Centenário da República: D. António Barroso, um bispo mal-amado

Bispo do Porto enfrentou Afonso Costa num momento em que as relações entre Governo e Igreja mudaram radicalmente

D. António Barroso (1854-1918), Bispo do Porto aquando da implantação da República, em 1910, ficou na história pelas suas relações “difíceis e conturbadas” com Afonso Costa, ministro da Justiça, que apressaram a separação Igreja-Estado.

Amadeu Gomes de Araújo, um dos autores da obra «O Réu da República», com a chancela da Aletheia Editores, lembra que o prelado foi “julgado duas vezes – uma em Lisboa e outra no Porto – e expulso da diocese”.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, o autor recorda os episódios que envolveram a Pastoral Colectiva dos Bispos (1911), proibida pelo regime, mas que acabou por ser lida nas Missas.

Responsabilizando D. António Barroso, “Afonso Costa, chama-o a Lisboa onde lhe fazem um julgamento apressado”.

“Foi apedrejado e apupado na Rua do Ouro. O diploma que o expulsa é datado do dia do julgamento e assinado por ministros que não estavam presentes”, constata Gomes de Araújo.

O bispo do Porto, D. António Barroso, acaba por ser destituído das suas funções e a diocese considerada vaga como se por falecimento se tratasse, pelo ministro da Justiça e dos Cultos.

A questão é também abordada na edição especial do semanário Agência ECCLESIA, de 5 de Outubro, pelo historiador António Matos Ferreira.

O director-adjunto do Centro de Estudos de História Religiosa da UCP acredita que, embora Afonso Costa “quisesse por esta actuação demonstrar a sua autoridade”, este acontecimento”marcou um passo fundamental no exercício e na autonomia da autoridade episcopal”.

Os Bispos, escreve, “assumiram iniciativas decorrentes do seu múnus saindo da tutela governativa, precipitando a promulgação do Decreto de Lei sobre a Separação do Estado das Igrejas, impondo progressivamente uma resistência e, posteriormente, uma acalmação que tornaria mais patente a liberdade da Igreja Católica”.

Em 1914, um grupo de deputados manifesta-se contra a «injustiça ao bispo do Porto», podendo D. António Barroso regressar à Diocese.

António Barroso nasceu em Remelhe, Barcelos, em 5 de Novembro de 1854. Formou-se no Colégio das Missões Ultramarinas de Cernache do Bonjardim, de 1873 a 1879.

Ordenado sacerdote missionário em 20 de Setembro de 1879 , foi missionário no Congo, Angola, de 1880 a 1891. Destacou-se como Bispo Missionário em Moçambique de 1891 a 1897 e em Meliapor, na Índia, de 1897 a 1899.

Foi Bispo do Porto de 1899 a 1918, falecendo a 31 de Agosto de 1918. A sua causa de beatificação decorre no Vaticano.

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