Chegou a plenitude dos tempos

Mensagem de Natal do bispo de Viseu, D. António Luciano

Desejo aos cristãos e a todas as pessoas de boa vontade, votos de Santas Festas de Natal e um Feliz Ano Novo de 2023.

Chegou a plenitude dos tempos: “O Verbo fez-se carne e habitou entre nós”. Hoje resplandece sobre nós uma luz. Nasceu o Senhor, nasceu Jesus!

Na noite santíssima de Belém o mundo foi iluminado pelo nascimento do Salvador do mundo.

Vivemos um período da história marcado por diversas crises humanitárias, grandes mudanças culturais e profundas transformações sociais. Continuemos a procurar Jesus no presépio e a contemplar a sua presença na Igreja e no mundo com o olhar da fé e a ternura do coração. Ajudemos a humanidade a descobrir a beleza e a novidade do tempo novo trazido por Deus no Natal do “Menino, que nasceu para nós, do Filho, que nos foi dado” (cf. Is 9,5).

Exultem de alegria no Senhor todos os povos da terra, porque Jesus nasceu na terra para iluminar os caminhos dos homens. “O povo que andava nas trevas, viu uma grande luz” (Is 9,1) e a humanidade inteira encontrou nas encruzilhadas dos caminhos o verdadeiro sentido da vida.

A Igreja convida os cristãos a ser luz no mundo, a celebrar com alegria o Natal de Jesus, de modo a transmitir às novas gerações os verdadeiros valores do Evangelho, da vida, do amor, da justiça e da paz.

A Liturgia canta: nasceu o nosso Salvador, Jesus Cristo Senhor. Este é o grande anúncio das festas de Natal que os cristãos devem celebrar, acolher, viver e testemunhar com a alegria do coração. Ao aproximar-se o Natal do Senhor contemplemos no presépio Jesus, Maria e José e deixemos brilhar a luz de Deus na noite escura da nossa vida.

As circunstâncias negativas do nosso tempo, afetam a pessoa humana na sua totalidade e prejudicam o sonho de uma nova civilização. É preciso construir a esperança depois da pandemia de Covid-19, rezar pelo fim da guerra entre a Ucrânia e a Rússia, acabar com a violência entre os povos, negociar os conflitos armados em vários países, por fim à crise energética, promover uma cultura de trabalho para todos e uma habitação condigna para os sem abrigo. são sinais opostos à verdadeira mensagem natalícia.

As grandes mudanças ecológicas levam à destruição do planeta e da sua riqueza empobrecendo as populações atingidas. O fenómeno das cheias, catástrofes e outras alterações climáticas provocam a miséria e o aumento da fome no mundo. A escassez de alguns medicamentos, a dificuldade na prestação de cuidados de saúde para todos, levam à desumanização da vida, à fragilidade da família, à morte de inocentes e vulneráveis, provocando uma crise humana, social, económica e religiosa sem precedentes na história da humanidade. Torna-se urgente anunciar a “Alegria de Evangelho”, a um mundo que precisa de ser iluminado pela luz, que brilhou na noite do nascimento de Jesus.

Celebrar o Natal em caminho sinodal, convida-nos a fazer a experiência da fé através de um encontro pessoal com a pessoa de Jesus Cristo. A Igreja animada pelo espírito renovador do Concílio Vaticano II afirmou: “Na realidade, o mistério do homem só no mistério do Verbo encarnado se esclarece verdadeiramente (…). Cristo novo Adão, na própria revelação do Mistério do Pai e do seu amor, revela o homem a si mesmo e descobre-lhe a sua sublime vocação” (GS 22). Os cristãos são chamados a celebrar o nascimento de Jesus, o Salvador do mundo, como um acontecimento único e irrepetível na história da humanidade.

O Natal de Jesus revela a cada homem a grandeza da vida humana criada à imagem e semelhança de Deus. A vida humana é um dom de Deus confiado à humanidade, como o maior tesouro para cuidar. A espiritualidade do Natal marcada pela humildade e simplicidade do presépio, exprime-se nos verbos seguintes: acolher, encontrar, construir, amar, aceitar, dialogar, compreender, cuidar, respeitar e defender a vida humana em todas as circunstâncias da sua existência.

Sejamos verdadeiros discípulos missionários, guardiães da vida, construtores da paz e do amor nas famílias, na Igreja e na sociedade. Rezemos com confiança ao “Príncipe da Paz”, para que termine a guerra, desapareça o ódio, extinga-se a violência e acabem-se as injustiças e a maldade no mundo.

Convido os cristãos a construir o verdadeiro presépio da vossa vida no coração, onde Jesus deseja nascer e habitar para sempre. Convertidos ao amor de Jesus, deixemos transformar pelos gestos que revelam amizade e compaixão. Empenhemo-nos na construção de um mundo novo, da verdadeira civilização do amor. Digamos não à cultura de descarte, de marginalização e morte presente na nossa sociedade. Diante de situações dramáticas e destruidoras da vida como o aborto, o infanticídio, a tortura, a guerra, a violência, a fome, a distanásia, a eutanásia, os abusos sexuais de menores e vulneráveis sejamos construtores de uma nova humanidade.

O cristão é chamado a cuidar da vida humana, a ser sentinela vigilante, junto de quem sofre, sem nunca cair na tentação de oferecer diretamente a morte a alguém.

Sonhemos para que o Natal cristão aconteça no mundo e transforme as famílias em comunidades de vida, de fé e de amor. O anúncio do Evangelho desafia a Igreja e o mundo a encontrar o verdadeiro espírito natalício, que não se identifica com a indiferença, a secularização e o consumismo.

Sejamos protagonistas do verdadeiro Natal da vida, do amor, do cuidado, do perdão e da esperança messiânica. Desejo a todas as pessoas, às famílias, às crianças, aos adolescentes, aos jovens, aos idosos, aos imigrantes, aos pobres, aos doentes, aos deslocados e refugiados: Santas Festas de um Santo Natal de Jesus e um Ano Novo de 2023 abençoado. Neste Ano Pastoral, “Animados pelo Espírito Santo”, caminhemos com os jovens da nossa Diocese até Lisboa para participarmos com entusiasmo e alegria na Jornada Mundial da Juventude.

Com verdadeiro espírito natalício, imploro de Jesus, Maria e José as maiores bênçãos de Deus para todos.

Viseu, 18 de dezembro de 2022

† António Luciano dos Santos Costa, Bispo de Viseu

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