IndieLisboa 2018

Júri premiou um «filme fascinante e urgente» realizado no Bairro do Aleixo, Porto

Lisboa, 08 mai 2018 (Ecclesia) – O Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (SNPC), da Igreja Católica em Portugal, atribuiu o ‘Prémio Árvore da Vida’ do festival IndieLisboa 2018 à curta-metragem ‘Russa’, um documentário-ficção de 20 minutos realizado no Bairro do Aleixo, Porto,.

“Não é um simples filme-denúncia: acompanha o fim de semana de liberdade condicional de uma mulher a cumprir uma pena de prisão, narrando o seu reencontro com o vazio deixado pelas torres implodidas, torna-o numa inesquecível reflexão sobre a luta e a paixão pela sobrevivência”, assinalam os jurados, na sua declaração.

O júri, composto pelo padre José Tolentino Mendonça, que o coordenou, Olívia Reis e João Pedro Vala, considera que a curta-metragem de 20 minutos é um “filme fascinante e urgente que ficará a marcar o cinema contemporâneo”.

A “implosão de duas torres de habitação social”, das cinco que existiam em dezembro de 2011 e abril de 2013, “serviu tanto à agenda política como mediática para continuar uma leitura apressada e rasa do real”.

Na perceção do júri, para os realizadores premiados foi o ponto de partida de “um intensíssimo exercício de auscultação daquele que é porventura o custo mais silenciado neste tipo de processos: o custo humano”.

“Aqui a vida pobre não é estetizada, mas os pobres são olhados como protagonistas, na sua sensibilidade e memória, na sua resiliência frágil e desmedida, no desenho sussurrado da sua dor ou no contagiante relato da sua alegria”, desenvolve o júri na declaração, divulga o SNPC .

O Prémio Árvore da Vida, da Igreja Católica em Portugal, foi entregue no sábado ao cineasta português João Salaviza e ao brasileiro Ricardo Alves Júnior.

“Este prémio é de uma grande importância, não pelo filme mas pela luta do Bairro do Aleixo, pela história daquelas pessoas, pela sua resistência. É uma grande felicidade, e este prémio é para o Bairro do Aleixo”, disse o correalizador Ricardo Alves Jr., ao receber a distinção.

O galardão, que compreende também um valor pecuniário de 2 mil euros, foi entregue pelo diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, José Carlos Seabra Pereira.

“Penso que este prémio também confirma a importância que atribuímos à busca de caminhos inovadores na arte cinematográfica como forma particular de procurar acessos mais sedutores a graus superiores da consciência humana”, referiu.

José Carlos Seabra Pereira realçou que “não se trata tanto um prémio concedido numa perspetiva de critérios confessionais” mas é uma aposta num “apoio e incentivo” à procura de “criatividade sem fronteiras, num encontro com os caminhos do humanismo cristão”.

O Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura informa ainda que os jurados do Prémio Árvore da Vida atribuíram uma menção honrosa a ‘Bostofrio, où le ciel rejoint la terre’, onde Paulo Carneiro faz “um impressivo retrato de Portugal”.

“Maravilhoso objeto. Explora as possibilidades que o cinema tem para revelar as identidades submersas, sejam elas singulares ou coletivas”, destacam, a respeito do documentário de 70 minutos, também produzido em 2018.

O padre e poeta José Tolentino Mendonça afirma que é “absolutamente pertinente” a participação da Igreja Católica “num dos festivais mais importantes do país”.

“Uma disponibilidade para conhecer, para fazer diálogo, para estabelecer encontros, para valorizar o caminho que os outros fazem, as perguntas que colocam”, explica.

“Essa deve ser muito a atitude da Igreja, que não é apenas a de transmitir uma mensagem e um ensinamento, mas é também acompanhar, escutar, ver, sublinhar, e essas são dimensões muitos importantes da presença de uma pastoral da cultura”, desenvolveu o coordenador do júri do prémio Árvore da Vida 2018 na 15.ª edição do festival IndieLisboa.

CB/OC

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